Arte e Cultura

O RIO PRECISA DE “VIRADÃO CULTURAL”?

(O ARPOADOR VIROU UM “GALINHEIRO AZUL”)
Márcio Amaral

O movimento pelas “viradas culturais” se iniciou em SP em 2005 e, desde então, tem exercido um grande papel em relação à cultura popular naquela cidade. Logo, alguém trouxe o movimento para o Rio, mas, por aqui, nunca se firmou verdadeiramente como um acontecimento importante para a cultura de nossa cidade. Por quê?

Antes de mais nada, há nisso uma questão conceitual, cuja origem se expressa até mesmo na denominação: “VIRADA CULTURAL”. Está aí explicitada a idéia de uma resistência e do esforço para inverter uma tendência, no caso: VIRAR O RESULTADO DE UM JOGO, ou, como costumamos dizer, “PRECISAMOS DAR UMA VIRADA!”. E não me venham dizer que essa é uma questão meramente semântica! Especialmente do ponto vista cultural, a mesma SP, que é tão bem provida de bons museus e que dispôe da melhor orquestra e coro sinfônicos do Brasil, é tão esvaziada quando se trata de cultura popular! QUE VIVA E PROGRIDA A VIRADA CULTURAL POPULAR E PAULISTANA!

Por essa razão, são tão boas as múltiplas—e aparentemente pequenas—expressões de grupos de teatro de rua, grupos musicais, artes plásticas e assim por diante! Chego ao ponto de afirmar que SOMENTE ESSAS PEQUENAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS TÊM IMPORTÂNCIA nesse tipo de promoção. O resto, é mera repetição de “shows caça-níqueis” que exploram o erário público e se repetem pelo Brasil afora, sem qualquer consequência cultural ou desdobramento palpável, no sentido, inclusive, do cultivo lento, de talentos e habilidades, por pequenos grupos ou individuos. Só isso poderia ser chamado de cultura propriamente dita.

E no Rio? O que temos no tal “VIRADÃO”? Ocupação perversa do espaço público, como no Arpoador, onde um palco violentou a beleza do lugar; cantores e grupos medíocres (na maior parte) de “amiguinhos do secretário”, etc. Quantos bons músicos e técnicos se esforçaram para colocar e sustentar no palco alguns tantos “bonecos” inventados pela Globo! Que fórmula desgastada! O RIO não precisa disso! Estímulo para apresentações de pequenos grupos, mais uma vez: de teatro, palhaços e outros—seja no subúrbio ou no centro—serão sempre bem vindos. Mas esses “grandes shows” (estava tão esvaziado e chocho!) podem até, ao contrário, ter um efeito perverso para a cultura da cidade: o esvaziamento de atividades musicais que se dão o ano todo.

E o fato da GLOBO ter monopolizado o tal “VIRADÃO”? Bem! A GLOBO não é lá uma referência muito boa quando se fala decultura (no sentido, de novo, do cultivo, lento e progressivo) propriamente dita. Para eles, o dinheiro sempre fala mais alto. É verdade que, de vez em quando, acertam em cheio, como no caso da competição de dança e coreografia entre cidades do Brasil. Da reunião de alguns milhares de pessoas simples, em torno de uma dança—que beleza a “DISPARADA” em Goiás!—haverá sempre de resultar uma experiência que dará bons frutos, muito para além da apresentação na TV. Parabéns a quem teve a idéia. Esse pode ser um bom destino para uma grande rede de TV: dar uma maior dimensão a manifestações locais, lá onde VERDADEIRAMENTE a cultura acontece.

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