Temas e Controvérsias

REVISTA ADUFRJ: QUASE “ESTELIONATO ELEITORAL”?

REVISTA ADUFRJ: QUASE "ESTELIONATO ELEITORAL"? (A defesa do "MUNDO MERCANTIL": tudo teria um preço...contábil?)

Revista adufrj 3 1NOTA*: Considerando que a chapa vencedora das recentes eleições representa uma continuidade na ADUFRJ, das duas uma: ou a atual direção quer enquadrar a que vai entrar, delimitando suas ações, ou as duas protagonizaram uma variante daquilo que ficou conhecido por “ESTELIONATO ELEITORAL“. Afinal, tinham projetos e farto material já prontos para colocar em discussão, mas não o fizeram. Envolviam coisa tão graves! Vejamos: 1– defesa da entrega a empresários de PATRIMÔNIO (parte do CAMPUS PV) da UFRJ; 2– defesa da EBSERH (atentando contra a nossa AUTONOMIA). Seu passo em falso foi ir “com sede demais ao pote”, talvez pela pressa de dar uma resposta aos seus “apoiadores externos”. Afinal, esse governo não deve se sustentar por muito tempo e a EBSERH talvez “vá com ele para o ralo”. É hora dos estudantes e funcionários (já com nova representação) cobrarem da ADUFRJ a discussão que não houve no período a isso destinado. Acompanhando de longe a campanha eleitoral chamou minha atenção a total falta de TESES defendidas pela chapa que venceu. Limitavam-se à apresentação de apoios NOTÁVEIS, muitos dos quais sei que não comungam com as teses apresentadas na REVISTA que vamos discutir em 2 etapas.
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1- O MUNDO MERCANTIL…UNIVERSIDADE À VENDA?
“Para algumas pessoas na UFRJ parece existir um MUNDO NÃO MERCANTIL paralelo, que está localizado no Fundão e em algumas áreas da Praia Vermelha e do centro da cidade, que deve ser mantido puro. Pasárgada...” (“Magnífico Dilema” por Carlos Frederico Rocha, debochando do que julga um “idealismo” da atual Reitoria).
TRADUZINDO: tudo é baseado no mercado; tudo tem seu preço, contábil…e em moeda sonante… E eu que sempre pensei haver no mundo VALORES MAIS ELEVADOS!!
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Fingindo estar preocupado com a situação do HUCFF (“pegando carona” na crise), o vice diretor da ADUFRJ (no texto de abertura da REVISTA) deu amplo destaque àquilo em que parece estar verdadeiramente interessado: a ENTREGA de nosso CAMPUS da PV aos EMPRESÁRIOS DO RAMO DE ESPETÁCULOS. O motivo aparente do seu texto era a defesa do HUCFF. Entretanto, com uma PIRUETA fantástica e nada disfarçada, condenou os esforços de várias REITORIAS pela retomada daquele espaço e direito de seu uso. Bastava isso para a conclusão: é pessoa sem honestidade intelectual, defensor do “VALE TUDO” e do “quem dá mais”, venha de onde vier. Como é típico do CINISMO nesses casos, debochou até do que é “socialmente referenciado”:
” …Essa agenda do bloqueio (dos tais “negócios e acordos”)…privou a cidade de sua principal casa de espetáculos e não encontrou uso alternativo ao sucateamento”.
Essas são palavras ditadas pelos interessados e apenas “papagueadas”. Antigamente, eles usavam R. Cravo Albin (e outros) para fazer a defesa descarada do assalto ao nosso patrimônio. Agora…não precisam mais: encontraram professores e ENTIDADE dispostos ao papel…(quem sabe moeda?). Sim! Tem gente que se presta a qualquer papel. Se a intenção fosse boa, a ADUFRJ teria proposto à Reitoria algo como a entrega do espaço, por exemplo, a ela mesma para desenvolver atividades culturais um pouco mais dignas do nome e não a…“CASAS DE ESPETÁCULOS!”. Nesse caminho, não demora e vão propor “acordos” para empreendimentos imobiliários na P. Vermelha.
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QUEM QUER IR PRÁ PASÁRGADA? OS AMIGOS DO REY…
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Mas foi quando se meteu a citar coisas fora do seu alcance intelectual que o engraçadinho se deu mal. Referiu as atitudes da Reitoria como se por lá recitassem o verso: “VOU-ME EMBORA PRÁ PASÁRGADA” (M. Bandeira). Bem…o poema não se resume ao primeiro verso! Certamente é o que ele deve conhecer! Mas se lesse seu segundo verso…veria que estava (ele mesmo) fazendo uma CONFISSÃO: “…Lá sou amigo do rei..”. E que Rei seria esse senão versões diversas do “pai de todos os empresários” de casas de espetáculos: CHICO RECA…REY? Em tempos de “Roquinrio”, aliás, fica mais uma suspeita no ar: quem sabe se animaram para instalar ali alguma exposição permanente. De quem, então estaria ele sendo PORTA-VOZ? Mete-se a falar de MEDICINA, mas parece gostar mesmo é de “MEDINA…& Cia”? Como um bom “pescador de águas turvas”, apenas se aproveitou da nossa fraqueza em torno da discussão sobre o HUCFF! Mas ele devia mesmo era seguir para o terceiro verso do poema, no qual o “amigo do Rey” diria: “..Lá tenho a mulher que quero/Na cama que escolherei..”. Bem…até isso alguns empresários são capazes de oferecer. Quem sabe não vão fazer “espetáculos de CAN-CAN no CANECÃO? E como ele seria ali bem tratado! Talvez como o “mais VIP dos VIPs”..quem sabe até com camarotes e escolhendo as camas. SUPOSIÇÃO A VERIFICAR: teria havido algum “adiantamento” nesse tratamento “SUPER VIP”? Teriam ocorrido já regalias (entradas, camarotes, jantares, etc.) nessa edição do “trator globalizante” (nada contra o Rock, mas o seu uso) que esmaga a cultura dos locais onde se instala?
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MENOSPREZANDO NOSSA LUTA POLÍTICA CONTRA A EBSERH
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Para que se veja o pouco cuidado com que tratam a luta política, o maior acontecimento das últimas décadas na UFRJ foi qualificado como um “Debate turbulento”: a afirmação da AUTONOMIA UNIVERSITÁRIA ignorando a tal empresa que nos queriam impor. O mesmo articulista engraçadinho, agora mudando de “representação”, mas mantendo o estilo, disse: “…foi assim que a UFRJ não aprovou a alternativa governamental para a gestão de seus hospitais: a Ebserh…Os dois maiores beneficiários da não aprovação da Ebserh…(Reitor e Diretor HUCFF) trocam acusações…Bloquearam uma solução e acabarão fechando o HU…”. Vaticínios, especialmente os mais destrutivos, costumam revelar mais desejos e intenções do antecipação de riscos para evitar certos caminhos. Mas…deixemos essa triste figura de lado. No seguimento, são apresentados gráficos comparativos entre os diversos HUs pelo Brasil. Apesar de haver ali inúmeros erros (apontados por Fátima Silianky), há de ser útil para a discussão. Mas pouco honesto mesmo foi calar sobre outros HUs da nossa Universidade, a maioria com indicadores MUITO melhores do que quase todos ali. Sua comparação com os demais não seria razoável, dadas suas destinações por demais específicas. Mas sequer fazer um registro! A intenção parecia mesmo ser “carregar nas tintas” do nosso pretenso fracasso. Mas há outras razões para isso:a única justificativa moral possível para a entrega de nossos HUs a gestões alienígenas seria uma INCOMPETÊNCIA nossa INSUPERÁVEL para gerir e unidades como ME, IPPMG, IPUB são sua negação. Inúmeras vezes disse a Jofre Amin e Maria Tavares que, apesar da sua aceitação (à época compreensível) da EBSERH, era a competência de suas administrações aquilo que mais servia de ANTEPARO ANTI-EBSERH. Por isso, é natural que a EBSERH se cale sobre essas unidades. Extemporânea também foi a defesa do “modelo HCPA”, calando quanto a receberem eles mais recursos públicos do que as 8 unidades da UFRJ juntas e ainda que dividem seus pacientes em “de primeira e segunda classes” (PlanosXSUS).
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Por fim, uma última “pérola” daquele que adora debochar…mas talvez tenha razão, pois quando tenta ser sério…um desastre: “…Não há pior destino para o setor público do que perder a qualidade”. Não, colega Carlos Frederico Rocha! Perder a dignidade, por exemplo, é muito pior. Perder valores internos, então, pior ainda. Perder qualidade, aqui ou ali, momentaneamente e por razões alheias à nossa competência (falta de pessoal, insumos, aparelhos e outros), acontece com frequência nas nossas unidades. Caso não tenhamos perdido o VALOR interno—IMPALPÁVEL e não “mercantil”—logo recuperamos a qualidade. Vejam o que é a convivência: há ali, de novo, a linguagem do industrial/comerciante em relação às suas próprias MARCAS: perder qualidade=perder fregueses. Quando acontece, apenas mudam a marca. Já a nossa “marca principal”; da maioria das pessoas ligadas à UFRJ e muito para além de rótulos, essa…nós não queremos perder ou mudar…Muito menos ela está à venda!
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*Este texto estava pronto quando alguém me chamou a atenção para o fato de um dos artigos da revista ser assinado por mim juntamente com o Prof. Nelson Souza e Silva. Essa companhia é sempre honrosa e o que vai ali escrito é aquilo que pensamos. Se eu tivesse ideia, entretanto, de que aquele material seria veiculado junto com uma um texto como o que aqui critico, não o aceitaria. Quando li os primeiros artigos da Revista fiquei tão indignado que nem verifiquei bem os últimos textoS. NÃO HÁ ALI UM ÍNDICE e o primeiro artigo depois do EDITORIAL, volto a dizer: implica um “pegar carona” no nosso drama para defender o que há de pior para a UFRJ.

Vice- Diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ