Temas e Controvérsias

DEIXEM A SAÚDE EM PAZ!

(DE COMO A SAÚDE PODE SER USADA PARA OS PIORES FINS)

Lobo

1-O “Herald Tribune” (27/7/11) publicou matéria do respeitado jornalista Jack Chow, discutindo a informação, provinda de elementos da própria CIA, de que teriam forjado intervenções para prevenção de doenças (vacinação forjada), somente para obter material da família de Bin Laden. Queriam confirmar sua presença. Por uma imensa sorte nossa, é quase uma lei, a de que a Vaidade das pessoas acaba por denunciar os seus “mal feitos”. Quem, depois disso—mas também do WikiLeaks e de Murdoch—poderá debochar dos que suspeitam, ou percebem, as maquinações perversas dos órgãos de inteligência existentes nos subterrâneos dos Estados, dizendo: “Isso é teoria da co nspiração!”? Só os tolos e os néscios são incapazes de desconfiar das pequenas e grandes conspirações que são tramadas, e realizadas diuturnamente, contra o interesse maior dos povos. Há mesmo pessoas que não suportam a desconfiança. Talvez conquistem o “reino dos céus”, mas, nos “reinos da terra”, serão mero joguete na mão dos mais espertos.

A imprensa, por ingenuidade, ou interesse mesmo, costuma ser o maior veículo nesse imenso e duradouro processo de enganar a maioria. Como, entretanto, ainda há vida autônoma nas redações, o jornalista demonstrou o quanto aquela atitude colocou em risco, de imediato, todos os programas—alguns muito sérios, como para prevenção da AIDS na África e muitos outros—que alguns governos e ONGs desenvolvem pelo mundo afora. Sua credibilidade foi duramente atingida. Com aquela atitude, a CIA legitimou os sequestros e mortes, que os Talibans, e outros grupos, promovem contra médicos, enfermeiras, as. sociais e outros membros desses programas. Havia mesmo um projeto de saúde pública em curso no Paquistão. O que é feito dele, ninguém sabe. Quando essas “maquinações sujas” envolvem diretamente a saúde, exigem um protesto veemente de todas as pessoas com ela envolvidas.

2-A Cruz Vermelha, que já foi muito respeitada, mas que tem perdido essa credibilidade, deixou-se também envolver na farsa “rocabolesca” que cercou o falso resgate de I. Bettancourt nas florestas da Colômbia. Deixando de lado todas as inconsistências dos relatos do que teria se passado “no campo”, um fato é indiscutível: os dois helicópteros que participaram da AÇÃO ARMADA e DE GUERRA, tinham, estampado em suas laterais, o emblema da Cruz Vermelha. Esse fato, quase escondido por uma certa imprensa¹—caudatária das agências de notícias internacionais e simpática a esse tipo de ação—feriu de mort e o princípio que gerou aquela instituição (J. Dunant, 1863): dedicação ao socorro de feridos de ambos os lados e total não interferência nos combates. Das duas uma: ou o uso não foi autorizado, exigindo um processo em Côrtes (a reforma ortográfica que nos perdoe) Internacionais, ou houve uma mistura de interesses inconfessáveis entre a C Vermelha e os órgãos de inteligência, especialmente franceses.

3-E a CPMF? Agora, entre nós, vários governadores recomeçaram uma movimentação para usar a saúde como forma de cobrir suas próprias deficiências de arrecadação; renúncias fiscais² sem critério e uso duvidoso dos recursos públicos. Aquele imposto, que é baseado no muito imoral princípio de que os recursos “normais” do orçamento não devem cobrir a necessidade de prevenção e assistência à saúde das pessoas mais pobres, mais se parece com a “Hidra de Lerna”: cortam-se-lhe as cabeças e outras voltam a surgir. De uma fonte perversa só pode resultar perversão.

Quem, em sã consciência, pode ser contrário à elevação dos recursos para a saúde? Confessamos que já fomos enganados por essa conversa um tanto hipócrita. Perguntamos: a saúde melhorou com a CPMF (3)? Não, e quando, no final de seu governo, Lula condenou aqueles que decretaram o fim daquele imposto, parecia estar fazendo uma confissão tácita de que, na saúde, seu governo não atingiu seus objetivos, com ou sem CPMF. Houve, sim, na esfera federal, uma melhora significativa nos hospitais universitários e outros. Como, porém tudo depende muito mais das ações municipais e estaduais, os avanços, no geral, foram pífios.
Nessas situações, lembramo-nos sempre de um antigo filme italiano: alguns contraventores vestiam-se de padres para aplicar seus golpes contra gente simples do campo. Lembram-se do lobo vestido de cordeiro? Agora colocam cruzes vermelhas em suas laterais.

¹Não é uma questão de se deixar corromper, no sentido habitual da palavra. Cria-se, como disse Lima Barreto (que conhecia bem as redações) uma ambiência, ou atmosfera que, de maneira sutil, vai envolvendo boa parte dos jornalistas, com os interesses daqueles que pagam seus salários. Criticam muito os políticos, mas têm, com eles, pelo menos 2 coisas em comum: preocupação primordial com a própria sobrevivência, e dizer o que seu “eleitorado” quer ouvir. Há também um fisiologismo nas redações.

²Só no RJ, foram 50 bi de “isenção”, desde 2007 (padarias, termas e outras). Com esse dinheiro, salvaríamos Portugal, mas também escolas, hospitais, bombeiros, etc. Estranhamente, esta notícia foi veiculada apenas pelos jornais de SP.

³Não fazemos coro com aqueles que condenam a nossa “elevada carga tributária”, frase que mais parece um mantra na boca dos empresários e que é repetida por muitos ingênuos. Um breve olhar para o mundo mostra que a “elevada carga…” é fator de estabilidade: Escandinávia, Alemanha, Brasil e outros. No outro extremo, como cambaleiam os países do “estado mínimo”: Grécia, Irlanda, USA e outros!

Vice- Diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ