Criada em setembro de 2024 pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ, com a colaboração do Instituto de Psicologia e dos serviços de saúde psicossociais, localizados no campus Praia Vermelha, a Tenda Popular de Educação Paulo Freire é uma experiência do cuidar em liberdade, realizada a partir da construção de um projeto de extensão, coordenado pelo professor e psiquiatra Fernando Sobhie.
A Tenda Paulo Freire surgiu como uma forma de lidar com as tensões que se instauraram no campus. A partir dessa iniciativa, foi possível compartilhar conhecimento acerca da história do campus, da reforma psiquiátrica e sobre o que são os Centros de Atenção Psicossocial, com o intuito de diminuir os estigmas que ainda existem em relação à loucura.
Através da criação de espaços de encontro e troca de saberes entre as pessoas que circulam no campus da Praia Vermelha, o projeto, que terá continuidade em 2025, possibilitou o convívio com as diferenças.

Segundo Fernando Sobhie, “ a Subprefeitura do campus e a Diseg, que é o sistema de segurança, nos apontou que existiam diversas intercorrências de pacientes psiquiátricos no campus da Praia Vermelha. Alguns relatos de violência com alguns estudantes. A partir daí a proposta que eles faziam era que se fechasse o acesso desses usuários de saúde mental pelo campus da Praia Vermelha e que eles entrassem por um acesso individual. Nós da saúde mental entendemos que isso é restringir a liberdade de uma certa maneira, um retrocesso na questão da cidadania dos usuários da saúde mental. Por conta disso fizemos o projeto da Tenda, que é exatamente um lugar onde a gente vai trabalhar essas mediações de conflito e ao mesmo tempo é um projeto sócio-cultural em que se trabalha todas as questões de estigma, de preconceito, de aceitação, de necessidade de tolerância e principalmente de convivência.”
Foram realizadas rodas de conversa e confecção de cartazes com usuários da rede e universitários do campus. Além disso, o projeto desenvolveu parcerias com outros projetos como,Centro de Convivência e Cultura – CECCON, o Núcleo de Intervenção Cultural (NIC/IMPP) e o CAPS Franco Basaglia; e também para os coletivos de alunos, a fim de aproximar os alunos das pessoas que frequentam os serviços de saúde mental da universidade.

Para a extensionista Andressa Oliveira, participar do projeto foi uma experiência enriquecedora: “foi uma oportunidade de exercer uma escuta, de estar mais em contato com os usuários ali dos serviços. Mas o ponto alto foi ter uma noção da visão de fora, da visão simples das pessoas. Isso destravou uma chave na cabeça do quanto ainda há muito a lutar nessa questão antimanicomial e do cuidado em liberdade. As pessoas não têm muita noção do que se passa no cenário da saúde mental”.