Temas e Controvérsias

GOVERNO NEGOCIANDO!? RECONHECERAM NOSSO PODER!

(Mas apostam na nossa humilhação: EBSERH…OSs…VivaUFRJ…etc.)
Márcio Amaral, vice diretor-IPUB
…………………………..
Weintraub guarda chuva
“Depois que os deboches, ofensas e ataques diretos falharam, ele mudou de tática. É um reconhecimento de nossa força, coisa de que muitos ainda não se deram conta. Que continuam sendo inimigos da autonomia das UNIVERSIDADES atesta-o a portaria transferindo a nomeação de pró-reitores para a casa civil. Há que recorrer ao STF já. Somos um trincheira na defesa de direitos! A mais consistente até agora.”

O governo tem “passado com um trator” por sobre qualquer convenção, princípios éticos, regras e até mesmo leis em praticamente todas as áreas. Desfere “BOFETADAS” diárias nos valores de todo o país e na sua história, mas principalmente nos que o elegeram e agora não encontram mais argumentos para defender seus absurdos. POR QUE, ENTÃO, RESOLVEU NEGOCIAR COM AS UNIVERSIDADES? Por que exatamente onde não tem qualquer apoio e logo depois de uma sessão de deboches que seriam inaceitáveis em uma democracia menos disfuncional? Foi a primeira demonstração de FRAQUEZA do governo em relação a um movimento social, e se deu:

1- porque temos garantias constitucionais sobre as quais só poderiam passar com tropas, jipes e prisões;
2- porque fomos às ruas nos maiores movimentos populares de oposição;
3- porque o STF* (contrariamente ao que tem feito em quase todas as áreas) fez uma defesa clara da nossa AUTONOMIA, desde a campanha eleitoral quando condenou a invasão da F. de Direito da UFF.
SIM: existe uma fronteira inexpugnável nessa batalha por manter direitos, e ela parece ser a UNIVERSIDADE PÚBLICA.
…………………………..
CRIAR NOVAS FONTES DE FINANCIAMENTO OU DESOBRIGAR GOVERNOS?
………………
E é exatamente por conta dessa força (reconhecida pela sociedade em geral) que não podemos nos deixar manipular. Só a partir da nossa vacilação e desmoralização interna poderão eles avançar sobre nossos direitos. A referência a uma eventual adesão da UFRJ à EBSERH e a informação de que a administração do tal projeto seria entregue a uma OS (e ainda frases como “criação de um bom ambiente de negócios”) deveriam ser suficientes para que não mordêssemos a isca lançada por Brasília. Já fui dos que condenavam qualquer aproximação com o capital privado, mas me curvei aos fatos. Hoje, a imensa maioria dos profs (especialmente os mais proeminentes) a defendem e ela parece inevitável. Mantenho-me na minha posição pessoal: longe desses contatos e louvando trabalhar em área que não interessa ao grande capital. Mas não brigo mais contra esses fatos. Por isso, penso que os mais afeitos a essa aproximação deveriam apresentar, eles mesmos, um projeto do gênero, mas que garantisse o compromisso governamental de financiamento e a nossa AUTONOMIA.
…………………………
A BOA, MAS INSUFICIENTE RESISTÊNCIA DOS REITORES
Segundo matéria jornalística, os Reitores teriam exigido, antes de tudo, que as verbas contingenciadas fossem liberadas. Como início de conversa e CONDIÇÃO para abertura do diálogo, é uma boa atitude. Quem pode negociar “com a faca no pescoço”? Mas é muito pouco. Primeiro, aquelas verbas estariam longe do mínimo necessário para a continuidade dos nossos serviços básicos. Depois, a intenção é óbvia: desobrigar progressivamente o governo de cumprir a CONSTITUIÇÃO. O risco maior é sempre a nossa DESMORALIZAÇÃO: perdida nossa noção dos DIREITOS e tendo nos quebrado a “coluna moral”, qualquer coisa poderiam impôr. Foi o processo aplicado pelos defensores da EBSERH durante os governos do PT: desmoralizar nossos gestores a ponto de que aceitassem algo que os DESQUALIFICAVA como incapazes para gerir. Acreditem: foi o que aconteceu. Somente a UFRJ conseguiu se reafirmar plenamente no processo.
……………………………….
BALÕES DE ENSAIO…CHANTAGENS…ATIRAR UNS CONTRA OS OUTROS…
Tendo constatado o fracasso das ofensas e das ofensivas diretas contra várias das nossas UNIVERSIDADES, mas também em função da condenação generalizada ao contingenciamento das suas verbas, o M. DA EDUCAÇÃO (logo ele…o que cantava na chuva) “tirou o cavalinho da chuva”: mudou de tática e resolveu ensaiar algumas matreirices um tanto canhestras:
1- soltou “balões de ensaio” para ver a reação (como quem “toma o pulso” para saber quem é adesista; “maleável” ou resistente) especialmente dos Reitores, falando em privatização direta, mesmo sabendo que isso não pode acontecer sem uma mudança CONSTITUCIONAL. Houve o alvoroço esperado e muitos se assustaram. A preocupação é legítima. Afinal, estamos diante de um governo irresponsável e de uma justiça pusilânime. Mas penso ser hora de agir com mais dignidade e isso só ocorre quando temos consciência clara das nossas forças e DIREITOS, especialmente se confiamos nos que estão à nossa volta. Criado o alvoroço, o ministro fez uma convocação dos Reitores que até parecia civilizada, mas isso deve ser mais um motivo para desconfiança. Ou alguém acredita que o debochado sofreu alguma “metamorfose moral” súbita? Que fique bem claro: ELE NÃO MUDOU, apenas reconheceu NOSSA FORÇA provavelmente mais do que nós mesmos. Mas a capacidade de criar problemas, aplicar um estrangulamento lento e culpar as vítimas por cortes de luz; falta de pagamento de empresas contratadas, etc., isso eles continuam tendo.
………………………
2– apresentou “programa” com um nome muito sugestivo: “FUTURE-SE”, implicando diversos tipos de interação com investimentos privados. Mas a verdade é que basta retirar algumas letras dali para que sua intenção fique bem clara: “F………..-SE!” (com exclamação bem sonora). Não vou discuti-lo, nem fazer sua comparação com os programas de outros países que o teriam inspirado. Há pessoas bem mais capazes para isso e elas já demonstraram o quanto essa gente do governo não sabe sequer imitar. São mesmo uma espécie de “REI MIDAS ao contrário”: tudo em que tocam vira porcaria.
3- aplicou a velha e batida matreirice de tentar jogar uns contra os outros a partir de falsa informações. Dizer que “20 unidades e institutos já se comprometeram ‘de boca’ a aderir ao programa”, deixando de lado a linguagem chula e irresponsável, debochou da inteligência dos nossos Reitores. Frases do tipo—sem dizer os nomes das tais possíveis unidades e institutos—servem para atirar a desconfiança entre todos os interessados. Em ambientes menos diferenciados, semeiam o medo de “ficar para trás”, mas com Reitores isso não deve funcionar. Trata-se, agora, de tentar conduzir o processo, sabendo que podemos ser devorados (no sentido de perda de valores) a qualquer momento. E é bom lembrar, nessa relação com o capital privado, que “quem montar no dorso do tigre provavelmente vai acabar na sua barriga”.
…………………………
*Há nisso algo de classe também. Todos cursaram universidades e não querem passar para a história como cúmplices da sua destruição plena…no sentido de seu espírito original, é claro.