
Foto: Fernando Maia
O Coletivo Carnavalesco Tá Pirando, Pirado, Pirou! é um bloco de carnaval formado por usuários, familiares e profissionais da rede pública de saúde mental da cidade do Rio de Janeiro. Este ano, comemora 20 anos de folia e resistência. O enredo de 2025 homenageou o poeta e dramaturgo Qorpo-Santo, artista visionário que antecipou os pilares fundamentais da luta antimanicomial.

Foto: Pâmela Perez

Segundo o psicanalista, cofundador e coordenador do Tá Pirando, Pirado, Pirou!, Alexandre Wanderley, “o resgate da memória do Qorpo-Santo já tinha sido sugerido por Neli Almeida há cerca de sete ou oito anos, mas não foi o enredo vencedor. Este ano, Pedro Gabriel fez a sugestão e o enredo foi amplamente apoiado pela comunidade já no primeiro turno de nossa votação, realizado no CAPS Franco Basaglia; e teve, também, uma votação muito expressiva no segundo turno da votação. Foi inconteste esse desejo do coletivo de conhecer a vida e obra desse personagem tão interessante, prestar uma homenagem e resgatar a memória deste artista”.
O Processo criativo
A pesquisa para desenvolvimento do enredo deste ano faz parte de um processo criativo iniciado em outubro de 2024, quando foi realizada uma série de palestras abordando a vida, obra e influência de Qorpo-Santo na cena teatral, literatura e na saúde mental brasileira.

Reprodução/Instagram
No dia 9 de outubro, a psiquiatra e cineasta, Raquel Fernandes, iniciou o ciclo de palestras apresentando “Fragmentos de um Qorpo-Santo”, no auditório do Instituto Philippe Pinel. No dia 23, as psicólogas, Carmem Rodrigues e Lucrécia Corbella trouxeram “As histórias do Teatro Qorpo-Santo e da trupe teatral Andarilhos Mágicos”, coletivo da saúde mental dirigido por Rafaelle Infante na década de 1990, no auditório Icema, no IPUB.
No mês de novembro, o coletivo promoveu ainda o Seminário Carnavalesco Tá Pirando, no Fórum de Ciência e Cultura da UFRJ. “A história de Qorpo-Santo e seu impacto na saúde mental coletiva no Rio Grande do Sul” foi apresentada pela coordenadora da Parada Gaúcha do Orgulho Louco, Judete Ferrari. A atriz e arteterapeuta, Adriana Rolin, apresentou o “Teatro de Artaud e mitologia Yorubá: grupo Os inumeráveis no Museu de Imagens do Inconsciente”.
O cantor e ator Roni Valk representou “Qorpo-Santo ou o Qoração do Mundo”, texto narrado extraído da obra de Qorpo Santo. Neli de Almeida e Pedro Gabriel Delgado falaram sobre “Saúde mental e justiça: a saga de Qorpo-Santo”. O encerramento do Seminário contou com a participação de duas especialistas em Qorpo-Santo: as professoras Carmen Gadelha e Denise Espírito Santo. Carmem Gadelha abordou a influência de Qorpo-Santo no teatro do Absurdo com a palestra “Qorpo-Santo, precursor do Teatro do Absurdo?”. Denise Espírito Santo destacou a influência do poeta na literatura brasileira com a palestra “Escritos de uma pulga, de como um Qorpo-Santo se infiltrou na literatura brasileira”.
A escolha do samba, no dia 2 de fevereiro, no Rio Scenarium, foi disputada. Foram 16 sambas concorrentes.
“São 20 anos de Tá Pirando na avenida a desfilar. Com a força de um grito que não pode se calar. São 20 anos de Tá Pirando vamos celebrar. A mente livre, o Qorpo Santo a iluminar.”
Com este refrão, a composição vencedora foi “O Qorpo é Santo! 20 anos de Tá Pirando, vamos celebrar!” dos autores Ana Maria Quintela, Diogo Tapler, Flávia Cristina, Felipe Gonçalves e Sebastião Junior.

Para Alexandre Wanderley, “é muito marcante o enfrentamento de Qorpo-Santo ao poder psiquiátrico e ao poder judiciário. Mesmo tendo sido considerado apto a gerir sua própria vida, após passar um período internado no Hospital de Pedro II e ter sido diagnosticado como monomaníaco com ímpeto irrefreável de escrever, sua interdição não foi suspensa pelo juiz de Porto Alegre. Qorpo-Santo viveu muitas dificuldades, mas nem por isso deixou de seguir querendo amplificar a própria voz contra o silenciamento do poder psiquiátrico e judiciário imposto a ele”.

Foto: Oscar Liberal.

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O Desfile
O Coletivo Tá Pirando, Pirado, Pirou! manteve a tradição e foi um dos blocos que abriram o pré carnaval, no dia 23 de fevereiro, na Avenida Pasteur. O desfile reuniu cerca de dois mil foliões na celebração dos seus 20 anos. O bloco contou com a participação da bateria da Portela durante todo trajeto até a Praia Vermelha e com os blocos Céu na Terra e Vem Cá Minha Flor no cortejo final até as areias da praia.

Neto, Flávia Cristina, uma das autoras do samba vencedor.
Foto: Pâmela Perez

Foto: Pâmela Perez