Arte e Cultura

A VANGUARDA MODERNA NÃO QUER O PODER….FORMAL!

(“HAY GOBIERNO...……?“)

Márcio Amaral

"Somos mesmo muito engraçados! Nem os integralistas conseguiram deixar de ser originais ou romper com nossa cultura! O "ANAUÊ" é muito indígena; as camisas verdes, muito brasileiras, enquanto o símbolo (curiosamente martelado na gravura), completamente influenciado pela suástica."

A primeira metade do século XX foi marcada pelos “grandes líderes”, “Fuheres” e “condutores das massas”. Assim foi com a pequena vanguarda do partido bolchevique; com o Partido Nacional Socialista, fundado por Hitler (com um punhado de homens grosseiros em uma cervejaria de Munique_; com os “Camisas Pretas” do “Duce” Mussolini e outros menores. O que tinham em comum? Acreditar que sabiam (com certeza e bastando apenas determinação) qual era o único caminho que a sociedade tinha que trilhar para alcançar uma curiosa “glória” que haveria de ser, na verdade e em última instância, a sua própria glória pessoal.

Muito típico também, foi o esforço dessas “vanguardas” para implantar o mesmo processo e caminho para toda a humanidade. Diante disso, alguns poderiam dizer: “mas, então, se era tão pessoalassim, e se queriam impôr o seu caminho para toda a humanidade, como fizeram uma aliança: Hitler, o “Duce” e os líderes japoneses?”. Respondo: essas foram apenas alianças de caráter absolutamente oportunista e momentâneo. Por essa razão, aliás, o nazi-fascismo não tinha qualquer possibilidade de se impôr ao mundo. No momento em que vencessem, romperiam as alianças e começariam a brigar entre eles mesmos. IDENTIFICAR (ou criar) INIMIGOS, e atacá-los preventivamente, estava na origem de toda a ideologia nazi-fascista. Aliás, e para alertar quanto a alguns episódios modernos, sempre que um país qualquer se atribui o direito de realizar “ataques preventivos” a outras nações (como defendem EUA e Israel), esse país começou a se mover no sentido do imperialismo à maneira romana: simplesmente não aceitam outras forças que possam concorrer com a sua própria: Delenda est Cartago*.

P. Laplace
P. Laplace

Falei na palavra pessoal (ou individual), mas aquele estava longe de ser um processo movido a decisões e escolhas racionais e conscientes. Em verdade, esse tipo de liderança surgiu a partir do colapso, ocorrido no final do século XIX, do sonho de auto-regulação das sociedades. Até então, o modelo que imperava (formulado por uma certa intelectualidade, mas com amplos efeitos em toda a sociedade) era o da “sociedade máquina”—movida a leis próprias e caminhando em perfeita harmonia para um progresso inevitável— e fôra (!) consequência da Revolução Industrial. Se os homens, com suas “máquinas maravilhosas”, tinham sido capazes de tantas proezas insuspeitadas e se, pelo menos nas cidades, a riqueza aumentava a olhos vistos, aquele deveria ser mesmo o sistema ideal. Seus ajustes seriam sempre espontâneos e baseados apenas nas leis fundamentais do capitalismo, especialmente: 1-a “lei” da oferta e da procura e as “leis” da auto-regulação pelo mercado; 2a “afirmação dos mais capazes” e a submissão (podendo caminhar para a eliminação) dos “inferiores**”. Essa submissão, aliás, seria para “o próprio bem dos submetidos”, uma vez que o progresso capitalista haveria de beneficiar a todos***, acreditavam eles.

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Roosevelt

A principal influência intelectual, dando sustentação a essa maneira de ver a evolução do mundo e dos astros, provinha de PIERRE LAPLACE (1749-1827) com sua “Mecânica Celeste”, inspirada, por sua vez, em I. NEWTON. A própria Torre Eiffel (maior altura erguida pela mão do homem, até então, 1889)—com suas linhas harmônicas e geometricamente impecáveis—simbolizou o apogeu desse período. Sua derrocada, a partir do entrechoque de todos os imperialismos de uma única vez, é amplamente conhecida. Fracassada a crença na ordem automática, sobrou a crença nas grandes e férreas vontades…como se essas “vontades” fossem tão autônomas assim! O conceito de Deus já sofrera um abalo irreversível com a Revolução Francesa. Como, porém, a humanidade não vive sem deuses, foram inventados deuses um pouco mais próximos e muito perigosos. A grande exceção em todo esse processo veio dos EUA. Franklin Delano Roosevelt nunca será suficientemente louvado: pela clareza de que não era uma espécie de “condutor” do povo americano; pelo esforço lento de convencer uma nação quanto à importância de um novo acordo social (“NEW DEAL”); por sua paciência, levando o povo americano, lentamente, e sem recorrer a ameaças ou terrorismo, à entrada na guerra anti-nazista, deveria servir de inspiração a todos aqueles que pensam poder exercer algum papel transformador e progressista nas diversas sociedades.

(Continua: “Os Princípios que Deveriam Nortear essa Vanguarda”)

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*Que Cartago seja destruída!, repetia Catão, “O velho” (por volta de 140 AC), somente por estar se desenvolvendo rapidamente e estar próxima de Roma. “Se eu não a destruir, ela me destruirá”. É como funcionam muitas mentes ainda hoje. Contrariamente ao que dizem as autoridades israelenses, a expectativa de destruição mútua, associada à bomba atômica, tornou-se uma espécie de garantia anti-guerra. E Catão era considerado o moralista e censor mais virtuoso de toda Roma!

**Afinal, seria a partir dos pontos “mais fracos” de uma sociedade que ela evoluiria (Nietzsche). Da mesma forma que o crânio cresce a partir da sua “moleira” (de maneira a poder acomodar o cérebro) e os ossos longos nas suas epífises.

 **Só para que vejamos como as mudanças de mentalidade demoram, mais de cem anos depois, e mesmo depois do colapso de Wall Street, a mesma argumentação continua a sustentar os Republicanos nos EUA.

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