Arte e Cultura

“BIP-BIP”: UMA TENENTE E A BELEZA DO PODER FEMININO!

(De como uma tragédia foi evitada e um compromisso resgatado)

Márcio Amaral- vice-diretor IPUB

……………….

Em meio ao imenso e generalizado LUTO POR MARIELLE quase tivemos que chorar outras vítimas…e por tiros no ambiente mais pacífico que alguém pode imaginar, pois organizado e coordenado pelo mais pacífico dos homens: Alfredinho! Isso é…tirando alguns dos seus gritos e broncas eventuais. No domingo seguinte ao atentado que matou a vereadora do PSOL, quando alguém, em meio ao samba enlutado, pediu que todos fizessem um minuto de silêncio por Marielle, um policial da PRF desrespeitou as demais pessoas presentes ao gritar coisas do gênero: “Ninguém faz minuto de silêncio pelos 200 policiais mortos etc…” e outras preciosidades do gênero. Todas tão repetitivas e sem imaginação. Sim! Todos lamentamos profundamente a morte dos policias, mas gostaríamos muito que eles respeitassem as leis. As muito pacíficas pessoas à volta se ofenderam e houve um “empurra-empurra” que foi referido pelo próprio como uma agressão. Felizmente ele mesmo tivera um momento de lucidez ao deixar em casa sua arma. Com quase toda a certeza, haveria uma tragédia ali mesmo e naquele momento. Dali ele saiu e retornou logo depois, dessa vez armado e exibindo sua arma.

…………

PRISÃO EM FLAGRANTE….? E O DELITO?

…………….

“Juca foi autuado em flagrante/Como meliante/Pois cantava bem diante da janela de Maria…“… JÁ JUCÁ!!!

………………

Nesse retorno, o que se apresentava com policial dizia estar prendendo o dono do bar “EM FLAGRANTE”, mas se esqueceu do complemento obrigatório da sentença: “em flagrante…DELITO“…ou será que, a partir da tal Lei ANTITERRORISMO isso nem é mais necessário? E qual seria, então o…delito do Sr Alfredinho? Ser dono de um bar onde teria acontecido alguma coisa que alguém teria julgado um…delito! É impressionante como, em um ESTADO POLICIAL—iniciado durante o gov Dilma, diga-se de passagem e a partir da edição daquela malfadada lei—até os mais comezinhos conceitos se perdem. Posso até imaginar o policial ouvindo de seus superiores em reunião saudando os “novos dispositivos” dando-lhes quase imunidade total para o cometimento dos maiores absurdos: “A partir de agora…se acontecer alguma coisa que vocês estranharem (em um estabelecimento qualquer)…PRENDAM O DONO! Vocês podem não saber porque o estão prendendo, mas ele certamente saberá porque está sendo preso! E BASTA! É suficiente para que consigamos o que queremos: todos os empresários, muito preocupados com os negócios, haverão de impedir qualquer situação da qual possa resultar algum risco de balbúrdia ou confusão”. É assim que se instala o ESTADO POLICIAL. Depois de alguns anos, ninguém nem mais repara; estarão todos enquadradinhos!

……………………

RESGATANDO COMPROMISSOS? QUAIS?

………..

Quando os versos (e a melodia) abaixo me ocorreram, fiquei preocupado exatamente com aquele verso que hoje mais aprecio; o único que traz algum mistério. Que “compromisso” seria esse, então? O resgate da dimensão humana na atividade policial*. E por que fiquei preocupado? Afinal, eu também já cantara: “Não acabou…Tem que acabar…Eu quero o fim da polícia militar”! E então uma pergunta se tornou obrigatória: seria possível algo de parecido com a dimensão humana em uma atividade que visa oprimir as pessoas mais simples dos povos em geral e preservar privilégios de certas classes? Nunca olho para as pessoas como se fossem máquinas desumanas, embora alguns tentem se tornar uma. A verdade é que, mesmo na própria PM, esses (os que tentam se tornar máquinas desumanas) acabam pagando um preço terrível nas suas próprias vidas, quando não com a própria vida. Então, e mesmo que certas condutas nos repugnem, precisamos evitar o preconceito que leva a considerar os fardados como inimigos. Mas havia muitos outros compromissos sendo resgatados por aquela TENENTE: da afirmação do poder feminino; da mulher negra e vinda de uma periferia para com a memória de outra mulher de origem semelhante; dos sonhos com que ela mesma procurou, foi aprovada, avançou na PM, foi saudada e respeitada pela sua família e a comunidade onde cresceu…desde menina!

MEUS AMIGOS…MEUS INIMIGOS…fora da poesia não há caminho ou solução!

A TENENTE E O PODER FEMININO

………….

 

Foi uma Tenente quem enquadrou o valentão
Que invadiu o “BIP-BIP” brandindo uma arma na mão (!)
Sabe que todo “bom machão” tem caprichos de menino
E com que persuasão se impôs o poder feminino!

Pelo visto ela faz bem a quem trabalha do seu lado (Pois)

A conduta foi também de sargentos, cabos e soldados

…………
Sem sequer erguer a voz e
 nunca perdendo a calma…

Que bem fez a todos nós! Como elevou a nossa alma!

Bastou essa bela ação prá resgatar o compromisso

Uma luz na escuridão…AAAAAAAAAH!

O mundo precisa tanto disso!
Em pleno “Luto Marielle” q
ue tomou todos continentes

Que outras forças se revelem (rebelem) prá salvar a nossa gente

………………………..

*Os grandes eventos esportivos têm deixado muitos e péssimos legados por aí, especialmente nos ditos países emergentes. A África do Sul, que extinguira uma espécie de PM quando da democratização, fez com que ela retornasse para “garantia dos jogos”. Está lá e sua função de repressão ao próprio povo, como aqui, é óbvia. Pode haver muita grandeza na atividade policial, mas não com esse espírito. Os “JOGOS” já foram: uma grande possibilidade de congraçamento; propaganda de regimes (nazista e outros); instrumento de poder ideológico e agora são instrumentos daquilo que ficou conhecido por “INTELIGÊNCIA” a serviço dos piores interesses.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *