Arte e Cultura

QUE O BRASIL SE ORGULHE DE SP…E ELE DO BRASIL!

(E num rio estava escrito o destino de uma cidade)

“…Eu sigo alga escusa nas águas do meu Tietê…”: “A Meditação Sobre o Tietê” M. de Andrade

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NOTA: tentando não ser injusto, aquilo que estou criticando: o sacrifício dos valores humanos no altar do lucro e de um tipo de desenvolvimento que esquece dos seres humanos, é comum a praticamente todas as sociedades ditas modernas e “industriais”. Em SP, entretanto, foram levados a um paroxismo perigoso e, o que é ainda pior: transformados em um valor a ser aprofundado e imposto aos demais brasileiros.

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“Sarcástico rio que contradizes o curso das águas E te afastas do mar e te adentras na terra dos homens, Onde me queres levar?…” IDEM

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Mário-de-Andrade_Tarsila_do_amaralQuem pode duvidar da importância de S. Paulo para todo o Brasil? Mas, se os paulistas gostam tanto da metáfora da LOCOMOTIVA, que sejam totalmente fiéis a ela! Nenhuma locomotiva existe como um fim em si mesma, mas para mover algum comboio. Caso contrário, seria transformada em uma “peça louca” girando a esmo ou se movendo sem destino ou qualquer utilidade. Nossos irmãos paulistanos ficam também muito preocupados com a morosidade dos outros Estados, mas se esquecem de que a velocidade de um comboio é dada pelo seu carro mais lento; assim como a resistência de uma corrente pelo seu elo mais fraco. Como é difícil pensar e agir assim: como crescer, avançar, mas sem abandonar os demais! E como faz bem conseguir manter esse conjunto de valores…não contábeis, diga-se de passagem! Lembrar-se, pelo menos de vez em quando, do “homem da Galileia” não faz mal a ninguém! Por não respeitar esses princípios, aqueles que controlam as forças econômicas e políticas de SP costumam apresentar ao Brasil o seguinte dilema: DOMINO, CONTROLO, SUBMETO “vs” AFASTO-ME, DIVIDO E ME ISOLO. Ainda bem que SP, até pelo seu destino geográfico, é inseparável do restante do Brasil! Estivessem eles lá no extremo sul…e as coisas teriam sido muito piores no que se refere aos esforços de manter a nossa unidade territorial. Ainda bem que os gaúchos já deram muitas provas de uma brasilidade enorme e muito entranhada.

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Por que me proíbes assim praias e mar…Me impedes a fama das tempestades do Atlântico…”? 

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soldado spAté hoje, os paulistas comemoram aquilo que chamaram uma “Revolução Constitucionalista de 1932”. Se a questão fosse “apenas” a exigência de uma CONSTITUIÇÃO*, teriam razão e estariam representando os interesses de todo o Brasil. Getúlio estava mesmo a caminho de se tornar um ditador quase absolutista. Depois da Revolução de 1930, tão louvada pelos poetas e artistas, o poder “constituído” continuava a protelar a convocação de uma Assembleia Constituinte. Qualquer poder, sem uma Constituição, tende ao Absolutismo*. O problema foi que esse argumento, para os que desencadearam a guerra separatista, mais se pareceu com uma desculpa para se isolar dor estante do Brasil. Quanta irresponsabilidade, e de todas as partes! Nem vou discorrer sobre esse acontecimento, mas o quanto de ridículo houve por ali pode ser representado por dois de seus “ícones”: a MATRACA (um objeto de madeira cujo som imitava a metralhadora, mas não matava ninguém) e a BATALHA DE ITARARÉ, aquela que não houve e que motivou a autodenominação humorística do “Barão de Itararé”. Mas nem tudo foram matracas e correu muito sangue; não daqueles que, como outras matracas, tudo fizeram para levar as coisas àquele ponto. E não é que as matracas estão de volta!

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“…Como é possível que o amor se mostre impotente assim/Ante o ouro pelo qual o sacrificam os homens…!?” IDEM

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A "Assustadora" Matraca
A “Assustadora” Matraca

E tem tanta gente falando de novo em “Guerra disso e daquilo”, associando-a a um “terceiro turno das eleições”: “Precisamos de uma militância de secessão…Que fique claro que a batalha foi ganha pelos bolivarianos, mas, a guerra acabou de começar, e começou bem…O Brasil está dividido….” (“Diálogo ou Secessão”, Luis Felipe Pondé, filósofo, pernambucano, radicado em SP). E nem aspas ele usou ao falar em guerra! E a “Secessão”?! Com que facilidade irresponsável usou a palavra! É verdade que, logo abaixo, ele mesmo pediu para não ser levado a sério: Falo de uma secessão simbólica…”. Mas…Seria mesmo possível levar a sério um intelectual (pernosticamente auto-proclamado filósofo) que não percebe o peso das palavras, especialmente quando os ânimos estão muito exaltados? Considerando o quanto esse “movimento de matracas paulistanas” tem de anti-nordestino, fiquei pensando que o tal filósofo sofre da “síndrome de Estocolmo”. Quem sabe é um nordestino de alma “branca e paulistana”? Talvez seja uma espécie de “Benjamin Disraeli do sertão”, uma versão tupiniquim dojudeu inglês convertido ao anglicanismo, chegando a se tornar P. Min de S. Majestade e acusado de antisemitismo por alguns. Como diz um ditado espanhol, citado no D. Quixote: “Não com quem nasces, mas com quem pasces”, especialmente quando pagam a sua comida. FECHA A MATRACA, PONDÉ! CUIDADO COM AS MOSCAS!

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“…porém, rio…de cujas águas eu nasci,/Eu nem tenho direito mais de ser melancólico e frágil…” IDEM

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mujicaEfetivamente, o culto à virilidade burra tem sido um dos maiores males da humanidade, especialmente para as relações entre as nações. Qualquer reflexão um pouco mais profunda e que leve em consideração os direitos de outros povos é logo taxada de fraqueza, covardia, etc (vide algumas concessões muito razoáveis feitas por nós à Bolívia e ao Paraguai). É através desse tipo de acusação que os Republicanos e a GMídia— porta-vozes das grandes corporações e do aparato de segurança—têm mantido sob pressão e controle os presidentes norte-americanos envolvidos com a aplicação de alguma política mais humana em relação a outras culturas e povos. Nenhum regime fez tanto a apologia desse tipo de “virilidade” quanto o nazista. Alguma inspiração nas dúvidas dos poetas certamente ajudaria a que as coisas não evoluíssem tão mal: “Compreendo perfeitamente o sentimento dos paulistas…brigaram porque estavam safados com o que v. chama ‘ocupação brasileira’. Todavia, o meu sentimento era muito complicado e misturado…Mas não concordava com a revolução…e ainda menos com a gente com que foi feita (o A. Bernardes, meu Deus!)…Eu torci por uma luta…em que nenhum nenhum dos lados levasse vantagens insolentes da vitória”, M. Bandeira, carta a M. de Andrade (30/11/1932).

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“Como é possível que o amor se mostre impotente assim/Ante o ouro pelo qual o sacrificam os homens…!? IDEM

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adoniranQuando penso em S. Paulo, sempre me ocorrem duas pessoas e dois nomes: M. de Andrade e Adoniran Barbosa. Tão Paulistas! Tão brasileiros! De Mário, digo que é o mais brasileiro de todos os brasileiros. Nunca ninguém por essas terras influenciou tanto a nossa cultura em praticamente todas as suas manifestações. Estava sempre em briga com os paulistas? Sim! Amava o Rio? Sim! Tentou viver por aqui e o prédio onde morou, na Glória, tem uma placa assinalando sua “tentativa carioca”. Não se encontrou. Precisava de SP e voltou para a sua casa na rua Lopes Chaves 546, Barra Funda. Quase todos os artistas de sua época escreveram aquele endereço pelo menos uma vez, especialmente os mais jovens…e foram acolhidos. De Adoniran…Quem sabe não é a hora de que “o palacete assobradado” se encontre com a “Saudosa Maloca”?  Muito curiosamente, e nos últimos tempos, a “saudosa maloca” se deslocou mais para o Sul, mais precisamente para Montevideo e nela está morando o Presidente do Uruguai.

(VER A CONTINUAÇÃO)
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* Um dos efeitos dessa tentativa de Revolução (com matiz separatista) foi a convocação da Constituinte de 1933/34. Discute-se muito a simpatia de Vargas pelas ditaduras Nazifascistas. Havia mesmo, embora o mundo não tivesse ainda noção clara (nem queria ter) do que se passava na Alemanha. A ironia é que essa Constituição tenha tomado a de Weimar como referência. Ela já fora completamente defenestrada por Hitler, com a aceitação da quase totalidade dos parlamentares alemães. Uma das suas alterações foi a troca da denominação CHANCELER por “FÜHRER” (aquele que conduz). Ele passara a ser a lei.

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