Arte e Cultura

C. MÉDIA: DE CHAUÍ A JESSÉ, PT DANDO TIRO NO PÉ

(As “Viúvas da Revolução”: o povo é o ópio dos intelectuais)

Márcio Amaral

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NOTA: enfrentar profissionais de uma certa área, especialmente no núcleo do seu próprio campo de estudos, é sempre perigoso. Por isso, tenho relutado a fazê-lo há anos. Como, porém, é tema que atinge a todos nós e aqueles profissionais veem cometendo, a meu ver, graves escorregões por conta da incapacidade de separar os estudos em relação aos seus próprios ódios de classe, resolvi fazê-lo. Como podem ver na longa citação de texto de FHC, adular a Classe Média (CM) é o seu esporte favorito, enquanto os sociólogos ditos de esquerda facilitam as coisas para  inimigo generalizando acusações a essa mesma CM. Vejam FHC se referindo à CM como uma espécie de “adestradora” do “bárbaro povão” que teria ascendido economicamente durante o período LULA: (O GLOBO 01/7/2012: “As CMs na Berlinda“): “…É provável que se juntem nas formas de comportamento e valores às CMs preexistentes. ..Só a exemplaridade e a repetição enaltecida…vão..incutindo na mentalidade geral as formas que definem o que é bom e o que é ruim…A CM será capaz de contagiar com seus valores as camadas emergentes..”. Faltou dizer: a porção da CM já “adestrada” em função dos interesses do grande capital. Ele deve julgar tratar-se de uma “horda primitiva”, recém saída da barbárie sub humana e necessitando de tutela. E dizer que é nos grotões mais fundos que se originam quase TODOS os movimentos CULTURAIS que vingam verdadeiramente! Mais um pouco e FHC faria coro com Pelé no que diz respeito ao “saber votar” e ao direito de voto.

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Quem não viu (em vídeo) a grotesca performance de M. Chauí atacando a CM e seus componentes (em geral) de todas as deformações possíveis? “Ela é uma ABOMINAÇÃO, etc.” (ver o “aperitivo do xarope”acima)! E como os grupos de direita se aproveitaram daquele vídeo! Auditório cheio e com a presença dos próceres do PT…algumas vezes ao fundo e outras em primeiro plano, LULA com um sorriso meio constrangido…uma plateia—composta quase que exclusivamente de pessoas oriundas da CM, diga-se de passagem—sorrindo como a dizer: “Isso não tem nada a ver comigo!“. Aquela que deveria ser vista apenas como uma questão de números: a classificação das pessoas em classes sociais dependendo dos rendimentos e patrimônio, tornou-se um verdadeiro XINGAMENTO. Ser da CM, para as esquerdas, passou a soar como ser mesquinho, egoísta, elitista etc. Tudo parece se dar como se, ao entrar nos movs populares (ou de esquerda), as pessoas se “libertassem das classes” ou passassem a pairar ACIMA delas. Se o problema fosse somente esse, seria apenas engraçado, mas quantas consequências DESASTROSAS derivam dessa maneira de abordar a questão das classes sociais! E como os conservadores gostaram de ouvira as “esquerdas” patrocinando aquele discurso!

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E JESSÉ SOUZA ENTROU PELO MESMO CAMINHO

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Disse ele em entrevista à C. CAPITAL: “A CM é feita de imbecil”. Quanta ambiguidade em uma só sentença! Se tivesse falado “foi feita”*, estaria sugerindo ter ela sido enganada. Como está, o que vai dito é que o “material” de que é constituída era já podre na origem ou se perdeu pelo meio do caminho. De qualquer maneira a CM está sendo tratada como um caso perdido. E então veio uma conclusão ainda mais desastrosa: “Não existe alternativa à SOBERANIA POPULAR!“. Ele devia saber que SOBERANIA é algo ligado às NAÇÕES. Com essas palavras, ele parece estar vivendo os dramas do pós Revolução Francesa. Essa era a questão dos movimentos sociais da época. A Realeza EUROPEIA se considerava acima das nações e isso “autorizaria” as suas intervenções para “defender” qualquer outro trono ameaçado pelo “populacho” de seus países. Era a luta entre o “SANGUE AZUL vs VERMELHO”. Por isso, o conceito moderno de NAÇÃO ali se iniciou (Ver E. Hobsbawn, “A Era das Revoluções”). E assim, LUIZ XVI perdeu a cabeça (ou a cabeça perdeu o seu corpo como quiserem): foi acusado de traição por tentar se ligar aos exércitos que cercavam a França. Em vez de voltar a sentar no trono foi obrigado a colocar o pescoço na guilhotina. Ademais, o que quer dizer “POPULAR” nos dias que correm? Algo ligado ao gosto e divulgação midiática? Afinal, somos TODOS ou não pessoas do POVO? Por isso, quando vou me referir a essa situação, digo simplesmente “A GENTE SIMPLES DO POVO”.

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VIÚVAS DA REVOLUÇÃO? CHORANDO UM SONHO PERDIDO?

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E qual a origem desse ódio à CM? Eu tenho uma hipótese: desde o seu surgimento e importância crescente, nunca mais houve REVOLUÇÕES. Aliás, TODAS as grandes revoluções já ocorridas se deram em países nos quais praticamente não havia uma CM de peso político, econômico e…IDEOLÓGICO (sempre oscilando como em uma gangorra, é claro,de acordo com seus interesses…mesquinhos, admitamos). Aqueles sociólogos parecem inconformados com essas transformações. Sim! Na primeira metade do séc XIX as classes eram divididas em PROPRIETÁRIOS ‘vs’ OS QUE NADA TINHAM, além da sua força de trabalho para vender. Essa a razão da bela, mas superada sentença do “MANIFESTO” dirigida aos proletários: “…A única coisa que têm a perder são os seus grilhões“. Hoje não é mais assim. Talvez devessem também se dar conta de uma outra sentença, de um outro revolucionário: “Um povo só faz Revolução quando são suas próprias condições para a vida estão ameaçadas” (Lenine). Quem leu ISAAC BABEL, “A Cavalaria Vermelha”(sobre as guerras civis entre 1920/24 na Rússia) sabe muito bem por quê! Aquele judeu, que lutou nos diversos “fronts” em defesa da Revolução Russa, descreveu como ninguém todos os horrores que costumam estar associados a uma revolução daquela magnitude. Não costuma ser uma ESCOLHA, e são as autoridades que, com sua incompetência e arbitrariedade, empurram um povo nessa direção.

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CONFUNDINDO C. MÉDIA COM PEQUENA BURGUESIA

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A rigor, a batalha ideológica que se trava (nos dias que correm) dá-se em duas frentes: 1- conquistar (antes há que aprender com eles) as pessoas mais pobres** (tão influenciáveis pelas igrejas de inspiração NORTE AMERICANA); 2- atingir partes cada vez mais significativas da CM. Para isso, porém, há que saber bem com o que se está lidando. Se há algo que destrói TODOS os conceitos é sua aplicação não criteriosa, especialmente por parte dos profissionais da área. Eles deveriam ser os maiores responsáveis por afinar a linguagem e usar bem os seus conceitos. Da “média de café” até a IDADE MÉDIA, (deixando de lado a ARITMÉTICA) o termo “MÉDIO”, por definição, implica INTERMEDIÁRIO (entre extremos, é claro): simplesmente ASSIM, como diz a garotada. Assim…de um lado temos os proletários e, de outro os DETENTORES DO CAPITAL. Em meio a eles…a CM…NÓS MESMOS. Dessa forma, sua delimitação implicaria principalmente: rendimentos e patrimônio. Na hora da crítica aos seus componentes e de maneira a não cometer graves injustiças, deve-se subdividir esse “objeto de estudos”, de maneira a evitar generalizações. Para isso, há que aplicar critérios IDEOLÓGICOS em vez de numéricos. Afinal, aqueles dois são economistas ou sociólogos?

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Outra coisa muito importante, e associada ao RIGOR e à disciplina, é que não se deve confundir o TODO com as PARTES que o compõem. Assim, a CM seria constituída, grosso modo e do ponto de vista IDEOLÓGICO, por 3 estamentos não muito bem delimitados: 1- os PEQUENO BURGUESES, aqueles que incorporaram os valores da classe dominante e fazem de tudo para dela fazer parte, especialmente se envolvendo em todo tipo de CORRUPÇÃO. São os saudosistas do “sonho americano” versão tupiniquim. Originalmente,  eram assim denominados principalmente os pequenos lojistas, artesãos, donos de oficina e outros, mas é melhor aplicar um critério baseado PRINCIPALMENTE em suas afinidades na luta de classes. Modernamente, estariam ali também incluídos aqueles que adoram o tal “EMPREENDEDORISMO”***e cujas economias, na maior parte das vezes, vão parar no esgoto comum: OS BANCOS; 2- um grupo enorme de pessoas um tanto perdidas do ponto de vista dessas afinidades; que fizeram parte dos movimentos ultra manipulados pela G. Mídia e que ainda se ilude com “MORO e CIA”. SIM, esses são os mais sensíveis às manipulações. Com a piora, porém: da exploração, da destruição da natureza e com a concentração de renda crescente, tendem a se aproximar das lutas sociais…sempre com um pé atrás…é verdade; 3- os membros dos inúmeros (e crescentes) movs sociais ligados ao interesse público. Mas quantos narcisistas e “alpinistas sociais” também usam esse matiz socialista apenas para ascender socialmente! Por fim,  há que não esquecer do “LUMPENPLORETARIAT”:  esse rebotalho de todas as classes (de novo, há que deixar de lado, nessa avaliação, as origens de classe, valorizando as identificações); uma “ralé” que sempre se associa ao que há de mais inconsequente em todas as disputas sociais. O movimento nazista representou uma espécie de “apoteose” dessa gente. Hitler tinha fortes razões para desprezar todos os que o cercavam. Seu agudo senso para conhecer e manipular pessoas, além de um certo auto conhecimento, apontavam o quanto valiam.
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*Em outras publicações, há um complemento“…é feita de imbecil pela elite”, etc. Muda um pouco o sentido, mas o espírito é o mesmo.

**Inventaram até uma nova linguagem para lidar com eles. Não falam mais em EMPREGADO, trabalhador etc., mas em “COLABORADORES”. Seriam os “colaboracionistas” só que no sentido da traição de classe. Outra expressão típica é: “Venha fazer parte do nosso TIME!”. Alguns até acreditam e quando se decepcionam, fazem “rolezinhos”.

***Eis o maior instrumento ideológico do grande capital: 1-mobiliza em seu favor alguns poucos (articulados e falantes) que conseguirão ascender; 2- mantém um número muito maior (de pessoas mais falantes ainda) na falsa esperança; 3-ajuda a abocanhar as economias desses tolos que mordem a isca; 4-com o discurso: “Seu sucesso SÓ depende de VOCÊ mesmo” afasta as pessoas mais capazes (admitamos, ainda que momentaneamente) das suas origens e “compromissos de classe”, humilhando os que ficaram no “meio do caminho”, pois seu fracasso (sempre individual e egoísta) somente dependeria dele mesmo…INDIVIDUALMENTE. Eis a versão moderna e TEORIZADA do “sonho americano” que até por lá já entrou em colapso.

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