Arte e Cultura

DEMÓSTENES! NO PARLA-MENTO, FALAR É FAZER!

Márcio Amaral

O Brasil quedou pasmo diante do argumento de Demóstenes: “Não me julguem pelo que falei, mas pelo que fiz (ou não fiz)”. Tudo poderia ter sido complementado assim: “Sou um falastrão, um histrião! Não me levem a sério! Aqui, no parla-mento, tudo o que fiz até agora foi representar, histriônicamente, um papel que muitos levaram a sério. Perdoem a decepção que causei!”.

Estávamos todos curiosos quanto à capacidade imaginativa dele e de seus advogados. Que argumentos teriam para abalar a convicção nacional na sua culpa? Como nos demonstrariam que o quadrado é redondo? Nem apelando para o primeiro Demóstenes! Apesar de tudo, entretanto, não deixava de ser interessante, ao menos para uma investigação psicológica, testemunhar as contorções que uma mente humana pode dar para tentar sobreviver. Demóstenes mais se parece com uma ostra viva sobre a qual alguém está espremendo um limão. Sua cara, entretanto, era mesmo de pastel: batido, sovado, virado e revirado. Quanta humilhação pode um ser humano suportar!?

Desde a Grécia antiga, o falar é identificado com o fazer (H. Arendt: A Promessa da Política). Uma das marcas da escravidão(e dos figurantes de novela) era exatamente o não fazer uso da palavra. No caso do PARLA-MENTO, lugar para  qual as pessoas vão exatamente para FALAR, contudo, aquela distinção soou tosca e tola. Como, porém, entre seus arguidores ninguém o percebeu, o argumento ficou sem resposta à altura. Será que não há uma ética e um decoro para as palavras, ESPECIALMENTE NA SUA UTILIZAÇÃO POR UM PARLAMENTAR? Que me perdoem seus “quase hábeis” advogados, mas aquilo causou algum impacto apenas porque seus contendores não estavam lá muito preparados para derrubar sua frágil tática. Sua aparente esperteza só é efetiva pelo pouco preparo dos contendores.

O SIMPLES DESRESPEITO AO FALAR E ÀS PALAVRAS ERA SUFICIENTE PARA CARACTERIZAR UMA QUEBRA DE DECORO POR PARTE DE UM PARLAMENTAR: “fim de papo”, diria o povo na sua sabedoria! Demóstenes não teve decoro no uso do instrumento para cujo uso foi mandado a Brasília. Em uma conversa de bar, ninguém seria condenado por dizer que era sócio de um “bicheiro” ou coisa parecida. Na maior parte das vezes, o mero falar que fez, ou que vai fazer, alguma coisa não caracteriza crime. Em um tribunal, entretanto (e até diante de uma CPI), uma mentira pode levar alguém à cadeia. Para alguém que foi um PROCURADOR e se tornou um SENADOR, não há sequer o direito de cogitar de um argumento desses.

E a recusa a falar no dia seguinte? Difícil saber o que foi pior! CCachoeira tem o direito de ficar calado. Faz parte das manobras dos criminosos…e até de não criminosos, quando diante do arbítrio e o despotismo. Já para um PARLA-MENTAR, o silêncio diante de uma inquirição por seus pares, deveria soar como confirmação das piores possibilidades e acusações; algo como a recusa a ceder material para teste de paternidade, considerado suficiente para a confirmação da hipótese. DEMÓSTENES É O “PAI DA CRIANÇA!”. Mas…levando em consideração os termos de alguns dos diálogos, ele esteve mais para o “polo passivo da relação”. Mas o melhor de tudo mesmo, é ver os falsos moralistas desmascarados. Quem não tem um certo prazer em ver o desmascaramento de um descarado?

Portanto, meu amigos, a partir de agora, duvidemos todos, dos INQUISIDORES, especialmente os histriônicos. E dizer que ainda tenho esbarrado com várias “viúvas do DEMÓSTENES”! Quanta gente via naquele ser ridículo a “reserva moral da nação”!?

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