(Os muitos perigos de se dizer “avesso à política”: A BOLA DO JOGO)

Márcio Amaral, vice diretor IPUB

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SITUAÇÃO QUE INSPIROU O TEXTO: A ASSOCIAÇÃO  de funcionários de uma autarquia—cuja atividade tem confluência com a saúde coletiva—publicara denúncia FALSA de “grave contaminação em um de seus laboratórios”. O agravante seria que a DIREÇÃO estaria escondendo o “fato”. Foi quando ouvi um seu chefe de serviço, pessoa muito ligada a mim—funcionário público de carreira, orgulhoso da sua profissão e com um perfil humanista, bem próximo ao socialismo—falando coisas muito parecidas com o que dizem os reacionários em situações parecidas. Dei-me conta dos riscos que se corre ao acuar uma pessoa! Até INSTINTIVAMENTE, tendem elas a recorrer ao que está mais à mão como forma de defesa, especialmente quando não têm muita clareza na política. Essa a origem desse texto. Para sorte de todos, a publicação havia citado nominalmente um outro funcionário como a origem da denúncia. Este protestou veementemente e os editores da publicação foram obrigados a se retratar publicamente. “Adernar à DIREITA” é muito fácil quando se está acuado.

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O uso das aspas no título, e somente em “ESQUERDA”, foi em função de que o termo POPULISTA é o que mais define essas pessoas. Já o termo “Esquerda”,  nesse caso (no sentido de estar mais voltado aos interesses sociais, tentando “domar o CAPITAL*), não passa de um verniz contingencial e momentâneo. A questão essencial para essas pessoas é: ESTAR EM EVIDÊNCIA, conseguir cargos e posições…muito pessoais: “Um homem vale o que valer o cargo que ocupa” (de um padre em  “O VERMELHO E O NEGRO“- Stendhal). Já dos estragos que causam à sua volta…nem se dão conta…até que se arrebentem. Muito significativamente, são mestres na articulação e somente com pessoas parecidas e alguns incautos. Assim, formam certas redes de apoio voltadas para eles mesmos, mas sob o fino verniz da “luta pelos direitos do povo”. Essa é a razão, aliás, para que tantos deles acabem por mudar de lado sem muito constrangimento. No terreno mais amplo da política e quando têm algum poder, são aqueles que optam sempre por ações imediatistas e de apelo fácil como o consumismo deixando de lado o investimento pesado em serviços públicos**.

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OS QUE ABOMINAM A POLÍTICA…TORNAM-SE AS BOLAS DO JOGO!

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A equação é relativamente simples: de um lado, pessoas ávidas por projeção social a qualquer custo, além de um não muito pesado investimento no preparo técnico/científico mais específico e imprescindível à maior parte das atividades…técnicas; de outro, os bons técnicos…mas verdadeiros “avestruzes” na política: pessoas que, também e à sua maneira, separam a atividade técnica do seu papel mais próximo à sociedade que sustenta a todos e deveria dar SENTIDO à sua atividade. Esses não sabem que, do “jogo” da política a nenhum ser humano é dado se afastar completamente. Quem se recusa a “jogar” acabará por “ser jogado”, como se fosse a bola do jogo. E é nesse momento que, pressionados por todos os lados e priorizando, antes de tudo, os seus projetos de bons técnicos (ou pesquisadores em qualquer das áreas possíveis) acabam se aproximando (apesar do frequente constrangimento associado) daqueles que os adulam e acenam “À DIREITA”. Mundialmente, a direita conservadora (os que tudo fazem para conservar seus próprios privilégios) sabe muito bem da importância desses técnicos—inclusive do ponto de vista IDEOLÓGICO, pois a gente do povo também os valoriza e mistifica—acabando por conquistá-los. Felizmente, e entre nós, aquela que se costuma denominar “DIREITA” anda tão desmoralizada; as pessoas que com ela se identificam são tão primárias e aversivas para quem tem um mínimo de diferenciação intelectual, que não conseguem atrair para si esse manancial de apoio tão importante. FHC foi sua última esperança. Está ruindo juntamente com a imagem que ele mesmo criou e na qual tanta gente apostou.

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…E A “PROFECIA” ACABA POR SE CONFIRMAR!

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O coroamento do processo se dá quando aqueles mesmos técnicos começam a se definir…pela DIREITA. Então, os tais populistas—apreciando que seja assim— atribuem sua “definição pelos conservadores” como se fosse apenas um “destino de classe” (esquecendo-se de sua própria origem de classe); todos os bons tecnicos seriam nada mais do que carreiristas voltados somente a seus próprios interesses, etc. O outro recurso é a invenção de um FALSO DILEMA: a oposição entre projetos pessoais e o interesse coletivo. Não há nada de errado em levar adiante seus próprios sonhos e projetos! Ademais, quem disse que esses sonhos pessoais excluem os interesses da sociedade? Afinal, a tendência é que todo trabalho—envolvendo preparo técnico e esforço continuado—atenda a alguma necessidade da sociedade. Enquanto isso, os populistas, esforçando-se ao máximo para esconder de si mesmos a sua própria incompetência e roendo-se de inveja, seguem se enganando quanto a estarem defendendo os “interesses do povo”…Nada mais lhes resta.

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UM SOCIALISMO HUMANISTA E DEMOCRÁTICO É POSSÍVEL

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Falo agora aos que já adernaram à “DIREITA” e ainda estão por lá. Aliás é hora de deixar de lado essa coisa de “direita e esquerda”. Para tudo é preciso, antes de tudo…uma LINGUAGEM. Mudemos essa contraposição para:1- aqueles que defendem a tomada do CAPITAL como a REFERÊNCIA principal para uma sociedade qualquer (os CAPITALISTAS e seus aduladores; “VS” 2- os que—respeitando a enorme capacidade do capital para produzir riquezas—agem de maneira a garantir que tudo se dê SEMPRE em função do interesse social (os SOCIALISTAS). Muito tipicamente, os primeiros chamam os IMPOSTOS de “CARGA TRIBUTÁRIA”, pois “atrapalha e freia” a desenvoltura do CAPITAL. Já os SOCIALISTAS tratam os impostos como “TAXA DE RETORNO SOCIAL NA APLICAÇÃO DO CAPITAL“. A Suécia é sempre o exemplo que tomo como um país que tem conseguido DOMAR permanentemente esse “animal” rebelde. Aquilo que visam não é eliminar o CAPITAL, mas O PODER POLÍTICO DO CAPITAL (o CAPITALISMO propriamente dito). Quando, há alguns anos, os socialistas “apertaram o cabresto” no capital excessivamente, a sociedade viu nisso um risco ao crescimento e eles…PERDERAM A ELEIÇÃO. Aquele foi o grande momento dos sonhos capitalistas na Suécia! Em 4 anos fizeram 2 REFERENDOS (depois de campanha massiva) visando diminuir os impostos. Por 2 vezes ficaram a “ver navios”, pois disse o povo: deixem os impostos como estão e apliquem-no melhor. Logo depois…perderam as eleições e os SOCIALISTAS aprenderam a lição….a que tudo indica. E país avança com bastante harmonia social. Parece tão fácil!!!!

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*Trata-se de uma variante da sentença de OLOF PALME: “O CAPITAL é um carneiro que precisa ser mantido bem tosquiado”. Aquele PM sueco sabia muito bem que o CAPITAL produz riquezas muito melhor do que o Estado. Mas sabia também que, quando não “domado”, suas ações se voltam contra a sociedade e a natureza. A questão é acabar apenas com o PODER POLÍTICO DO CAPITAL, delimitando sua ação. O resultado disso é um avanço progressivo para um SOCIALISMO (poder político da sociedade e não das corporações) que mantém o progresso econômico (elevação do PIB, inclusive) sem perder a referência essencial: o interesse social

**São os bons serviços públicos (inclusive a educação) que EDUCAM verdadeiramente um povo em um sentido mais amplo. Assim, as pessoas percebem logo haver gente no poder preocupada com os mais necessitados. E como reagem rápido e bem! Já a EDUCAÇÃO básica, considerando que são os poderosos que a ministram, pode, ao contrário, mais atuar como instrumento de submissão do que libertação.