Entregar a divulgação de atividades ligadas à cultura e às artes às mesmas pessoas que divulgam sabonetes e automóveis pode ter consequências desastrosas. Na divulgação televisiva da “Folha de Literatura Ibero-americana” (iniciativa da Fl de SP), foram apresentadas figuras típicas de alguns países: Portugal (um velho aposentado e muito gordo), Espanha (um toureiro decadente) e Peru (um indígena de poncho e olhando desolado para a sua própria flautinha). Em todas as imagens e falas havia um claro deboche encerrado pelo texto: serão mostradas “pessoas muito mais interessantes” (do que aquelas), ligadas aos países (no seguimento, uma lista de grandes nomes da literatura Ibero-americana).
QUANTA IGNORÂNCIA! Os escritores apresentados somente escreveram obras imorredouras, PORQUE VALORIZARAM A SUA PRÓPRIA CULTURA E SUAS MANIFESTAÇÕES: vestes, instrumentos musicais, comidas e tantas outras expressões. Foram as próprias pessoas ligadas ao “marketing” que as transformaram em estereótipos, para efeito de venda, retirando sua originalidade. Agora querem simplesmente as atirar no lixo do deboche cínico. MAIS RESPEITO para com os povos e…com a literatura! A “Folha” não começou nada bem uma inicativa que deveria ser louvada por quantos apreciam literatura e artes.
MAS NÃO FOI SOMENTE ISSO! O “mau gosto engraçadinho” ainda não havia atingido o seu paroxismo. A última figura apresentada é de um mulher muito elegante, de branco e com uma “pashimina” (?) azul claro no pescoço que, depois de um longo silêncio, pede mais respeito. A princípio, pensei ser uma homenagem às MÃES DA PRAÇA DE MAIO, embora ela fosse um tanto jovem para isso. A intenção era maldosa e suja demais para que eu atinasse de imediato. Não! Havia um subtexto no silêncio. Alguém teria dito “em off”: ARGENTINOS FDP! Com meu pedido de perdão aos leitores, mas alguém tem que dar palavras a essa sujeira tola. Quem sabe não funcionará como uma espécie expurgo do pus de um tumor.
TODAS AS MÃES MERECEM MUITO RESPEITO, INCLUSIVE AS PROSTITUTAS QUANDO SUSTENTAM SEUS FILHOS*! Mas se existem mães a serem
louvadas, na história recente do mundo, são as argentinas que desmoralizaram e derrubaram um regime que apodrecia inevitavelmente. Mais respeito com as mães, com os argentinos, com as prostitutas e, especialmente, com a literatura!
*Aliás, quando vão incluir, nas homenagens ao dia das mães, as prostitutas que tiveram filhos e deles cuidam? Afinal, é a maternidade (em si) sagrada ou não?! Elas são as grandes esquecidas na comemoração. Por falar em “marketing”, talvez elas não “vendam” muito bem.
