Arte e Cultura

COMO HITLER: USAR A “CARCAÇA” DA POLÍTICA PARA MATAR A…POLÍTICA-I

(Alô Brasil! Morte da Política = Ditadura...apenas mais ou menos sanguinária)

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NOTA: o texto abaixo é todo baseado na mais ampla e respeitada obra sobre o tema: “Ascensão e Queda do III-REICH“* do escritor e jornalista inglês Willian L. Shirer que permaneceu na Alemanha desde os anos 1920 até o início da guerra (1939). Além disso, ele teve acesso aos documentos oficiais que reportou fielmente. Não é preciso assinalar o estímulo que tive para esse retorno a uma obra que estudei detidamente. Os tempos são outros, mas algumas mentes e práticas parecem querer repetir certos acontecimentos que envergonham a humanidade até hoje.
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Depois do enorme fracasso do “PUTSCH” de novembro de 1923, quando um punhado de arruaceiros chefiados por um líder muito histriônico (considerado um celerado pelos intelectuais) fracassou rotundamente no desencadeamento de uma “revolução” nazista e tomada do governo na Alemanha (a partir da Baviera), duas consequências muito perigosas se fizeram sentir: 1- as forças políticas mais tradicionais julgaram ter sido aquele o dobre de finados do PARTIDO NAZISTA e; 2- Hitler decidiu que era hora de mudar completamente a sua estratégia de conquista do poder, agora por meios aparentemente constitucionais. Ele sentia o apodrecimento interno e generalizado das instituições alemães, de cuja pompa restava apenas uma carcaça.  Mas sua “remoção” precisaria ser lenta e inexorável. O a no que passou em uma prisão “muito especial” e os julgamentos a que foi submetido ofereceram-lhe um palanque cada vez mais concorrido e também a chance para a redação de sua plataforma “política” de tomada do poder (“Mein Kampf”). O resto foi um triste encontro entre um povo totalmente desmoralizado e humilhado à espera de alguém a quem pudesse obedecer de maneira irrestrita com um homem de uma energia e determinação impressionantes, além de dotado do poder da oração histriônica como poucos.
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“Quando eu retomar minha atividade, será necessário perseguir uma nova política. Em lugar de chegar ao poder graças a um golpe de força, precisaremos fechar o nariz e entrar no ‘REICHTAG’, apesar dos deputados católicos e marxistas. Se for preciso mais tempo para batê-los nas eleições do que para ABATÊ-LOS nas ruas, pelo menos os resultados serão garantidos pela própria constituição que eles mesmos promulgaram. Qualquer processo implicando respeito à legalidade é lento…Mas, cedo ou tarde, nós teremos a maioria…” (A. Hitler a K. Ludecke, pouco antes de sair da prisão).
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A grande verdade, porém, é que o “abatê-los nas ruas” foi um elemento essencial no processo de “batê-los nas eleições” (só aconteceu depois de terem abatido mutos dos seus adversários). Os 8 anos que se seguiram à sua saída da prisão foram dedicados à estruturação de um partido de âmbito nacional. Enquanto isso, suas tropas de assalto se encarregavam de ameaçar e aterrorizar aqueles que eliminariam logo depois da tomada do poder; começando, é claro pelos grupos mais fracos da sociedade e contando com a omissão generalizada dos que ainda não eram os atingidos daquele momento**.
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JÁ POR AQUI, A FASE DO “PUTSCH” FOI VENCIDA!
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Um pesquisador americano (Steven Levitsky) teve o trabalho de listar as ações e falas do candidato do fascismo ao longo de sua vida na política em seminário presidido por FHC. Elas funcionam como uma espécie de resumo de um “MEIN KAMPF” tupiniquim. Sendo assim, ninguém poderá dizer que o daqui, como o de lá, não anunciou o que faria:
1- Sempre contestou a legitimidade da democracia aqui instalada em 1985;
2- Em 1993 defendeu uma DITADURA MILITAR com todas as letras;
3- Exigiu o fechamento do Congresso como Fujimori fizera em no ano anterior;
4- Esse fechamento seria necessário, pois “—Através do voto, você não vai mudar nada nesse país”.
Essa era a fase do PUNTCH. Um dia, porém, seja por intuição, seja por alguém ter lhe mostrado a eficácia da tática de Hitler, o sujeitinho mudou de ideia quanto aos instrumentos, mas não quanto ao seu OBJETIVO final: acabar com a POLÍTICA.
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A REVOLTA DO POVO CONTRA A POLÍTICA E OS POLÍTICOS EM GERAL!
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E por que uma pessoa dessas conseguiu uma maioria impressionante de votos? O que está em questão, em verdade (e eu demorei a me dar conta disso), não é o candidato X, mas a NEGAÇÃO DA POLÍTICA, em geral, por ele representada. É essa a identificação que a gente mais simples do povo faz com aquela figura. O povo está votando nele? Sim…mas apenas contra a política. Essa a razão pela qual ele não vai a debates. Esse é o ATO POLÍTICO POR EXCELÊNCIA e toda a sua tarefa é ACABAR COM A POLÍTICA. Reparem, entretanto, que todos os ATOS POLITIQUEIROS (aqueles mesmos que podem levar à morte da política: conchavos, “acordos e compromissos”, com a MÍDIA, inclusive) ele está realizando em profusão. Seus mentores são incapazes para a política e vão fracassar no exercício do poder, mas dificilmente perderão agora as eleições. Essa é uma BARREIRA terrível para nós, os democratas. E o PT tem uma responsabilidade enorme nisso. Mas é bom sempre lembrar: fora da POLÍTICA o que resta é DITADURA; não há meio termo. É preciso aprofundar essa discussão com o povo…inclusive e nos debates que não acontecerão propriamente ditos. Há sim uma chance de derrotar o perseguidor da política. Mas agora me dou conta da DIFICULDADE que teremos. Tentemos pensar como a gente do povo: “se a política fracassou e me decepcionou tanto…será que o seu fim não vai trazer algo de novo…e bom?”. E eis que eu encontro uma marca de REVOLTA nesse voto, totalmente desviada de foco, é verdade. Mas vejo nisso uma perspectiva de trabalho para logo depois das eleições.
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COMO UM POVO CONHECIDO POR SUA REBELDIA CHEGOU A ESSE PONTO?
Nossas diferenças em relação aos alemães são por demais evidentes para que precisemos discorrer sobre o assunto. Vejam no AURORA  (Nietzsche Aforisma 207)): enquanto o alemão “…precisa ter algo a que possa obedecer incondicionalmente—este é um sentimento alemão, uma coerência alemã”; entre nós (meridionais) há uma tendência a zombar desse ‘tem de haver um ser’ ( a quem obedecer incondicionalmente). Pois é próprio da “…meridional liberdade de sentimento, guardar-se da ‘confiança incondicional’ e manter no último recesso do coração um mínimo de ceticismo para com tudo ou todos, fosse deus, homem ou conceito…”Essa é a razão pela qual estou dando um peso (valor seria dizer demais) a esse voto de revolta contra a política. Não demorará para que o eventual governo mais ou menos ditatorial perca os apoios que tem hoje. Quem sabe não vamos mesmo renovar a política depois do aluvião? Afinal, dela não se consegue escapar!
………………………CONTINUA: “HITLER NO PODER”
*”Le Troisieme Reich-Des Origines a la Chute”, W. L. Shirer- Librarie STOCK, 1961, Paris.
**Quando esse tipo de atitude se inicia em grandes grupos acaba por atingir TODA a sociedade. Nos seus últimos dias, quando alguém disse a Hitler que uma certa ordem sua implicaria a destruição da possibilidade de sobrevivência do povo alemão, ele replicou: “Um povo que não conseguiu sustentar os valores do Nazismo merece mesmo ser extinto”. E é bom lembrar que “Frau Goebbels” assassinou seus 6 filhos com cianureto dizendo não querer que eles “…crescessem em um mundo sem o Nazismo!”

Vice- Diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ