Arte e Cultura

MUSEU DO AMANHÃ: “APOTHEOSIS CLEAN” NA BAÍA SUJA!

(Cúmulo da agressão: DESPOLUIR? Quem sabe DEPOIS DE AMANHÃ?)

Márcio Amaral

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"Tira essa coisa daqui/Que está me fazendo mal/Pelo tanto que já vivi/Nunca vi nada igual...Ai! Nada igual..///Um branco fossilizado.../Que nenhuma vida comporta/Lembra osso já calcinado/Ou o pó das MONTANHAS MORTAS/ Ah!...Das montanhas mortas!///E o Pai das águas à moça clamou:/Zuimaluiti me ajuda/Dar fim a toda essa mágoa;/Acabar com esse mau trato/Junta com seu ARITI/Busca o 'NEGRO DAS ÁGUAS'/E vai chamar o PAI DO MATO/...Chama o Pai do Mato" (Canção aproveitando personagens da "TOADA DO PAI DO MATO" de M. de Andrade. Em vias de gravação)
“Tira essa coisa daqui/Que está me fazendo mal/Pelo tanto que já vivi/Nunca vi nada igual…Ai! Nada igual..///Um branco fossilizado…/Que nenhuma vida comporta/Lembra osso já calcinado/Ou o pó das MONTANHAS MORTAS/ Ah!…Das montanhas mortas!///E o Pai das águas à moça clamou:/Zuimaluiti me ajuda/Dar fim a toda essa mágoa;/Acabar com esse mau trato/Junta com seu ARITI/Busca o ‘NEGRO DAS ÁGUAS’/E vai chamar o PAI DO MATO/…Chama o Pai do Mato” (Canção aproveitando personagens da “TOADA DO PAI DO MATO” de M. de Andrade. Em vias de gravação)

Demorei muito a ter a clareza quanto à origem do meu enorme mal estar para com a imagem do referido “Museu do Amanhã” e seu entorno. Não me sinto em condições de julgar monumentos arquitetônicos contemporâneos e sei também que esses julgamentos são, com muita frequência, injustos. O mal estar, entretanto, ultrapassava em muito o “mero” julgamento estético (as aspas são por conta da importância da ESTÉTICA). Há na própria concepção daquele “museu” uma imoralidade intrínseca; um choque quase ofensivo. O branco fossilizado, em uma espécie de “APOTEOSE CLEAN“, ultrapassou em muito a questão estética do assim chamado estilo “CLEAN”: tudo o que é desprendido, “limpo” de artifícios. Entrechocado com o seu entorno, o “CLEAN” caiu diretamente na sua ORIGEM ETIMOLÓGICA: uma oposição à SUJEIRA E POLUIÇÃO EXTREMAS. Ou seja: tudo ali parece ter por fim ressaltar e chamar a atenção para as mazelas daquela que deu origem a tudo à sua volta: A BELA BAÍA DE GUANABARA. Sim! As pessoas se esquecem de que nossas cidades existem somente por conta da GUANABARA. E dizer que os índios a tratavam quase como sagrada! Seu nome, aliás, significaria “Seio do Mar”.

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Disso deriva uma constatação dolorosa, até mesmo do ponto de vista dos próprios inimigos da NATUREZA: se o hipotético “AMANHÔ por eles mesmos apresentado é assim—uma espécie de “ILHA CLEAN” em meio à maior sujeira que produziram—onde teria ido parar, então, todo o discurso de “SUSTENTABILIDADE”? CONCLUSÃO: o tal “MUSEU DO AMANHÔ é uma confissão de como funciona a mente dos detentores do CAPITAL e do PODER por aqui. Especialmente uma certa REDE GLOBO que explora o tal MUSEU. De uma coisa estou certo e isso vale para qualquer monumento: precisam estar em HARMONIA com o seu entorno. É um princípio. Caso contrário, torna-se um corpo estranho, nada mais do que uma ALIENAÇÃO em relação a uma cidade qualquer…além do mau gosto, é claro. Por falar em mau gosto, quem sabe não levantarão também alguns TAPUMES coloridos para esconder a sujeira à volta, como fizeram para esconder a miséria na Av. Brasil e Linha Vermelha? Tudo isso sem falar da pretensão de “aprisionar o futuro” a partir da estética dura e fria imposta pelo CAPITAL.

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(Ver texto de Sérgio Domingues): http://pilulas-diarias.blogspot.com.br/2016/07/o-museu-do-amanha-encalhado-em-sangue.html 

O branco fossilizado ofende não somente à GUANABARA: também aos muitos morenos e negros: índios que a adoravam e os escravizados que ali aportaram.

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E A TAL SUSTENTABILIDADE? ATÉ ONDE VAI A HIPOCRISIA?!

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"A dureza e a secura de um réptil; melhor: do fóssil de um réptil. Ao que parece não havia mesmo por ali qualquer espaço para a NATUREZA e suas árvores indispensáveis.
“A dureza e a secura de um réptil; melhor: do fóssil de um réptil. Ao que parece não havia mesmo por ali qualquer espaço para a NATUREZA e suas árvores indispensáveis.

Mas tudo isso tem o seu valor: o de desmascarar o discurso baseado na assim chamada SUSTENTABILIDADE. Está tudo muito claro por ali: IMPLICA nada mais do que continuar tomando o CAPITAL como referência e maior valor, em torno do qual tudo o mais tem que girar e se organizar. Como disse um ambientalista histórico, ainda nos anos 1960: “Na natureza somente duas coisas precisam estar crescendo permanente e desmesuradamente, o CÂNCER e o CAPITALISMO. Quem sabe não poderíamos juntar os 2 em uma só sentença? O CAPITALISMO É O CÂNCER DO PLANETA. Que os ingênuos (mas somente os sinceros) parem de pedir ao CAPITALISMO que se compadeça da NATUREZA e das pessoas que explora. Semelha a pedir a um vampiro que morda “de leve” o pescoço da mocinha! Não há mais espaço para “sonhos de harmonia” com os inimigos da natureza: quando falamos na tal sustentabilidade, estamos apenas implorando: “Por favor, sejam um pouco mais cuidadosos no processo de destruição da NATUREZA e mais condescendentes com os seres humanos”. Bem…como essas ações predatórias estão na alma do CAPITALISMO…

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Tudo se tornou tão claro nos últimos anos! Ingenuidades à parte, o DILEMA está posto: ou domamos o CAPITAL ou ele há de nos devorar, apenas mais cedo ou mais tarde. É A REFERÊNCIA que precisa ser mudada, voltando-se para a NATUREZA e os SERES HUMANOS. A situação é tão dramática que nem a expressão “MEIO AMBIENTE” deve mais ser repetida. Que o ambiente seja tratado como um FIM: objetivo principal e último. A humanidade agradeceria. E que o CAPITAL passe a servir à VIDA e não a ele mesmo, como no caso da obsessão com a elevação permanente das suas TAXAS DE LUCRO. Os seus próprios detentores tornaram-se dele uma MERO APÊNDICE; foram os primeiros a serem devorados. Salvemo-los do VENTRE DO DRAGÃO onde se debatem: os infelizes, torturados e torturadores de toda a humanidade. Em função de uma certa VONTADE DE PODER! Há tantas melhores formas de conquistar PODER e dessas, as melhores são sempre as mais INCLUDENTES.

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Por fim, para se ter uma ideia do descaso com que o GRANDE CAPITAL (através de seu porta-voz, E. Paes) continua a tratar a bela baía: confrontado com o fracasso na sua prometida despoluição da GUANABARA, disse ele com desdém (GNews, 2/8, 14:30): “É…Seria bom que tivesse sido despoluída…”. Algo assim tão banal quanto: “Seria bom que não chovesse!”; como se estivessem tratando de algo para além da sua responsabilidade. Apenas a expressão de um CÍNICO. Sua linguagem denunciou: o desprezo pela Guanabara havia desde o início! Mais um pouco e ele diria: “Teria sido bom que a CICLOVIA não caísse; que as vigas não fossem roubadas…”. É um IRRESPONSÁVEL: aquele que não responde por nada. Mais adiante, na mesma entrevista, e confrontado com outros fracassos, disse (citando N. Rodrigues): “É A VIDA COMO ELA É”. Na boca de um PREFEITO, eleito para tentar fazer a vida um pouco diferente, demonstrou bem sua falta de caráter…além de CINISMO, é claro. Sua marca principal.

1 Comment

  1. Muito bom, Márcio. No entanto, senti falta de uma breve ligação com a abertura da Olimpíada. Sobretudo na questão ambiental.

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