Temas e Controvérsias

IMPRENSA E PROPAGANDA DE MEDICAMENTOS

(FERINDO 2 PRINCÍPIOS)

A coluna “GENTE BOA” (OGLOBO-21/07/2011), fez uma espécie de “lançamento” nacional de um medicamento para disfunção erétil. A propaganda foi tão evidente, que até preço por unidade foi divulgado: 17 reais. Foi esse fato, aliás, que não deixou dúvidas quanto ao ferimento de um princípio ético da boa imprensa: separar, com clareza, o que é INFORME PUBLICITÁRIO daquilo que é NOTÍCIA. Ou alguém acha que é notícia o lançamento da nova apresentação de: “…um comprimido contra a disfunção erétil…que se desfaz na boca…e tem gosto de menta” ? Era apenas propaganda mesmo!

O que dizer, então, do tratamento de uma substância, potencialmente venenosa, como se fosse uma “balinha de menta”? “…Prevê-se que os baleiros vão ter prejuízo com a venda de balas desse sabor…” , disse ainda oa rticulista.  Não! Os baleiros não deverão ter qualquer prejuízo, até porque, são bastante espertos e, logo, estarão vendendo a tal “balinha” em lugares estratégicos. Eis um outro princípio violentado, esse com consequências obrigatóriamente funestas: toda substância potencialmente venenosa precisa ser associada a um gosto repulsivo! Caso contrário, estaríamos agindo como a “bruxa” que envenenou uma maçã para a “Branca de Neve”, ou as amantes rejeitadas que envenenaram os filhos daqueles que as rejeitaram. Não serão os baleiros que terão prejuízo, pelo contrário, mas certamente nossas crianças e, quem sabe, muitos adultos.

Quem teve filhos na década de 1980, deve se lembrar dos xaropes com gosto de cereja, que intoxicaram inúmeras crianças, e dos “Shampus com cheirinho de fruta que não ardiam nos olhos”: feriam sem causar dor ou advertência. Quem lida com substâncias tão potencialmente lesivas não pode se dar ao luxo de tanta leviandade.

Já há algum tempo, alguns laboratórios passaram a usar as “colunas sociais”, novelas e programas cômicos, como veículos para divulgação de seus “produtos”. Cansados de pressionar diretamente os médicos, e de esbarrar em suas resistências éticas, fizeram sua “ultrapassagem”, gerando pressões, a partir dos próprios pacientes. Em nossa especialidade, algo muito semelhante foi promovido nos lançamentos das marcas originais para o Bromazepan e para a Fluxoetina. É mesmo difícil resistir a certas pressões, mas é nossa identidade profissional que está em jogo. Hoje algo a fazer, coletiva e individualmente? Sim: sempre que isso ocorrer, e que for possível (sem causar qualquer prejuízo aos pacientes), podemos simplesmente dar preferência a outras marcas e/ou substâncias. Um tanto infantil!? Pode ser, mas, pelo menos, com isso, sairemos da mera posição passiva e lhes lembraremos que precisam nos respeitar.

Estamos certos de que os nossos órgãos de proteção à saúde proibirão as tais “balinhas de menta”. Até lá, porém, há que torcer para que não ocorram os “acidentes anunciados”. A humanidade deve aos laboratórios, e seus pesquisadores, a descoberta de muitas substâncias que, hoje, garantem e melhoram a vida de muita gente. Com uma frequência preocupante, porém, tem sofrido grandes riscos a partir de algumas das práticas desses mesmos laboratórios.

1- Atribuíamos o “O”, em FluOxetina, a um preciosismo sem qualquer base linguística e/ou fonética. Não o encontramos, por exemplo em Fluvoxamina, Flurazepan, Flunitrazepan, e assim por diante. A verificação demonstrou ser sua origem é muito mais mais fundamental: refere-se ao átomo de oxigênio que faz parte da molécula. Desde que não tenhamos medo excessivo de errar, o erro pode ser muito útili para o conhecimento.

Vice- Diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ