Temas e Controvérsias

IPPMG: UM PALCO PARA “AGENTES PROVOCADORES”!?

(O que tem a EBSERH a ver com isso?)

“Provocado pelo repórter da Globo o diretor concordou…(em montar a farsa)” (J. da AdUFRJ-mar/2012)

Não nos enganemos! Os “agentes provocadores” nunca foram movidos por alguma virtude! No recente escândalo das licitações forjadas, nossa tão respeitada UFRJ teve um dos seus Institutos (o IPPMG) apenas usado em um jogo sujo entre empresas. Não saímos engrandecidos do episódio. Pelo contrário, no imaginário popular, deixamo-nos envolver em alguma situação no mínimo nebulosa. A confissão de seu diretor, de que não teve qualquer idéia do que se passava na sala ao lado (“Eles tiveram autonomia“), sequer sabendo—NEM QUERENDO SABER—do que se passava no território que estava sob sua direção e guarda, complicou sua situação. É possível que tenha até ferido algum dispositivo legal dentre os que regem o exercício de direções de órgãos públicos. Que a Procuradoria da UFRJ se pronuncie! “Não tinha idéia do que seria a matéria. Tive acesso à reportagem como todos os brasileiros“. Por alguns dias, a Globo dirigiu uma parte do IPPMG. Não há mais espaço para esse tipo de ingenuidade entre nós*.

“Les agents provocateurs”, são uma escória da qual é bom manter distância. Atingiram seu maior refinamento na RDA, com a sua Polícia do Estado (STATSI**) contratando milhares de pessoas para “falar mal do governo“, e ver quem iria concordar, ser perseguido e preso. Nos dias que correm, é pelo seu uso que órgãos de segurança têm forjado ataques a sinagogas e prendido possíveis terroristas, especialmente nos EUA e Reino Unido. Infiltram-se em mesquitas; aproximam-se de jovens revoltados e vulneráveis; oferecem-se para organizar algum ato terrorista com eles; fornecem material modificado aos tolos; montam a arapuca e os apanham pouco antes do fracassado atentado.

Assim “desarmaram” um atentado a uma sinagoga e, recentemente, prenderam um pobre doente mental que nunca conseguiria explodir coisa alguma. Dessa forma, têm mantido toda a sociedade em sobressalto, aumentando seu próprio poder. Considerando que: 1-são sempre associados a interesses de monta (dinheiro e poder); 2-implicam associações espúreas, formando verdadeiras quadrilhas e projetos de máfia, tendem a ser muito mais perigosos do que aqueles que conseguiram apanhar na “arapuca” montada nas nossas dependências.

De qualquer maneira, o que se passou haverá de ser muito importante para o esforço de moralização que vem sendo levado a efeito no Brasil e que tem a Presidente da República e a CGU na sua linha de frente. Esperemos que as cenas não caiam no vazio. Como, entretanto, não deve haver espaço para ingenuidades entre nós, aquelas perguntas precisam ser respondidas.

As manipulações nunca são isoladas, antes, obedecem a uma “orquestração”. O jornal da rede “muito interessada” (na mesma semana), apresentou mais um ato da tentativa de afastar algumas empresas, certamente para beneficiar outras: “Saúde escolhe empresa criticada em parecer” (OGLOBO 24/3). Uma (apenas uma) nutricionista teria visitado as instalações de uma empresa que ganhara licitação para fornecimento de alimentação ao H. Bonsuc. e, segundo seu parecer “obtido pelo Globo (!)”, haveria: “insetos no espaço onde são preparados os alimentos, na padaria e até onde são limpos os recipientes…”. Por algum cuidado muito curioso, ela não deu o seu nome vulgar ou científico. Considerando a existência de insetos invisíveis a olho nu, podemos também ter certeza de que, em quase todos os lugares do mundo, até mesmo nas UTIs mais esterilizadas, há insetos. Se fossem baratas ou moscas, ela não deixaria de dizer.

Para completar, a mesma nutricionista, sem que ninguém a encarregasse disso, visitou uma concorrente da escolhida, fazendo rasgados elogios ao seu funcionamento. Chega a ser ridículo achar que os agentes públicos são ingênuos a ponto de acreditar na sua boa vontade, apenas querendo promover um encontro transcendental entre uma empresa perfeita e um governo ávido por qualidade! Viveriam felizes…para sempre! Se na outra não eram moscas e baratas, nessa deve haver “cobras e lagartos”. Esperemos pelos próximos capítulos da comédia.

Mas há uma outra consideração a ser feita, envolvendo a tal Empresa de Direito privado que vai gerir nossos hospitais, coisa que—em tempos de desmoralização do “liberalismo econômico” e resgate do poder público—soa como uma intervenção extemporânea (um dia, esse governo há de se envergonhar desse passo). Como dizia uma das raposas da politica do passado: “Há mais objetos no ar do que os aviões carreira”. Devem estar apenas preparando o terreno, afastando concorrentes, para tomar conta de todos os hospitais e de suas despesas. Nos dias que correm, somente os parvos e ingênuos dão crédito àqueles que acusam os desconfiados de fazerem “teorias da conspiração”! São tantas as conspirações! E ainda dispôem de uma rede sempre disposta a delas participar!

Voltando ao tema inicial, que é, muito provavelmente, totalmente ligado a esse último, louvemos a coragem da nossa Reitoria em não se associar a quaisquer das práticas apresentadas na TV. Confesso ter temido que se deixasse envolver pela maré moralista hipócrita e se calasse quanto aos métodos sujos aplicados. A nota que emitiu é um primor de equilíbrio e clareza.

*Ouvimos, de uma pessoa que conhece bem essas brigas entre empresas: “E o pessoal da UFRJ…Quanto levou nisso?!”. Diante das “explicações” dadas pelo diretor do IPPMG, ficou evidente ter sido a VAIDADE aquilo que o moveu. Dizer: “Sou cumprimentado por onde passo!” seria mais adequado a um apresentador de auditório. Eis a grande praga do mundo moderno: o poder da mídia para arrastar pessoas ávidas por autopromoção.

**Um dos seus métodos preferidos era fuçar o lixo das pessoas. Há um simbolismo nessa conduta típica dos ratos. Hoje, soubemos que os alemães, a pretexto de defender a natureza, voltaram a vasculhar o lixo uns dos outros. Não nos enganemos, os móveis são os mesmos. É para esse esgoto moral que querem arrastar toda a Europa.

Vice- Diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ