Temas e Controvérsias

PSICOPATIA: SURFANDO NA ONDA DO TERRORISMO MIDIÁTICO!

"O que pode levar alguém a usar a palavra PERIGO em vermelho e preto para o anúncio de um Congresso? Placas de PERIGO costumam anunciar um...perigo ali ou logo à frente. O maior deboche que vi a respeito foi na entrada de um túnel onde havia uma placa: "PERIGO: OBRAS NO TÚNEL". Algum engraçadinho escreveu apenas um "C"....COBRAS NO TÚNEL".

(“Repensar o conceito de Psicopatia”? Que tal começar por abandonar o termo?)
Márcio Amaral vice-diretor IPUB

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Deve ser muito bem vindo um Congresso médico versando sobre a PSIQUIATRIA FORENSE! E como ela tem despertado interesse nos últimos tempos! Que tenha como tema principal a condição de maior dificuldade em delimitar, também é elogiável. É esperado, contudo, que pessoas da área comecem por se esmerar nas DENOMINAÇÕES. Afinal, a linguagem talvez seja o nosso maior instrumento. Como dizem as Escrituras, “NO INÍCIO ERA O VERBO”. Assim, não é preciso ser etimólogo para saber que o termo PSICOPATA deveria, caso o sufixo fosse respeitado, ser aplicado apenas a DOENÇAS (“da alma” ou mente). E então começam os problemas, pois a condição que o termo denomina não se trata de uma doença propriamente dita (por definição) mas “apenas”: a manifestação de um traço de conduta nas relações sociais que é, a um só tempo, INFLEXÍVEL E DESADAPTATIVO (DSM III-1980).

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RESPEITEMOS K. SCHNEIDER, PELO MENOS, ALÉM DO DSM-III!

Mas esse não é o único problema naquela aplicação do termo. Quando K. Schneider, grande referência na área, o utilizou em sua obra clássica foi para denominar pelo menos 10 personalidades anormais (no sentido estatístico ou da pouca frequência) que sofriam ou faziam sofrer a sociedade com suas manifestações. Ou seja, não bastava que os TIPOS tivessem perfis “anormais”, no sentido da baixa frequência. Era necessário que sofressem ou fizessem sofrer a sociedade como consequência daquele traço ou característica muito desviante da norma**. E muita gente não entendeu isso bem. Dentre aqueles tipos estariam os assim chamados “PSICOPATAS DESALMADOS”, aqueles que protagonizavam as situações mais aberrantes dentre todas, especialmente do ponto de vista da associação com crimes aberrantes e repetidos. Talvez por isso mesmo, e pelo apelo sensacionalista que tem (além do descuido dos profissionais da área), o termo PSICOPATA acabou por ser de “uso exclusivo e específico”*.

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CIENTISTAS E TÉCNICOS SE CURVANDO AO DITO POPULAR

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Não brigo com a linguagem popular, ela sempre acaba por se impôr. Quando se trata, porém, de linguagem técnico científica as coisas devem ser bem diferentes. E eis que o DSM-III trouxe a solução: considerando que uma boa denominação é aquela que mais se aproxima do fenômeno que visa denominar, a expressão ali proposta: PERSONALIDADE ANTISSOCIAL soou como uma espécie de “OVO DE COLOMBO” (há referências de que E. Kraepelin já utilizava o termo). Afinal, o que mais caracteriza essas pessoas é exatamente o fato de suas atitudes serem permanentemente voltadas contra a sociedade. Mas eis que, quando tudo parecia resolvido, e a expressão tendia a se impôr…o apelo midiático soou mais alto. Muitos colegas da área devem ter considerado, certamente influenciados pela mídia, que a nova expressão não causava o mesmo “efeito” e começaram a “surfar na onda” da maré midiática um tanto terrorista de controlar as sociedades através do medo. Entre a ciência e a vontade de aparecer, ficaram com essa última.
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“PERIGO”: “TERRORISMO” MAIS EXPLÍCITO…IMPOSSÍVEL!

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Desde que o espírito científico se desenvolveu, voltou-se à diminuição dos medos e pavores que assolavam a sociedades. Esse é um dos efeitos mais marcantes do ILUMINISMO: eliminação (ou diminuição) das trevas e a geração de uma sensação de mais confiança. E eis que a dialética implacável, com seus choques inevitável entre contrários, fez-se novamente presente: os próprios cientistas sentiram—penso que sequer se deram conta disso—ser o medo um dos maiores atrativos para as grandes massas e passaram a utilizá-lo como um instrumento: 1-antes de controle específico (I. Média, o Inferno, etc.); 2- depois de atração midiática; 3- por fim, nos dias que correm, novamente de controle social**. Assim: vários asteroides têm passado quase “roçando” a Terra; epidemias vão colocar em risco o futuro da humanidade; os antibióticos não mais terão o efeito buscado; doenças insuspeitadas nos matarão a todos; as drogas vão destruir as famílias, e assim por diante. Sem querer negar a gravidade de alguns desses alertas, a gente do povo sempre que percebe (inconscientemente) esse tipo de conduta, protege-se e tende a não mais acreditar neles. É possível até que o perigoso descaso para com as vacinas decorra disso…além das manipulações que têm sido feitas com algumas: falsas e perigosas***.

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*Sua formulação é muito engenhosa e cuidadosa: haveria, sim, muitos outros tipos de personalidade desviantes da norma: alguns cientistas que se isolam em seus laboratórios; instrumentistas que se isolam da sociedade e assim por diante. Como, porém e por definição, não causariam mal à sociedade, não deveriam ser objeto de interesse psiquiátrico propriamente dito.

**O resultado é o medo em relação aos semelhantes de forma generalizada. Já eu, em vez de ficar dando ênfase à atitude sedutora/manipuladora dos outros, preferi a pergunta: por que me deixei manipular? Assim, desenvolvi instrumentos bem mais efetivos para cortar o risco na raiz e sem generalizar.
***A OMS considerou a epidemia do H1N1 uma PANDEMIA UNIVERSAL (grau 5); liberou vacinas não testadas suficientemente e que provocaram problemas sérios (Narcolepsia em jovens, comprovada na Escandinávia) sem que seus “benefícios” (além das contas bancárias) se comprovassem.

Vice- Diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ