(Logrados no “Legado”! O grande LEGADO DA COPA há de ser a nossa luta!)

Márcio Amaral

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Em debate no “Entre Aspas” (Desmilitarização das PMs): Cel José Vicente (Centro de Altos* Estudos de Segurança de SP) e Renato Sérgio de Lima (Fórum Nacional de S. Pública), uma informação fornecida me fez ver o mal que a FIFA pode fazer aos países por ela ocupados: A África do Sul, que conseguira abolir seu correlato à nossa PM—e para efeito de satisfazer à FIFA—fez sua reintrodução durante a COPA e não mais a eliminou desde então. Não vou discutir a desmilitarização das PMs. Já o fiz (com as limitações e alcance possíveis) em texto anterior. Diante daquela informação, entretanto, uma coisa ficou absolutamente clara para mim: AS PMs SÃO INSTRUMENTOS VISANDO O “APARTHEID”, seja ele absoluto—como o foi na África do Sul, agora substituído por um “afastamento voluntário entre as raças” e sem mexer nos privilégios econômicos dos brancos—ou “light” como nesse nosso país, com suas sequelas de um espírito escravagista que teima em não ir de todo embora. Sentindo-nos “LOGRADOS no LEGADO”, o que nos resta é aplicar uma política de REDUÇÃO DOS DANOS DA COPA. A FIFA faz suas fezes por aí, joga areia (com as patas traseiras), e vai defecar em outro lugar. Depois que “A B..NDA PASSAR”, nós vamos ter que limpar.

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Voltemos às UPPs! Tomemos as coisas pelo seu melhor lado e acreditemos que seu objetivo fosse mesmo o restabelecimento dos direitos dos moradores das comunidades e a melhoria de sua qualidade de vida. É verdade que o termo PACIFICAÇÃO é péssimo, pois vem carregado de guerra. Mas…Acreditemos na boas intenções! Há mesmo pessoas, entre seus idealizadores, que estavam imbuídos desses PRINCÍPIOS. Quinhentos anos de história e muitos séculos de escravidão (ver canção abaixo), iniquidade e opressão, entretanto, não desaparecem de imediato. Então, posso ter a certeza—até por uma questão de lógica—de que uma outra força também trabalhava nas mentes daqueles que tocaram o projeto para a frente: a opressão e confinamento das pessoas das comunidades em certas áreas, de maneira a atender principalmente aos interesses da “gente do asfalto”…nós mesmos. Por isso, todas as pessoas começaram a ser tratadas como suspeitas por lá: toques de recolher, revistas generalizadas nas entradas das favelas, etc. Em muitos casos, tornaram-se áreas de segregação onde os direitos humanos e de cidadania DE TODOS estavam suspensos. Quem duvida de que, no jogo daquelas duas forças, é a segunda que está imperando no momento? A morte do bailarino foi uma bofetada em Beltrame e ele afinou**. Está dizendo o que a “sua comunidade” quer ouvir. O BOPE voltou e já está falando em “confronto direto”. Leiam-se: assassinatos e roubos generalizados. O “cortar na carne”, há de ser na dos outros.

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Em seus “melhores momentos”, e apesar da manutenção das condições de vida nas “comunidades” em geral, as UPPs deflagaram um esforço de “moralização das condutas”, como se aqueles jovens pudessem (ou quisessem) se tornar “nerds, mauricinhos e patricinhas” de uma hora para outra. Nem a própria PM sabe bem o que isso significa e sequer o que ela mesma está fazendo. A rigor, a PM é constituída, na sua maior parte, por pessoas que têm a mesma origem, mas que romperam com sua própria cultura e a cultura da cidade. Agora, ficam TENTANDO IMPINGIR VALORES QUE LHES FORAM IMPOSTOS (ou aceitaram) SOBRE JOVENS QUE OS REJEITAM. Em resumo, há uma questão cultural envolvida no problema: enquanto não for resolvida, não daremos um passo adiante sequer. As comunidades não querem se transformar naquilo que o “asfalto e as autoridades” dizem que elas têm que ser. E que não venham com essa história de patriotismo, hasteamento de bandeira e hinos! Ainda bem! “Ainda resta um pouco de esperança”, pois foi dos morros que sempre vieram as maiores inspirações para a riqueza da cultura de nossa cidade.

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e O que me dizem da proibição de bailes FUNK nas favelas, justificada como erradicação do comércio de drogas? E que parem de falar na prisão de traficantes como OBJETIVO das UPPs! Existe tolice maior do que perseguir o FUNK? Já ouvi até conselho de que se tirassem todos os coqueiros das praias para que mendigos não dormissem sob eles… Essa gente moralista é mesmo uma espécie de “água sanitária”. Se é assim, então que se fechem os bares da Lapa e as boates da ZS! O que está em jogo é apenas mais um esforço de opressão cultural sobre os morros. Não suportam bem “A VOZ DO MORRO”. O mesmo foi feito contra o samba na primeira metade do séc XX. É através daqueles bailes que as “comunidades” se afirmam e afirmam seu próprio poder e força cultural. Essa perseguição ao FUNK tem um simbolismo enorme. Pois se até o Príncipe (ainda existe essa coisa) Charles arriscou uns passos de samba, por que Pezão e Beltrame não podem ensaiar alguns de FUNK?

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Brincadeiras à parte (mas por que não?), é somente através da cultura que os povos, as classes (melhor que elas não existissem) e raças podem se aproximar e irmanar.Gostar de FUNK? Ninguém é obrigado a. Eu também “Não sou do tempo das armas/Por isso ainda prefiro/Ouvir uns versos de um samba/Do que escutar som de tiros…”. Mas…o que estão querendo? Que os jovens cantem: “Quando derem vez ao morro toda a cidade vai cantar…”? Ou então “Vai barracão!/Pendurado no morro/e pedindo socorro/ À cidade aos seus pés…”. Seria um anacronismo, não? Que ninguém fique aos pés de ninguém! Eles são do tempo das armas e, por isso mesmo, são A VOZ DO MORRO. Por todos os lados que se analise, O FUNK É UMA EXPRESSÃO DE CULTURA E DAS MAIS EXPRESSIVAS EM RELAÇÃO À SUA ÉPOCA E GRUPOS SOCIAIS.

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Voltemos ao drama dos PMs, esses brasileiros como todos nós, apenas que órfãos de sua própria cultura! Um certo Cel Mário Duarte escreveu no “Metro” um texto bastante elucidativo (“Um coletivo Chamado Polícia” 30/4): “A polícia está com medo…meus ex-subordinados têm-me revelado que há muito não se sentem tão inseguros…o que lhes assusta é algo que não sabem definir e nem entendem…Eles não sabem o que é ideologia e não aprenderam sobre lutas de classe…Nossos policiais sabem que a maior parte da mídia, o pessoal dos DHums e toda uma gente autoproclamada ‘progressista’, não se interessarão por sua sorte…Nossos policiais não sabem que também são um coletivo”. Mas uma coisa todos já sabem muito bem: ESSE SENHOR SERÁ CANDIDATO NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES e já tem sua plataforma e seu projeto de “curral eleitoral”. “Quem me adula, algum mal vai me fazer” (H. de Balzac). Que os PMs se cuidem com essa adulação!

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Poucas vezes os PMs foram tão sutilmente agredidos, pois tratados como seres incapazes de compreender o que está se passando no Brasil e com eles mesmos! Que o “bombardeio anti-ideológico” que sofrem por parte de seus superiores não propicia essa compreensão, já sabíamos. Mas eu nunca os considerei incapazes para isso. O Cel, que não perde a referência da SUBORDINAÇÃO mesmo depois de reformado, falou em coletivo, mas se esqueceu que um coletivo é composto de indivíduos autônomos: TRATOU OS MEMBROS DE SUA CORPORAÇÃO COMO UMA MASSA AMORFA. Como entendo seu desabafo? Finalmente os PMs foram atingidos por valores culturais e da classe a que pertencem na origem; começaram a se libertar das amarras da submissão mental a seus superiores, eles mesmos submissos. Nessa transição, sentem-se mesmo inseguros: um conjunto de valores falsos e frágeis se quebrou, um outro está a caminho, mas ainda não se formou. É notícia auspiciosa.

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*Se há algo com o que implico logo de cara, é com o uso dessa palavra para denominar grupos de estudo em geral. Na UFRJ também os há. Expressam um narcisismo que costuma não resultar em bons e humildes estudos. É o seu resultado que dirá se um estudo foi “alto” ou não. Essas práticas nos reportam a algo pré-revolução de 1930.

**Deixemos de lado, em todo esse raciocínio, o que se está passando na Maré. Lá também, ao que parece, as autoridades do Estado “afinaram”, só que em relação às F. Armadas: está em curso por lá uma muito perigosa “intervenção branca” no Estado, tudo em função EXCLUSIVAMENTE dos interesses da FIFA.