Temas e Controvérsias

A R.MÉDICA SOB ATAQUE CERRADO DO MS

Residência versus "Casa de Doce da Bruxa" (8000R$: bolsa RMF)

RM está sob ataque cerrado do M. da Saúde. A Sec. de Saúde do município do RJ, sob os auspícios daquele Ministério, fez anunciar vagas para Resid. em Medic. de Família e Comunidade com rendimentos de até 8000,00 R$ mensais. Considerando que os MRs, para conseguir um reajuste em sua bolsa (menos de 2300,00) tiveram que manter uma longa greve, fica óbvio o desinvestimento governamental nesse tipo de pós-graduação e treinamento em serviço. Nunca nos opusemos ao investimento na interiorização da medicina e nem ao estímulo à medicina da família. Tudo, entretanto, vem se passando como se, para a afirmação da RMF, fosse necessário destruir a RM, além de humilhar os médicos.

Depois de algumas escaramuças, e do ataque frontal àquele que deveria ser o principal baluarte da RM (a CNRM), qual não deve ter sido a surpresa no MS com a firmeza das fundações e a estrutura nacional da RM?! Elas não se abalaram! Nossos adversários ainda têm armas nessa luta. Oferecer rendimentos em total desacordo com o mercado de trabalho dos médicos—até 4 vezes mais do que o salário dos seus preceptores: os médicos estatutários do RJ—há de ser uma última cartada. O problema, é que criaram uma situação de difícil sustentação.

Raramente uma atitude artificial e deformada vem sozinha. Estão “metendo os pés pelas mãos”, provavelmente assustados com a pouca procura por seu projeto. Só isso pode explicar aquela bolsa nos valores anunciados. Os médicos jovens não são tolos: SÓ QUEM NÃO TEM MUITA PERSPECTIVA DE FUTURO HAVERÁ DE TROCAR UMA FORMAÇÃO MUITO QUALIFICADA POR UMA BOLSA ANUNCIADA EM UM CADERNO DE EMPREGO. Quanto simbolismo! Não cairão na armadilha. Há que denunciar ainda o mau uso que fazem da palavra “RESIDÊNCIA”: ONDE NÃO HÁ PRECEPTORIA QUALIFICADA E PRESENCIAL, NÃO HÁ RESIDÊNCIA DE NENHUMA ESPÉCIE.
Quem se lembra do conto infantil “João e Maria” e da “Casa de Doces” usada como armadilha por uma bruxa para atrair as crianças e as aprisionar? (É verdade que o Ministro da Saúde está mais para o “Senhor dos Anéis”). Há muito mais em jogo nessa batalha do que só dinheiro, e é triste que nossas associações mais representativas (CFM e CRMs) não se tenham dado conta disso. Resistiremos. Eles não passarão. Os médicos jovens vão lhes ensinar: capacidade de resistência e luta por valores para além do dinheiro. Sem alarde ou ênfase especial, continuarão a investir em seu próprio futuro, procurando por boas RMs. Há várias pesquisas demonstrando que a pressa para obter salários mais altos, sacrificando o estudo e formação (em todas as áreas), abrevia o alcance das carreiras. Quem quer sacrificar o seu próprio futuro profissional em função apenas de mais dinheiro hoje? O VALOR ANUNCIADO SOA COMO UMA CONFISSÃO: O QUE TÊM A OFERECER NÃO DEVE SER LÁ MUITO BOM. Se dão mesmo valor à interiorização da medicina, então deveriam criar RESIDÊNCIAS DIGNAS DO NOME.
O pior de todos os discursos, dentre as entidades médicas que apoiaram o projeto, foi o da representante da Ass. Bras de Esc. Médicas. Segundo ela, como os médicos já estão formados, e têm autorização legal, poderiam atuar sem qualquer preceptoria presencial. É apenas uma burocrata, totalmente distante da vida. Seu argumento, a ser levado à suas últimas consequências, prega o FIM DA RM. Para que gastar tanto tempo e dinheiro, se os médicos já estariam formados?Há naquelas palavras apenas mais um descaso com a gente simples a quem dizem querer atender.
Na Reforma Educacional que está em discussão no país, o MODELO DE RESIDÊNCIA com PRECEPTORIA tem sido sugerido para todos os professores recém-formados. Cada vez mais, os educadores entendem que um profissional, nos primeiros anos depois de sua formação, precisa de apoio em uma espécie de ritual de passagem para a sua nova condição. Pois bem! É exatamente nesse momento, quando outras profissões tentam incorporar o modelo consagrado na formação médica, que a ABEM o está negligenciando. NÃO MERECEM A NOSSA CONFIANÇA. NÃO ESTÃO À ALTURA DOS CARGOS E FUNÇÕES QUE EXERCEM.
De nossa parte, o que resta às pessoas envolvidas diretamente com a RM é “segurar firme no leme”, até que passe a turbulência; garantir a qualidade das RMs e manter esforços concentrados para demonstrar aos jovens médicos o pouco compromisso que os dois ministérios têm tido para com a sua formação. Mas há algo mais a fazer para sair da posição defensiva: DIVULGAR AMPLAMENTE QUE O USO DOS BÔNUS PARA DEFORMAR RESULTADOS DE CONCURSOS NÃO ESTÁ GARANTIDO; QUE A ELE RESISTIREMOS ATÉ AS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS E QUE SOMENTE UMA ORDEM JUDICIAL PODERÁ NOS FAZER COGITAR DE VIOLENTAR A AVALIAÇÃO DE CONHECIMENTOS E PROCEDIMENTOS NOS NOSSOS CONCURSOS.
Márcio Amaral, vice-diretor IPUB-UFRJ, Prof. Adjunto UFRJ e UFF
Vice- Diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ