Arte e Cultura

SUÉCIA SOCIALISTA: ELOGIADA PELA DIREITA E ATACADA PELAS “ESQUERDAS”

(COVID: mentes capturadas pela polarização JMB X GLOBO)

"Aquarelas de Carl Larsson (1853-1918): coleção Ett Hem (Um Lar) e outras de seu livro Åt solsidan (O Lado Ensolarado). São cenas que o povo sueco continua a cultivar. Há ali uma ingenuidade que aprecio muito."
Homens suecos comendo fora.
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NOTA: taxas brutas anuais de mortalidade (2018) nos países escandinavos: Suécia: 9,4/1000; Dinamarca-9,1; Noruega-8,0; Finlândia-10,1. São dados muito estáveis e confiáveis. Sua importância será entendida no seguimento do texto. A palavra socialista implica: regime que valoriza mais os interesses SOCIAIS do que os do CAPITAL; no qual até este último é obrigado a trabalhar segundo aqueles interesses. Nenhum outro país tem uma história tão longa de gestão socialista como a Suécia. Quando, nos anos 1930, TODOS os regimes europeus sofreram uma guinada à DIREITA, a única exceção foi a Suécia (E. Hobsbawn “A Era dos Extremos”).
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Quando dois conjuntos de ideias se contrapõem, ambos NÃO podem estar certos. Seria um PARADOXO. Já quanto a estarem errados…! É o caso da contraposição entre o “elogio” que JMB fez do que chamou “modelo sueco” de lidar com a PANDEMIA—usando seu “exemplo” para defender o fim do isolamento por aqui—e o ataque ao mesmo por M. Freixo. Mas há pelo menos 3 traços que aproximam os 2 contendores: a ignorância, o efeito midiático e a pouca responsabilidade. Comecemos pelo mais fácil de derrubar; JMB e as razões pelas quais a defesa das práticas suecas,  por aqui, seria de uma irresponsabilidade total:
1- A Suécia tem um dos sistemas PÚBLICOS mais efetivos do mundo. Seu povo confia muito no seu funcionamento e na resposta que tem dado aos problemas de saúde, em geral. Confiam tanto que até superestimaram sua capacidade INICIAL de responder às demandas que quase os sufocou*.
2- A ECONOMIA não pesou nas decisões de lá. Seus determinantes foram ligados ao que há de mais importante nas relações humanas: sua CULTURA, marcada pela não aceitação da invasão do ESTADO das vidas particulares; um culto à AUTONOMIA individual e um amor quase desmedido à vida ao ar livre e paixão pelo sol (aceitem os exageros, por favor, e reparem nos quadros). Sua economia, a propósito, vai sofrer apenas um pouco menos do que as  demais em um mundo interligado.
3- Não há ali grande ADENSAMENTO POP., sequer na sua maior cidade (cerca de 1 milhão de pessoas em uma área enorme). Trata-se do mais extenso país europeu e com uma pop de cerca de 10, 2 milhões de pessoas que, em média, adotaram as medidas sugeridas.
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As bases era boas, mas eles mesmos reconhecem que a “onda” inicial foi bem maior do que esperavam. Estou certo de que, hoje, fariam nelas alguns ajustes. Pelo menos por um erro eles sofrem, admitindo amargamente: o não fechamento e controle imediato dos asilos de idosos. Mas, até nisso, seu móvel inicial foi a GENEROSIDADE: não se deveria cassar assim o direito dos idosos terem contato com seus familiares. Os FATOS se mostraram bem mais cruéis do que esperavam. Cerca de metade das suas mortes pelo COVID deram-se entre aquela população.
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OMS: “..os países que não foram atingidos no início podem ser atingidos em uma segunda onda”
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E OS SOCIALISTAS DAQUI..QUE NUNCA GERIRAM A CONTENTO!
​O que estão dizendo? Capturados pela polarização “global” e já um tanto escravizados (sem disso ter consciência) pelo espírito midiático, surfaram rapidamente em uma onda que parecia bem fácil. Sim, é muito difícil não partir da condenação quando nos deparamos com as taxas de mortes ocorridas por lá (e digo isso também do meu esforço aqui). De um intelectual, entretanto, tudo o que se espera é um APROFUNDAMENTO do estudo das situações—com o qual as mídias não têm compromisso—e não julgamentos muito rápidos e um tanto levianos.
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De um socialista ligado à CULTURA, espera-se que tenha sensibilidade especial para com a …CULTURA e também que pelo menos respeite um sistema que premia as decisões de seu povo. Como sabemos, as medidas aplicadas na Suécia foram discutidas no parlamento e com a sociedade. Podem até estar erradas, mas os métodos precisam ser valorizados. Não devemos aceitar um “condutor” (“Füeher”) ou coisa parecida. Além disso, espera-se também que um intelectual não se deixe controlar pela MÍDIA (tão mais cuidadosa na Suécia) e suas ambições de poder. E ainda, que consiga separar o que visa um cuidado com a saúde do é apenas manipulação para controle social através do medo.  Só para dar um exemplo, o “projeto regional de tiranete” (WW) já anunciou que, caso a vacina não chegue, NÃO HAVERÁ CARNAVAL! Como ele detesta o carnaval—essa enorme expressão de LIBERDADE popular e cultural—deve adorar uma PANDEMIA que viabilize suas intenções nada edificantes.
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Mulheres suecas
“Mulheres com trajes típicos da festa de midsommarafton (solstício de verão), de origem pagã e encampada pela igreja sueca”.

VAMOS AOS NÚMEROS E PORQUE NÃO DEVEMOS JULGAR JÁ!

Considerando a não perspectiva do desenvolvimento de uma vacina até o ano que vem (18 m é a previsão mínima de quem entende) e que nenhum país há de ficar em isolamento até lá (?), aqueles que evitaram a “primeira onda” (ou mitigaram suas consequências) teriam maior risco de ocorrências em número superior do que aqueles que não se isolaram tanto. Assim, as contas referentes ao número de casos fatais por COVID—e seu peso na mortalidade em geral—só se completarão no final de 2021. É possível também que se desenvolvam práticas, no período, que diminuam a mortalidade. Em números aproximados, a Suécia tem cerca de 95.000 mortes anualmente; e os demais países escandinavos, cerca de metade disso**. Ao final de 2020, a taxa bruta para a Suécia deverá sofrer um acréscimo significativo, o que talvez não ocorra para os demais. Já no ano seguinte, é provável que isso se inverta. É bom não esquecer também: 1- uma boa parte dos que faleceram talvez tivessem falecido por outras razões ainda neste ano mesmo; 2- contrabalançando as contas, a proteção para o risco de COVID pode ter se associado a uma elevação dos números de mortes por outras razões, como o suicídio, por exemplo (cujos números têm decrescido significativamente na região).
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Pelado no banhoDe tudo isso há que concluir: evitemos a politicagem e as conclusões precipitadas***. Já por aqui, há que ter algum PRINCÍPIO para a discussão do fim do isolamento. Acho que encontrei um que pode resolver o impasse:  é impossível liberar pessoas, para trabalhar, sem lhes oferecer o mínimo necessário ao tratamento em caso de adoecimento (como uma rede de proteção). A maior vergonha nacional é haver gente morrendo na fila por respiradores. CRITÉRIO: as liberações REGIONAIS para normalização progressiva da vida, começariam somente quando não mais houver pessoas sem acesso aos meios indispensáveis: leitos de UTI com RESPIRADORES.
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*Tenho duas filhas suecas em atividades ligadas à saúde, uma delas se formando em S. Social  e outra enfermeira em atividade no “front”.
**Não é algo fácil tratar desses números friamente.
***Quem quiser ver um relato muito verdadeiro e poético a respeito, basta ler: