Arte e Cultura

IDEOLOGIA DE GÊNERO X DESTINO GENÉTICO!

(FALSO DILEMA! Aceitar as pessoas como são…Eis a questão!)

Márcio Amaral, vice-diretor IPUB

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NOTA: o eventual leitor vai perceber uma assimetria nas críticas aos 2 lados em disputa. A razões são simples: 1- o tema precisa avançar para efeito de elevar a aceitação de pessoas cuja sexualidade “não segue o figurino” que os moralistas teimam em traçar; 2- os defensores do “destino genético” são os mais virulentos em suas considerações e têm se valido muito mal da palavra CIÊNCIA; sempre para justificar o que há de pior nas relações humanas. Antes que fiquem acusando um partido por ter implementado essa discussão, é bom lembrar que a ONU (1995) a recomendou através do mundo.

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Eis um tema que parece estar sendo discutido por “cegos intelectuais”! E por uma razão muito fácil de entender: os dois lados estão tentando SEPARAR aquilo que a NATUREZA não separa: genética e meio. Resultado: o “cabo de guerra” mais ridículo de que tenho notícia. De um lado, os defensores do DESTINO GENÉTICO: tudo se resumiria a um cromossoma Y; quem tem é homem e não se fala mais nisso...”aguente a condição e deixe de frescuras!”. Do outro, um certo prazer em confrontar—de forma pouco responsável—algo que é por demais arraigado na sociedade e cuja discussão ameaça muita gente. Há que reconhecer: um tema desses não poderia mesmo ser abordado sem causar celeuma… agressividade mesmo. Tentaram levar o pêndulo longe demais—com uma cartilha que “perdeu a mão”…no mínimo— e, quando ele voltou…quanta gente foi atingida no meio do caminho! De uma certa forma, andou-se para trás. É tema para abordar como quem aborda o “mingau quente: pelas beiradas”.

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DESTINO? FALSO!…CIÊNCIA MAIS FALSA AINDA

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Que a definição de gênero em qualquer indivíduo NÃO segue um “destino genético” atesta-o a própria virulência usada pelos que o defendem: se fosse um destino para que ficar brigando tanto por ele. Admitamos todos: há aqui um problema muito delicado que não é resolvido com discursos…se é que alguém o quer mesmo resolver. Além disso, só uma total ignorância quanto à relação existente entre GENÉTICA/MEIO poderia fazer com que alguém separasse o papel dos dois no que se expressa em qualquer ser vivo. Afinal, a própria genética (no sentido do que foi selecionado através dos tempos) existe EM FUNÇÃO da adaptação ao MEIO. Já para os seres vivos de agora, dizemos que o FENÓTIPO (aquilo que se expressa) é o PRODUTO (não a soma, vejam bem) entre a GENÉTICA e o MEIO. E já que falam tanto de ciência, talvez não seja demais citar alguns casos extremos observados na natureza em relação à definição de GÊNERO:

1-há uma lagartixa norte americana que simplesmente eliminou o macho. Reproduzem-se por cissiparidade, mas não dispensaram uma encenação de acasalamento entre lagartixas fêmeas (“lagartixas lésbicas”?) quando da produção de ovos…os machos ali tornaram-se, quando muito, uma “lembrança instintiva” ou uma “lenda”…morta mesmo.

2-há uma espécie de peixes japoneses (na natureza, mas também criados em aquários) onde o macho é bem maior e colorido (um vermelho muito chamativo), contrariamente às fêmeas que são escuras. Quando o único macho do ambiente morre, a maior das fêmeas sofre uma verdadeira metamorfose tornando-se…o “MACHO do pedaço”: cresce ainda mais tornando-se também vermelha (o); os animais (assim como nós) têm as suas próprias “bombas” hormonais.

3-para muitas espécies—rato toupeira e outros—a fêmea alfa consegue inibir completamente o desenvolvimento e maturação sexual de outras fêmeas na colônia; ou seja certos “desenvolvimentos” não seguem uma trilha inexorável até o seu “culminar”. O que está em jogo, e foi selecionado como o melhor para aquela espécie, é a adaptação da própria espécie. Sendo assim, mais cuidado ao usar a palavra “Ciência”!

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A PSICOLOGIA (DESENVOLVIMENTO) O QUE TEM A NOS DIZER?

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Parece ter sido Freud o primeiro a dar ênfase a uma certa indiferenciação—mal dizendo…mental—de gênero no recém nato e mesmo por um bom período do seu desenvolvimento. Era uma novidade considerável e muitos conhecimentos decorreram dessa observação. A genética era o óbvio e evidente, mas o vaticínio—“É HOMEM…ou MULHER!”—daqueles que davam palmadas em crianças suspensas pelos pés estavam longe de ser uma garantia de “evolução e desenvolvimento” até um destino. O próprio triste hábito dos “pais machões” de gritar com os meninos chorões “Parece uma mulherzinha! …Seja homem!” implica um reconhecimento de que é duro conseguir ser homem, implicando um longo processo. Bem…alguns criam logo uma carapaça e “vestem a fantasia” de machão. Outros apenas desenvolvem naturalmente certos traços típicos sem tantos conflitos. Muitos, entretanto, ficam completamente perdidos “nesse tiroteio” tentando ser aquilo que não conseguem e nem desejam, até porque percebem rapidamente a pobreza (estética, da expressão de sentimentos, etc.) do mundo dos estereótipos masculinos que conhecem*. Tudo isso deixando de lado as pessoas que tinham genética para um dos gêneros e que a secreção hormonal predominante levou ao desenvolvimento de carateres do outro gênero (considerando somente os universalmente reconhecidos).

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E O QUE MAIS INTERESSA? ACEITAR AS PESSOAS COMO SÃO!!!

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Quem me conhece desde a infância sabe que eu era um moralista e que já cometi assédios e tortura mental à minha volta, especialmente em relação a um irmão que se perdeu pelo caminho. Era um esforço (uma luta terrível, melhor dizendo) de preservação de valores. Minhas irmãs me chamavam de “Vovô”. E o que me salvou nesse processo? Eu apreciava demais certos valores, é verdade, mas apreciava, antes de tudo, as PESSOAS EM GERAL. Durante muito tempo pensava que as pessoas não abraçavam certos valores apenas por negligência ou provocação. Parecia fácil e, no entanto… E foi na adolescência, com o adoecimento (propriamente dito) de meu irmão, que fui confrontado com o maior de todos os dilemas: os VALORES (ditos morais) ou as PESSOAS? O dilema é artificial, mas é como tem sido colocado. Alguma disposição muito profunda o resolveu por mim. Estando ainda longe de conhecer B. Espinosa fiz naturalmente aquilo que ele um dia disse: “..somente um AFETO pode fazer frente a outro AFETO. A Razão é luz, mas não é fogo”; ela queda inerme e inerte diante deles. Um afeto oposto se me desenvolveu e eu estou aqui. No mais, considero essa discussão um “vespeiro” no qual não vale a pena mexer demais. Bem mais efetivo seria que as mulheres aplicassem mais e mais o seu poder. O poder machista tem sido a fonte de todos esses males.

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E O QUE NIETZSCHE TEM A DIZER A RESPEITO?

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Entremos agora na “PSICOLOGIA DO MORALISTA”. Quem pode negar haver VALORES? E também que quase todos aqueles que têm filhos gostariam de que desenvolvessem heterossexualidade; que gerassem filhos, etc.? Não vou negar que são VALORES. Agora, como disse o filósofo: “Toda VIRTUDE (ou valor) precisa ser referenciada aos seres humanos. Qualquer virtude que se perde nas nuvens volta-se contra os seres humanos” (“Assim Falava…”). Todos aqueles que se declaram “baluartes de valores ameaçados”, esquecendo-se dos seres humanos a quem esses valores deviam servir, tornam-se os mais perversos dentre eles. Vejam, por exemplo, pais que expulsam filhas de casa atirando-as à prostituição por conta de uma gravidez “não autorizada”. Eram tão amadas….mas…desde que…. Que droga de amor era esse? Puramente narcísico. Há alguma virtude nisso, ou era apenas aparente? Nada além de VAIDADE com um leve verniz recobrindo a pior das crueldades! E por que isso é a PIOR das perversões? Exatamente pela maneira como se esconde por sob uma capa de virtude. Assim, coloquemos os seres humanos: sua aceitação, evolução no sentido de tomar posse progressiva de suas capacidades, etc. como referência em todas as nossas práticas e tudo estará pelo menos equacionado.

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*foi o poeta Rimbaud quem afirmou: “O fenômeno poético só surge quando os dois gêneros se encontram em uma mesma pessoa!”. Uma coisa é certa: não veremos machões poetas nem mocinhas muito afetadas escrevendo poesia.

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