Arte e Cultura

FESTAS OLÍMPICAS: BELAS E SUPERFICIAIS

(Enquanto o SAMBA “passou batido”, o SURDO passou…”não batido”!)

Márcio Amaral

………….

indios

Tanto a ABERTURA como a FESTA DE ENCERRAMENTO das Olimpíadas foram muito elogiadas. Visualmente, até concordo, e nos dois casos. Na ABERTURA, entretanto, quanta pobreza musical e superficialidade! Tudo agravado por sermos: um país, um povo e uma cultura conhecidos pela riqueza de seus ritmos e melodias! Comecemos pelo mais gritante. Mostrar aquelas belas cenas envolvendo nossos povos originais (também chamados ÍNDIOS) sem se valer da música de Villa Lobos foi uma demonstração de total ignorância e insensibilidade para com nossa cultura. Afinal, ninguém (nem os maiores indigenistas, exceção feita para Rondon que era meio índio) identificou-se tão profundamente com aqueles povos como Villa. A razão? Essa aproximação (ou reencontro, pois quase todos somos um pouco índios) se deu através do canal direto para os sentimentos mais profundos: a MÚSICA; essa linguagem da “coisa em si” (Schopenhauer) o que, em termos humanos, significa NOSSOS SENTIMENTOS. Ver abaixo o “Finalle” de “A FLORESTA AMAZÔNICA” regida pelo maestro mexicano E. A. Diemecke. Mas…quem sabe aquela beleza profunda não ofenderia os corações superficiais que comandam todas essas grandes festas midiáticas?

Que oportunidade tantas pessoas perderam de serem tocadas mais PROFUNDAMENTE pela arte!

…………………..

Mas V. Lobos também escreveu ritmos de inspiração negra e africana. Seu melhor exemplo talvez seja “ESTRELA DO CÉU É LUA NOVA”, e com usou bem e inesgotavelmente a muito expressiva palavra “MACUMBA”!


Quem sabe, no casos de sua apresentação, alguns confundiriam cultura com religião? E então os negros foram ali apresentados apenas na sua quase nudez de escravos e sofredores. Sequer a CAPOEIRA foi apresentada e todos sabemos de sua penetração através do mundo. Mas a capoeira era AFIRMATIVA DEMAIS e os negros precisam ser mostrados, ao parece, como sofredores: “Um sorriso negro, um abraço negro/Traz felicidade…Negro é a raíz da liberdade. Sim! Faltou sua afirmação, e esta só poderia ter vindo através de seus ritmos e da sua percussão.

……………………….

Por falar em percussão, o que fizeram com o SURDO beirou o ridículo. Todos sabiam que tudo ali estava gravado e sendo reproduzido em “playback”: não se correm riscos quando a questão principal é o DINHEIRO. Pois bem: nos “quase sambas”—todos muito estilizados nas duas festas (tradução: depois de sacrificada sua alma)—não se podia ouvir a profundidade do SURDO. Não tinham sido gravados e não podiam ser batidos na hora da apresentação. E então, aqueles que os portavam ao ombro ficaram apenas roçando o couro com a baqueta. Era de doer! Bastava um surdo batendo (como na Sapucaí) para encher todo um Maracanã e quem sabe superar até a gravação. Mas o SURDO TAMBÉM É PROFUNDO DEMAIS. E ali a PROFUNDIDADE não cabia. Em Londres foi a mesma coisa e eu fiz neste mesmo blog uma afirmação que cada vez mais vem sendo reforçada. Aquela gente superficial não tolera o SURDO e a profundidade do samba. Ver em:

http://www.ipub.ufrj.br/cultura/sem-categoria/paes-triste-fim-de-gestao-pra-ingles-ver-i

………..

Por fim, valeu a lembrança do verdadeiro PAI DA AVIAÇÃO ao mundo. Mas alguém pode me dizer o que estava fazendo a Bünchen por ali? Conhecem o ditado “Como PILATOS no CREDO”? Eu que tinha considerado ter Pelé feito um papel ridículo ao se oferecer para levar a tocha, depois disso pensei que ele também cabia na festa.

……………

E A FESTA DE ENCERRAMENTO?

………….

vitalinoFoi musicalmente muito mais rica, mas o samba continuou estilizado e o SURDO… continuou a “passar não batido”. Muitas e boas referências ao NORDESTE—especialmente ao mestre Vitalino—mas o FREVO foi muito comportado e não “freveu”. Mulheres negras, com roupas típicas, mas sem cantar pontos de candomblé, como seria de se esperar. Contrariamente, cantavam a muito comportada e lírica “Olê Mulher rendeira…”.Talvez os organizadores não se tenham dado conta da bela e profunda mensagem contida naquela comunicação entre duas mulheres: uma certamente “recatada e do lar” e a outra uma mulher mais plena e querendo aprender com a outra. “…Tu me ensina a fazer renda/Que eu te ensino a namorar”. Toda a possibilidade da HARMONIA resumida em dois versos, ANÔNIMOS, diga-se de passagem! Seguindo no fluxo das Minas Gerais, como teria soado bem o “TRENZINHO DO CAIPIRA”!

…………………

Por fim, disseram que as coisas por ali se tornaram um carnaval da Sapucaí, mas ficou mais para BAILE DE COPACABANA PALACE*. Mas foi bonito ver aquele resumo e concentração do quanto jovens do mundo inteiro foram arrastados para o clima brasileiro de alegria e descontração: ali, talvez mais do que em todos os outros momentos—até porque não havia mais qualquer competição e ninguém era obrigado a sequer estar ali—houve uma LOUVAÇÃO À VIDA. Quem sabe Schiller e Beethoven não teriam dito: “Eis o verdadeiro HINO À ALEGRIA tornado verdade e fato. E é por isso que costumo repetir: O FUTURO DA HUMANIDADE e a recuperação da dimensão humana em todas as coisas, passam pelo Brasil.

…………………………………..FIM
*A rigor, ficamos, todos os cidadãos dessa cidade, na posição da SENZALA sendo visitada pela CASA GRANDE. Não somente os pobres, mas todos nós e o melhor exemplo para isso foi a abertura das comportas de esgoto nas praias, assim que acabaram as OLIMPÍADAS. A verdade também é que, nessa nossa simpatia generalizada, frequentemente somos mal entendidos e tratados como SUBMISSOS por muitos estrangeiros. Também, com um presidente desses e um prefeito sabujo, é natural que seja assim.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *