Temas e Controvérsias

GUARDA DE PROVAS: CONFUNDINDO CONCURSOS COM AVALIAÇÃO DE DISCIPLINA

(Mentalidade BUROCRATA e JUSTICIALISTA se chocando com o interesse acadêmico)
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NOTA: há que diferenciar muito bem: provas de CONCURSO/SELEÇÃO DE CANDIDATOS das provas de avaliação de desempenho em DISCIPLINAS ministradas. As primeiras implicam DISPUTA e TODOS os envolvidos devem poder, em prazo razoável, cobrar uma revisão generalizada de provas e classificações. Assim, é mesmo imprescindível sua guarda pelos serviços que a aplicaram por alguns anos. Já no caso das provas de avaliação de DISCIPLINAS a situação é totalmente diferente. O que vale para umas não deve ser aplicado para as outras. É o que discutiremos abaixo.
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Uma controvérsia se instalou em meu Departamento na UFF (em função da disciplina PSICOPATOLOGIA II), a partir de uma ORDEM apresentada pela chefia como “EXIGÊNCIA LEGAL e OBRIGAÇÃO”: a guarda das provas dos alunos nos próprios departamentos. Pareceu-me uma exigência totalmente descabida e comuniquei que não a cumpriria. As provas pertencem aos alunos e essa posse tem pelo menos 2 grandes interesses ACADÊMICOS: 1- podem, eles mesmos (os alunos), guardá-las, estudá-las e avaliar, no seguimento, sua própria evolução no conhecimento; 2- com isso têm mais tempo para julgar até mesmo a própria avaliação feita pelo professor; sua justiça e adequação, ou não. Com isso (e com mais tempo), com a prova em uma das mãos e a BIBLIOGRAFIA na outra, podem recorrer de possíveis INCORREÇÕES na nossa correção.
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UM EXEMPLO CANDENTE DA IMPORTÂNCIA
Dou um exemplo acontecido no primeiro semestre do ano passado. Em uma prova excelente de uma aluna, fiz uma observação na própria prova quanto a um termo por ela utilizado, não implicando qualquer erro (ou perda de ponto), mas algo que eu não achava muito adequado. Eis que a aluna leva a prova e me envia logo depois uma mensagem dizendo, mui respeitosamente: “Prof. estava assim no seu livro…!”. Era verdade. Ocorre que, todos os anos, faço uma revisão no livro “PSICOPATOLOGIA: FUNDAMENTOS E SEMIOLOGIA ESSENCIAL”, disponível na página do IPUB. Havia alguns meses, eu fizera aquilo que considerei uma melhora no texto (depois dessa discussão não fiquei mais tão certo disso), modificando-o. Agradeci e guardei a observação. Isso só foi possível porque ela levou a prova e reviu as cópias que tinha tirado do material. Qualquer coisa diferente disso implicaria que o INTERESSE ACADÊMICO fora submetido a exigências meramente BUROCRÁTICAS e JUDICIALISTAS.
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TRATANDO O ALUNO COMO UM OPONENTE (para não dizer adversário…)
Diante da minha recusa em cumprir a cobrança, a chefia exigiu, então, que as notas dos alunos fossem listadas e guardadas junto com um TERMO DE CONCORDÂNCIA do próprio para com sua nota. Ou seja: o que era ruim, ficou ainda pior, na minha modesta opinião. Tudo isso parece partir da DESCONFIANÇA e do olhar para os alunos como oponentes (para não dizer adversários ou inimigos). Aqui, então, a tal assinatura implicava um CONSTRANGIMENTO que impediria nova avaliação posterior: “Assine agora a aceitação e cale-se para sempre!”. Ali, no calor e tensão do recebimento da prova; sem condições e tempo para refletir…! Lembrei-me até de que todos os que nos querem passar para trás, até mesmo na vida acadêmica, costumam nos procurar (nas direções, inclusive) pedindo assinaturas apressadas, pois “aquele é o último dia…que tudo irá se perder se não for assinado naquele momento, etc.”. Essa resposta eu aprendi com o Prof. Versiani: “Deixe aqui e passe amanhã”!
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E A PRIVACIDADE E O SIGILO…ONDE FORAM PARAR?
Quem desconhece essa enorme preocupação nos dias que correm? Não nos é mais sequer permitido tornar públicas listas de notas com nomes (por vezes nos esquecemos disso). Somente o professor faz o lançamento das notas (quando consegue) ou alguma chefia simpática e caridosa. Ou seja: “Devagar com o andor…”. Não acho razoável essa possibilidade de acesso às mesmas por outros funcionários e/ou professores.
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E OS TRÂMITES E GARANTIAS LEGAIS, COMO SE PODEM FAZER?
Reconhecendo a importância de alguns cuidados, vamos a eles: 1- exijo que as provas sejam feitas com CANETA e não aprecio que se façam rascunhos, conduta um tanto infantilizada; 2- não aceito o uso de corretores, pois é necessário que se vejam as mudanças ocorridas, um corretor poderia ter sido aplicado posteriormente; 3- quando os alunos quiserem fazer uma correção qualquer, devem simplesmente riscar o escrito (de maneira a se poder ler o que está embaixo) e seguir adiante; 4- no dia da entrega, deve ser corrida uma lista de frequência escrito em cima ENTREGA DE PROVAS; 5- a entrega deve ser pessoal e assinada (poderia haver um extravio, até mesmo mal intencionado); 6- a guarda da prova é de responsabilidade dos autores e qualquer reclamação precisa ser acompanhada da apresentação da mesma.
Com esses cuidados, tenho a impressão de que todas as garantias, inclusive legais (sempre EM FUNÇÃO DA ATIVIDADE ACADÊMICA), seriam alcançadas.
Vice- Diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ