Temas e Controvérsias

ADUFRJ: NA CONTRAMÃO DO INTERESSE PÚBLICO!

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Foto: Elisa Monteiro

PROMISCUIDADE PÚBLICO-PRIVADA-a proposta que a galinha fez ao porco:ficariam ricos vendendo vender ovos com bacon. Ela entrava com os ovos e ele…”.
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Considerando o destaque dado aos artigos do prof. Carlos F. Rocha na REVISTA DA ADUFRJ—discutindo as relações que as Universidades deveriam manter com a assim chamada “iniciativa privada”—sou obrigado a concluir ser ele o principal formador de opinião na gestão que está se encerrando. Como não sou muito informado quanto a intrigas palacianas e como essa avalanche de propostas (que a comunidade universitária tem repudiado tanto) aconteceu no final da gestão, ainda não podemos ter certeza se foi: 1-um desabafo de quem perdeu o “momento certo” e acabou fazendo um “destampatório” no finzinho; 2– se tudo foi articulado para anunciar o maior investimento político que a próxima gestão fará; 3– ou se, por não confiar muito na gestão entrante, tenta demarcar o espaço em que ela deverá se movimentar. Só o tempo dirá qual das hipóteses é a melhor. Duas conclusões, entretanto, podemos tirar: 1- de algumas defesas que fez e do palavrório cínico que usou, deve estar arrependido, pois subitamente ficou mais cuidadoso; 2- nem todos os membros da nova gestão participaram de discussões sobre esse tema e projetos. Conheço alguns deles.
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O TRIPÉ DO INTERESSE PRIVADO: CANECÃO, EBSERH E O “MARCO LEGAL”
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Depois da ampla defesa da entrega de nossos HUs a uma administração alienígena (EBSERH) e da condenação da retomada de posse da área no campus da PV que já foi ocupada por uma “CASA DE ESPETÁCULOS”* (“O Magnífico Dilema“) podemos ter certeza: os critérios do colega, nessa “aproximação” das UNIVERSIDADES com o CAPITAL, são muito “liberais”. Já na sua louvação do “MARCO LEGAL”, aprovado pelo Congresso, o articulista foi bem mais cuidadoso, desde que descontemos sua vibração com a decisão, apesar de ter sido tomada pelo Congresso mais enxovalhado da nossa história. Sim parece haver muitas “relações perigosas” em curso. É verdade que ele se valeu de um velho recurso de retórica: a produção de um falso dilema, reduzindo as coisas a um TUDO OU NADA. Para isso, valeu-se de citações da Cartilha da Andes e é possível mesmo que tenha deixado margem para a conclusão. Sabemos que nenhum isolamento pode ser bom para uma universidade, mas a questão é outra: como há de ser essa aproximação, de maneira a que todos os entes MANTENHAM SUAS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS; sem que se tornem meros apêndices um do outro. Uma coisa é certa: quando tudo o que é público e valioso está sob ataque (estrangeiro, inclusive) e quando estamos sob um governo que mais parece um “corretor” de múltiplas negociações no mínimo “duvidosas”, podemos afirmar que o momento não é bom. Temos até motivos para pensar que a investida sobre as Universidades faz PARTE DESSE ATAQUE.
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POR QUE QUEREM TANTO O HUCFF?
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Em plena luta pela preservação da A. Universitária, dei-me conta de que o FUNDÃO tinha se tornado um dos “endereços industriais” mais importantes do mundo. Pode haver exagero aí, mas acho que não muito. Não duvidemos também da importância estratégica do petróleo. Penso até que o fato das empresas americanas não terem se apresentado para o leilão foi uma “declaração de guerra” sutil contra nossos projetos de afirmação e autonomia nacional. Hoje, percebo ali o disparar do GOLPE que se seguiu; da intervenção “branca” da qual Temer, com suas “amizades” de capacho de americano, aceitou ser o protagonista mor. Gente de “Quinta Coluna” é o que não falta por aqui. Pois bem: tudo o que aquele bando de “workaholics”, que misturam “wallstreet”, petróleo**, corporações, etc. precisam é de um hospital “de ponta” por perto. E, por ali… tirando um eventual e futuro HUCFF…só mesmo o “Dr Helicóptero”.
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Com o tempo, deixei essa hipótese de lado, mas nosso colega se encarregou de reincluir o HU entre as “PRESAS” mais cobiçadas pelos “PREDADORES” que nos rondam. Desde o início dos seus movimentos, a EBSERH só tinha olhos para o HU. A ME serviria como uma espécie de laboratório e os demais… decididamente, não interessavam. Agora…considerando que a EBSERH não deverá ter vida longa, aquela enfática (e desgastante) defesa sua na Revista da ADUFRJ teria soado um tanto extemporânea sem esse interesse “associado” e específico. Nesse sentido o HCPA seria um modelo ideal, preenchendo todos os critérios para satisfazer a “galinha” da fábula, enquanto o “porco” vai sendo sangrado lentamente. O SUS funcionaria como uma desculpa para o investimento de recursos públicos a serviço dos interesses privados: pacientes de “primeira classe” nos andares superiores e os de “segunda” se alimentando do que sobra ou cai da mesa dos mais ricos. A ADUFRJ se encarregou, com aquele artigo, de fazer com que as coisas voltassem ao seu início.
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O “SERVIÇO COMPLETO”: GARANTIR RECURSOS PÚBLICOS
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Por fim, a ADUFRJ fez uma defesa enfática do “FINANCIAMENTO PÚBLICO DE PESQUISA” e os incautos poderiam louvar o discurso. Era apenas um “serviço completo” para as Grandes CORPORAÇÕES. Voltando à EBSERH e como fui enganado uma vez (REHUF), percebi ali o mesmo espírito e as mesmas digitais: fazer um pesado investimento PÚBLICO de maneira a melhorar as condições e, depois, entregar o “capital valorizado” numa das tantas “bolsas” formais ou informais que existem por aí. Vejam as citações finais do texto, todo articulado com interesses…inconfessáveis: “No estágio atual de nossa área de P&D, pregar o investimento privado é aderir a um discurso MÁGICO E POUCO INFORMADO, que acredita na geração espontânea de investimentos privados em pesquisa”. Lembrei-me até de uma quadrinha que dediquei à EBSERH: “Enquanto a gente rói o osso/Você só quer o filé..”. Com isso afastam a impressão de que defendem desonerar os cofres públicos. SIM! Eles são muito bem informados a respeito. Só não sei se por “conversas de cocheira” ou intimidades de “copa e cozinha”. E continuam: “o investimento público é condição necessária para o desenvolvimento, inclusive para atrair os investimentos privados”. É por isso que não usam mais a expressão “iniciativa privada”….Há muito tempo que o CAPITAL não adota “iniciativas”… Só chegam com a mesa posta e o filé servido. Arriscar o próprio CAPITAL? Isso já era! E ainda tem gente que se engana achando que esse tipo de “acordo” interessa ao futuro do Brasil.
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*Ele poderia até dizer que sua crítica maior teria sido à incapacidade das Reitorias de dar um destino melhor ao espaço, mas sua sentença: “…privando a cidade de sua maior casa de espetáculos” denunciou o prisma a partir do qual olha o mundo e com que interesses se afina.
**A direção da Petrobras sabe que tem alguns “PARENTES” por aqui também.