Arte e Cultura

NEURÔNIOS-ESPELHO E INTERSUBJETIVIDADE

(Neuropsiquiatria: descaracterizando a Psiquiatria como especialidade-II)

GIVE ME A SOUL!”

No embate pela demarcação de território entre a PSIQUIATRIA e a NEUROLOGIA—uma fronteira que deve ser muito porosa e cheia de pontes—temos ouvido que acontecimentos (e também modificações) no cérebro antecederiam e seriam uma condição para mudanças no comportamento. Até mesmo essa idéia deve ser relativizada. O surgimento, por exemplo, dos neurônios-espelho*, entre mamíferos e aves—responsáveis pela imitação e compreensão empática e, por isso mesmo, essenciais à vida gregária (LAMEIRA, AP: “Neurônios-espelho”, Psicol. USP, 2006)—não deve ser visto como fortuito; uma mutação aleatória e meramente “aproveitada” no comportamento. Se assim fosse, o primeiro ser que deles dispusesse seria, muito provavelmente, devorado pelos demais. Qualquer “pensar no outro”, isoladamente e sem que isso faça parte de uma prática gregária (adiando algum interesse individual) há de ser desastroso para o indivíduo. Por isso, é praticamente obrigatória a idéia de uma evolução simultânea desses neurônios entre, pelo menos, muitos membros de um grupo significativo de animais.

Não conhecemos trabalhos específicos a respeito, mas répteis e anfíbios, com quase toda a certeza, deles não dispôem. Seus agrupamentos não implicam qualquer ação compartilhada para além da reprodução sexual. Estão juntos apenas para competir por comida. A exceção é a mãe-crocodilo que protege os ovos, ajuda no nascimento e encaminha seus rebentos até um lugar seguro. Individualmente e em geral, os répteis nascem completamente preparados para a luta pela sobrevivência. Por isso mesmo, isoladamente, são muito melhor adaptados do que os mamíferos.

Apelar para o conceito de AUTOPOIESE (capacidade de “auto-criação”) não ajuda a entender o fenômeno ou avançar um modelo para a compreensão do seu surgimento. Seria uma capacidade das células, em geral, ou apenas de alguns neurônios para fazer desenvolver, neles mesmos, um potencial previamente existente? Que tipo de estímulo do meio seria necessário e suficiente para o seu desenvolvimento? Seria necessário algum hormônio para intermediar sua produção? De uma coisa podemos estar certos: se seu surgimento tivesse ocorrido de maneira fortuita, não teriam uma presença tão generalizada na natureza, comportando mamíferos e aves, seres que se dividiram (na escala zoológica) há muitos milhões de anos.

Quem sabe o estudo desses neurônios não obrigará a uma total revisão do processo pelo qual se dá a evolução? Tudo indica que as idéias de Lamarck não eram tão desprezíveis assim. Em princípio, podemos pensar em algumas modelos para o seu desenvolvimento:

1- estariam dentro das possibilidades (potencial) de adaptação progressiva das células nervosas em geral, dependendo apenas de estímulos progressivos do meio, intermediados (ou não) pela ação de alguns hormônios. Em princípio, e teóricamente, podemos pensar na possibilidade de alguns tipos de neurônio, sob certas condições, tornarem-se um neurônio-espelho. Achados recentes, demonstrando a enorme neuroplasticidade (termo que parece mais aplicável do que autopoiese, nesse caso) dessas células e sua capacidade de desenvolver novas funções, substituindo outras gravemente lesionadas, autoriza a hipótese. Contrariamente ao que se pensava antigamente, talvez os neurônios estejam entre as células mais adaptáveis a novas funções. Seriam eles quase “células-madre”**?

2- decorreram de alguma mutação que, em princípio, conferiu outras enormes vantagens ao indivíduo que a sofrera. É muito discutível ser uma sintonia fina com o que estaria se passando com os demais—quando surgida em apenas um—uma vantagem individual. Entre répteis, imaginamos que qualquer titubeio na execução de uma conduta de interesse individual, haveria de ser desatroso para o próprio.

Um desdobramento obrigatório, em relação a esses neurônios, é a comprovação de que a ONTOLOGIA é uma ficção, assim como a existência de seres isolados:

“…(Os homens agem) em função do fantasma de ego que sobre eles se formou, a partir das mentes à sua volta e lhes foi comunicado…vivem em uma névoa de opiniões impessoais…um na mente do outro…Essa névoa de opiniões e hábitos cresce de forma independente…; (gerando)…juízos universais sobre “o homem”—todos esses homens, desconhecidos de si próprios, acreditam na abstração “homem”, ou seja, numa ficção…”(Nietzsche, “Aurora”, aforima 105). O dilema “To be or not to be” não se refere apenas à oposição vida “versus” matéria. E, depois disso, ainda ouviremos falar de “puro reino das essências”, “dasein”, “ser do ente”, etc… Esse linguajar existencialista, saudoso dos “UNIVERSAIS” medievais…! Como alguém já disse, os alemães nunca aceitaram o ILUMINISMO.

Teriam os neurônios-espelho se desenvolvido apenas: 1-por um capricho da natureza; 2-por um programa divino para a natureza de elevar a vida a paragens morais cada vez mais elevadas; 3-teriam surgido a partir do dilema desenvolvam alguma coisa parecida com esses neurônios ou desapareçam como espécie? Essa última parece ser a melhor hipótese. Sem essa pressão pela sobrevivência, as coisas seguem simplesmente como eram. Os crocodilianos e os tubarões, por exemplo, até pela sua boa adaptação, não precisaram evolir muito por milhões de anos. A evolução é processo sempre dramático e não se dá por escolhas ou caprichos.

Todos conhecemos também a relação existente entre a ocitocina e os cuidados maternos. A partir dessa observação, muitos pensam nela como se fosse a causa do comportamento. Há, entretanto, uma outra forma de pensar que consideramos bem mais interessante: o comportamento gregário necessitava de um hormônio capaz de promover o comportamento que está na sua própria origem e o “inventou”. O perigo dessa formulação é pensar na existência de um “projeto da natureza” ou de Deus para ela. Seria, entretanto, razoável pensar nesses acontecimentos apenas como frutos de meros acasos? Da mesma maneira, podemos supor que o surgimento da reprodução sexuada não foi um acontecimento fortuito na natureza, mas em função de aumentar a diversidade.

Aliás, um dos maiores erros (de origem mesmo) cometido por todos aqueles que pensam na possibilidade da criação  de inteligências artificiais” (ou “robots” cada vez mais “próximos do ser humano”) é exatamente essa impossibilidade de reproduzir ambientes e relações imprescindíveis para o desenvolvimento de qualquer inteligência. Como, além disso, as funções intelectivas se ancoram em funções muito primitivas—haja visto o colapso daquelas funções sempre que um animal é impedido de dormir—o primeiro desafio seria dotar essas máquinas de sentimentos subjetivos. Com toda a certeza, nem Deus nem a natureza têm esse projeto. Uma anedota francesa, segundo H. Heine, fala de um “robot”, criado na Inglaterra, que atravessou o canal e passou a agarrar os transeuntes pelo braço, repetindo: “Give me a soul!” (alma). Mas, se até quem o engendrara já perdera a sua?!

*Está disponível uma considerável literatura a respeito desses neurônios. Não a conhecemos ainda suficientemente para aprofundar certas discussões. Por isso, vamos nos limitar a discutí-los quase como se fossem um CONCEITO, com múltiplos desdobramentos para: a evolução, a moral e a subjetividade, aliás INTERSSUBJETIVIDADE, como já faziam pensar os mitos formadores das várias culturas. Esses neurônios deveriam ter sido antecipados, como alguns astrônomos anteciparam a descoberta de planetas e químicos a descoberta de novos elementos. Trata-se de uma daquelas belas verdades que se nos impôem de imediato.

**Nem faz tanto tempo assim que a velha crença na não regeneração e inflexibilidade dos neurônios foi abandonada. Ela também “atendia” à falsa idéia de que a unidade de um indivíduo (ou sua “essência”) era dada pelos neurônios. O abismo que se abriu entre essa falsa crença e as descobertas recentes é tão grande, que séculos parecem ter se passado desde então. Com que arrogância fazíamos uma afirmação tão errada! Além disso, não apreciamos nem um pouco o termo “células-tronco”, afinal, há tanto “troncos” por aí (até mesmo no SNC). Tão mais bela é a expressão de nossos irmãos castelhanos!

1 Comment

  1. Não acredito muito na psiquiatria, pois segundo a Psiquiatria tradicional a esquizofrenia paranoide=mente dividida ainda é considerada incurável pela Psiquiatria tradicional, mas curável pela Hipnoterapia, ligada a Parapsicologia Científica, que não é desenvolvida no Brasil subdesenvolvido e sim na Alemanha, Bulgária, Rússia e Inglaterra, onde foi criada a Lei do Hipnotismo, que regulamenta o tratamento com a ajuda da Hipnoterapia Científica, pois eu passei por uma esquizofrenia paranoide por 14 anos, desde 1979 até 1993, tendo-me curado em 1994, com a ajuda de uma Dieta lacto-vegetariana, juntamente com a Hipnoterapia Científica, tendo lançado um livro autobiográfico em 2005 “20 ANOS DE BUSCA… A AUTO-ANALISE É POSSÍVEL. UMA HISTORIA DE VIDA “. Lagore (Pseudônimo) no qual há dois ensaios, sendo um deles sobre MEDICINA PREVENTIVA, BASEADA NA NATUROPATIA, QUE ENGLOBA FITOTERAPIA (BOTÂNICA), HIDROTERAPIA E A DIETA LACTO-VEGETARIANA e, também, um ensaio sobre HIPNOTERAPIA CIENTIFICA. Os psicólogos e psiquiatras não gostam da HIPNOTERAPIA CIENTIFICA, pois nela o próprio indivíduo é o seu psicoterapeuta, através da AUTOPSICOTERAPIA, ligada `a auto-hipnose. O que os psiquiatras acham da minha cura, de uma enfermidade, que é considerada incurável pela Psiquiatria tradicional ?

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