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Nota de falecimento – Prof. Eustachio Portella

Eustachio Portella, Professor Emérito da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ainda em tenra idade, demonstrou inclinação pelo saber e o bem comum. Nascido no Piauí, formou-se em medicina e seguiu uma trajetória muito peculiar no campo da saúde mental. Psiquiatra com sólida formação em psicopatologia, destacou-se por notável habilidade clínica. Quem conheceu algum de seus pacientes não pôde deixar de se encantar por sua capacidade extrema de ajudar, compreender e tratar, estabelecendo parcerias transformadoras. Nosso Mestre percorreu diferentes experiências institucionais que marcaram o que havia de mais avançado em cada momento. Em muitas ocasiões, o Professor compartilhava de forma vívida suas vastas e diferentes experiências pessoais e profissionais. Relembrando, por exemplo, as Comunidades Terapêuticas, comentou que elas falharam paradoxalmente pelo próprio sucesso. Elas se constituíram como um mundo melhor que a vida real, lá fora. Como pensador, conseguiu integrar conhecimentos filosóficos profundos, acumulados ao longo da vida, com a Psicanálise. Essa surpreendente capacidade de transformação crítica possibilitou que a diversidade de facetas do conhecimento fossem articuladas. O brilho intelectual aliado à simplicidade, marcaram a trajetória que rapidamente se destacou no cenário acadêmico. Como Professor Titular e Diretor do IPUB, a Instituição alcançou uma dimensão extraordinária,  atraindo estudantes  e profissionais de todo país. Foi como Professor que manifestou seu mais impressionante Dom. Todos nós participávamos de suas aulas com verdadeiro encantamento. Essa capacidade de estabelecer contato com alunos é uma experiência inesquecível. Não era apenas uma questão de oratória, mas de vivenciar junto os conhecimentos. Sempre pensávamos que a aula havia sido efêmera, queríamos que se prolongasse mais e mais. Certa vez, questionado sobre isso, o Professor respondeu sorrindo: sempre é melhor acharem muito curta do que muito longa. Há mais de cinqüenta anos, seus alunos gravaram as aulas do Curso de Psicopatologia, transcreveram e transformaram em apostila. Não conseguiram que o Professor fizesse uma revisão e registraram essa observação: sem a revisão do Professor. Essa jóia que circulava avidamente entre alunos, ainda está em nossa biblioteca, protegida do transcurso do tempo. Em 2017/18 visitamos o Professor em sua casa, lemos juntos e debatemos intensamente cada parágrafo. A revisão finalmente aconteceu! Nossa idéia era transformar o material em livro. Extraordinário que o principal interesse que iluminava seu olhar eram os alunos que poderiam receber esses  conhecimentos e praticar, com maior habilidade, o cuidado. Outra característica impressionante era o sentimento familiar que unia a vida pessoal e institucional. Nossa vivência era de pertencimento. Ao chegar de uma viagem, Centro de Estudos lotado, refazíamos a viagem. Incrível lembrar Portella e Clara Helena mostrando as melhores fotos, relatando juntos momentos inesquecíveis. Eram aventuras culturais. Quem poderia esquecer da visita ao Egito, as Pirâmides, as reflexões etnológicas? Essa conjunção entre espaço público e pessoal era encantadora. Adorávamos estar no IPUB todos os dias, inclusive aos sábados, aprendendo a cuidar. Esse sentimento sagrado de familiaridade institucional marcou a formação de tantas gerações. Foram sementes que estão em todos nós, mas não apenas em nós. Isso porque continuamos essa obra, continuamos transmitindo saber, continuamos com a alegria de ensinar e aprender. Após uma vida longa, nosso Mestre nos deixa com lágrimas e saudades. Achamos que foi curta. Obrigado Professor, gratidão é nossa palavra.

1 Comment

  1. Enquanto fui aluno no IPUB, um dia.trouxe uma pequena muda de cajueiro, plantada de uma semente, para solicitar sua permissão para que a plantasse nos jardins da instituição. O professor ficou alegre e pediu que lhe desse a muda.
    Tempos depois perguntei por ela e ele me disse que a levara para Paquetá, onde crescera vigorosa.
    Espero que a planta continue generosamente a dar seus frutos para este mundo, assim como o fez o saudoso professor.

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