Arte e Cultura

A. GAUDI: A ARQUITETURA COMO METÁFORA DAS REL. SOCIAIS!

(Em plena maré FASCISTA, a apresentação do único poder que deve interessar)

Márcio Amaral, vice-diretor IPUB

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NOTA: O texto abaixo não chega a ser uma continuação dos imediatamente anteriores versando sobre HAMLET, mas foram inspirados na discussão ali travada quanto ao que seria um “bom poder”: sua concepção e exercício permanente. Um dos pontos mais altos daquela peça é o monólogo do próprio em que discute sua própria inércia, mas também os absurdos que se cometiam (e cometem) no exercício do poder. Abominar o tipo de poder que conhecia até então (inclusive por parte de seu pai), mas não encontrar e desenvolver alternativas para ele, esse o DILEMA que estaria na origem de sua paralisia diante do poder em geral: “…Ser verdadeiramente grande/É não se agitar sem uma causa maior…/Como é que eu fico então…Deixo tudo dormir? E, para minha vergonha,/Vejo a morte iminente de 20000 homens/Que, por um capricho, uma ilusão de glória/Caminham para a cova como quem vai para o leito,/Combatendo por um terreno no qual não há espaço/Para lutarem todos e nem dá tumba suficiente/Para esconder os mortos?... ” (Ato IV-Cena 4). HAMLET, diante de preparativos para uma batalha um tanto despropositada. Curiosamente, foi um arquiteto (Gaudi) quem resolveu aquele DILEMA.

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O PARABOLÓIDE é o PAI, o superior que se adapta a tudo; que supre os demais sem os suplantar, tal como deve ser a missão superior….Os PARABOLOIDES unem tudo porque as partes do HELICOIDE são PARABOLOIDES e as partes dos HIPERBOLOIDES também” (A. Gaudi, em texto exposto no MAM recentemente. Ver texto completo.*). No outro extremo dessa formulação do arquiteto estaria a figura do “FÜEHER” (CONDUTOR)  aquele que dá ordens e pune (até executa) quem desobedecer. Quando A. Gaudi (1850-1926) formulou a sentença o FASCISMO já imperava na Itália e avançava a passos largos na Alemanha.

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Antes que a palavra “PAI” da citação acima seja anatematizada, vamos substituí-la por: “PODER CUIDADOSO”, que se fez e mantém em função da melhor adaptação e expansão de uma comunidade qualquer e não do NARCISISMO tolo de alguém; independentemente do gênero daqueles que o exercem. Bastaria a continuação da leitura da sentença original, aliás, para ver que esse PODER estaria bem longe do despotismo: “o superior que se adapta a tudo”E a maravilha, então, do: “supre os demais sem os suplantar”! Curiosamente, há 2 espécies de primatas entre os quais aquele “poder que se adapta a tudo” é muito óbvio: os GORILAS de costas prateadas e os “macacos GELADA” da montanhas da ETIÓPIA. Em ambos os casos, são as fêmeas que conduzem os machos…mas discretamente…como costuma ser o caso nesse gênero. Esses são espalhafatosos em suas exibições de músculos e dentes, mas estão TOTALMENTE a serviço das fêmeas e das crias. Engana-se redondamente quem pensa ser o ALFA necessariamente o mais forte nessas comunidades de primatas. As fêmeas os escolhem e reconhecem apenas quando (e enquanto) são os mais agregadores. No caso do gorila, sua função primordial (além da reprodução, é claro) implica dirimir conflitos, especialmente entre os mais jovens.

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E OS NOSSOS ÍNDIOS COMO EXERCIAM PODER?

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Poucas pessoas têm ideia do impacto mental e ideológico que a descoberta do Brasil teve sobre os europeus—muito maior, no princípio pelo menos, do que as descobertas mais ao norte—especialmente entre os franceses (nos anos 1500, pelo menos). A Europa estava tentando se livrar dos horrores medievais e da INQUISIÇÃO e eis que se descobrem povos que, sem o seu Deus medieval tão terrível, viviam muito bem. Quem mais louvou os nossos índios foi M. DE MONTAIGNE (1533-96), o pensador renascentista por excelência: o mais influente de seu tempo e mesmo depois. E como influenciou a obra de Shakespeare, Cervantes e outros! Diante dos hipócritas que acusavam nossos índios de CANIBAIS, demonstrou Montaigne que o ritual era uma espécie de homenagem ao prisioneiro morto: só acontecia se ele tivesse demonstrado bravura. Havia belos cânticos cuja letra ele reportou, arrematando com um deboche da hipocrisia europeia: “O que é comer ritualmente uma pessoa morta perto de queimar pessoas vivas?“. Estavam em seu auge as guerras religiosas e os horrores da INQUISIÇÃO tinham atingido o paroxismo. Vejam o relato que colheu sobre como as coisas se davam nas relações com as mulheres por aqui a partir de pessoas que tinham vivido no Rio de Janeiro:

“…Há sempre um ancião que, de manhã, antes da comida, faz prédicas a todos, passeando de um lado para o outro, e repetindo várias vezes a mesma exortação até dar a volta à casa (porque são construções que medem uns bons cem passos de comprimento). Só lhes recomenda duas coisas: valor para se defrontarem com os inimigos e amizade para com as mulheres. E jamais deixam de ponderar esta última obrigação…”. (“DOS CANIBAIS”)

Hoje, parece que “descobriram” terem sido as mulheres a base daquela sociedade. Isso já fora demonstrado por Morgan entre os índios norte-americanos e reportado por Engels no seu “História da Família, da propriedade privada e do Estado”. O poder masculino que se seguiu, gerou—a partir da fixação com o cultivo do trigo—os templos fixos, o aprisionamento da mulher, a escravidão, a prostituição e assim por diante.

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A TOLICE DO “MUITO CACIQUE PRÁ POUCO ÍNDIO”

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Whashington Novaes, jornalista que viveu entre nossos índios, assinalou alguns traços fundamentais daquela cultura: 1- índio adulto não obedece a ninguém. O cacique é apenas o mais reconhecido por suas boas  decisões em batalhas. Assim, o dito “muito cacique prá pouco índio” não tem qualquer relação com aquela cultura; apenas reproduz as nossas próprias deformações e tendência à SUBMISSÃO A QUALQUER “PODER CENTRAL”; 2- Há conselhos de idosos compostos por antigos caciques nos quais discutem-se o que interessa à comunidade. Temos tanto a aprender com eles! De minha parte, e  nas situações em que exerço algum poder—intuitivamente e de alguma forma—é a maneira como tenho exercido esse poder até hoje. Certa vez, ouvindo de um antigo funcionário, diante de minhas perguntas quanto à sua opinião antes de tomar uma decisão: “Manda Dr que a gente faz!”. Ao que respondi saber ele mais sobre o assunto específico do que eu. Quantas vezes um funcionário salvou um diretor de apuros somente por não levar adiante uma de suas sandices!!! A uma enfermeira que me disse “Pode mandar! Eu sou bem mandada”. Respondi: “Então não serve prá trabalhar comigo!”. Quantas enfermeiras salvaram pacientes (e médicos) somente estranhando alguns deslizes cometidos por médicos nas prescrições!!! Cheguei mesmo a cunhar uma máxima debochando do ditado muito tolo e facilmente identificável: “Manda quem não sabe ouvir, discutir, convencer e/ou ser convencido. Obedece quem não descobriu a força da luta social”. E isso não deve ser confundido com indecisão, fraqueza, etc. Já nas CASERNAS a regra é exatamente OPOSTA. SIM! O militarismo estava na base e origem do FASCISMO.

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*”O uso das superfícies regradas é lógico devido à sua superioridade plástica e por sua facilidade construtiva. O PARABOLOIDE é o PAI, o superior que se adapta a tudo; que supre os demais sem os suplantar, tal como deve ser a missão superior. A forma própria do suporte é o HELICOIDE acabado, com base e capitel que são HIPERBOLOIDES maciços (a resistência), e as abóbadas remetem aos HIPERBOLOIDES vistos por dentro, posto que são as formas apropriadas para a luz. Os PARABOLOIDES unem tudo porque as partes do HELICOIDE são PARABOLOIDES e as partes dos HIPERBOLOIDES também” .

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