Temas e Controvérsias

O GLOBO E A APROXIMAÇÃO BRASIL/CUBA

(Quem tem medo...Especialmente na SAÚDE?)

Depois de “ajoelhar no milho”, OGLOBO fez, finalmente, o seu “dever de casa” em relação à visita de nossa presidente à Ilha. Efetivamente, ficou muito feio não reproduzir seu discurso por lá e dar, na mesma edição, a íntegra da carta do ex-presidente da Casa da Moeda (aliás, muito bem escrita). Louvemos a sensibilidade do “maior jornal do país” à crítica aos seus, digamos assim…excessos na traição ao espírito jornalístico¹! Poucas vezes foi vista uma perda de senso de medida como aquela. É verdade que esperou uma “segunda-feira magra” de carnaval (cerca 1m depois) para fazer um “mea culpa” e apresentar as razões e a estratégia de nosso governo para abrir canais de comunicação. Mas, como disse um amigo: “Antes tarde, do que mais tarde ainda…!”.

Pensando bem, há alguma filosofia nessa corruptela do ditado: sugere que, para coisas inevitáveis, o melhor é aceitá-las logo: “…A Aurora é lenta, mas avança…” (do poeta haitiano Jacques Roumain, citato por N. Guillém e traduzido por M. Bandeira). Aliás, esse verso talvez seja válido para os “dois lados”, uma vez que o gov. cubano parece ter se dado conta de que precisa atuar em função de uma “nova Aurora”, antes que seja atropelado. Seria triste ver uma Ilha “morrer na praia”, depois de nadar tanto! Quem sabe não vamos ajudá-la a ajudar o mundo na busca de um novo caminho para a organização da economia (da saúde…educação…) em função da sociedade?!

Voltemos a “O Globo”! O seu alinhamento ao “Tea Party” (seção Miami) foi de tal ordem, que chegou a violentar o mais sagrado “princípio” do capitalismo: “Dinheiro não tem ideologia“. Aliás as duas frases da tal blogueira, condenando os esforços brasileiros para o desenvolvimento ECONÔMICO da Ilha, mostraram a que ela vem: “O Brasil abriu a carteira, mas não abriu o diálogo; Estão fazendo um porto, mas não podemos entrar e sair por ele“. Será que se esqueceram dos esforços de seu ídolo Kissinger na aproximação com a China?! Estará o “Tea Party” enciumado?! Será que ainda sonham em ser donos da Ilha?! Sob qualquer ponto de vista—salvo se terroristas—aqueles avanços econômicos deveriam ser saudados!

Mas, pensando bem, talvez eles tenham razão, segundo seu próprio conjunto de idéias, é claro! Um dia temeram que Cuba se tornasse um laboratório para exportar a revolução socialista. Agora, talvez temam que a aproximação Brasil/Cuba, gere experimentos a serem usados em outras partes. Nesse sentido, a SAÚDE está no centro das atenções. Nosso governo vem tentando vencer as resistências do CFM para aceitar a participação de médicos cubanos na nossa saúde pública. Depois de um início atropelado, como parece ser a característica principal de um “trator” chamado Padilha, quem sabe não será possível voltar atrás e começar de novo, só que em outras e melhores bases. É o princípio do “Zipper”: “quando engasga, melhor voltar, senão arrebenta“.

Quem pode negar o sucesso obtido pela Ilha nas áreas mais básicas: saúde e educação. Seus índices são muito bons e desmistificam a crença na tecnologia como fator determinante na sua obtenção. Os médicos cubanos têm uma história e formação muito diferentes, inclusive em termos de origem de classe. Os nossos são, ainda e em grande parte, muito sensíveis aos apelos da riqueza e à mistificação do sucesso midiático. Isso não se muda por decreto! Os atropelos do MS, nesse sentido, têm sido contraproducentes. Começaram seus ataques violentando o grupo de médicos de maior espírito público e onde poderiam encontrar aliados: as pessoas ligadas à RMédica.

Mas nem tudo está perdido! Por isso, perguntamos aos nossos colegas do CFM: 1-se a interiorização da assistência à saúde urge (como admitem); 2-se os médicos brasileiros não respondem (em números) de maneira suficiente a essa urgência; 3- e se há uma insuficiência de médicos no Brasil, por que não admitir a vinda de colegas de Cuba? Apenas por defesa de um “mercado” que nesse caso, e por definição, não existe (pelo menos no sentido que dão à palavra)? Ou seria apenas por vaidade e medo de que nossa omissão ficasse evidente? Quem sabe um sucesso nessa empreitada não há de ensinar muita coisa para o mundo? Por que não começar o projeto por algumas regiões mais carentes e delimitadas, avaliando seus efeitos? De qualquer maneira, há que vencer o impasse!

¹Afinal, apesar de ter como lema o “muito mais do que o papel de um jornal“, foi como jornal que toda a rede começou. Além disso, sempre que um jornal diminui o papel de um jornal, priorizando e agindo em função de “algo para além”, confessa estar sendo usado para fins, digamos assim…menos nobres do que os da boa imprensa.