Arte e Cultura

“REVÉLLION”: UMA OPERAÇÃO DE GUERRA EM COPACABANA

(Tudo contra a Poesia)

Em uma das suas crônicas sobre futebol, NELSON RODRIGUES escreveu que o povo está sempre à procura da POESIA. Seria ela o “motor”, tanto dos encontros em grande multidões, quanto (até mesmo) dos concursos de “cuspe em distância” entre meninos. Sem que saibamos, estamos sempre à sua procura. Pois bem! Na verdadeira “OPERAÇÃO DE GUERRA” montada pela Prefeitura para o “Revéllion”, a grande sacrificada foi exatamente a POESIA.

Em todas tardes dos dias 31/12, pego minha bicicleta e, em busca da POESIA, vou ver os preparativos. A POESIA vem de imediato e, dessa vez, atingiu seu auge com um trombonista (acompanhado por um surdo) que tocava belos sambas no LEME, formando uma roda muito animada. O mais engraçado (no sentido da GRAÇA quase religiosa e…POÉTICA) era a ruidosa comemoração na roda, sempre que alguém depositava algum dinheiro no pandeiro colocado à sua frente, estimulando outros. De repente, surgiu Jairzinho e o trombonista atacou o “PRÁ FRENTE BRASIL, SALVE A SELEÇÃO…”. Tão Brasil!.

Enquanto isso, ao lado, a OPERAÇÃO DE GUERRA começava se movimentar: muitas dezenas de carros da polícia obedecendo à ordem para se colocar “em posição”. O “Espírito M. Bloomberg” (Pref de NY, aquele do “tolerância zero”) estava ali, em oposição ao nosso ESPÍRITO SEMPRE POÉTICO e…tolerante. Só quem nunca participou, junto ao povo que se reúne na areia para comemorar o acontecimento, poderia planejar as coisas daquela maneira. Esse tipo de administrador adora números e raciocina como se muita gente fosse apenas, e sempre, uma massa amorfa: se há uma multidão qualquer, então tudo estaria por um fio para degenerar em confusão e violência. NÃO CONHECEM O NOSSO POVO. O que dizer então das dezenas de ambulâncias que ficaram às moscas, à espera de uma catástrofe que nunca viria?

Eu que, há décadas, acompanho ativamente aqueles acontecimentos e preparativos, declaro que nunca assisti um ato de violência sequer entre a gente simples que está ali para comemorar. Soube que, há dois anos, em um bairro distante…uma certa Ipanema…dois grupos de “jovens fortinhos” se enfrentaram com consequências funestas. Quando, entretanto, impera a gente simples, de todas as idades, todos os matizes de cor, variadas contas bancárias…….resulta sempre a harmonia.

Mas a guerra contra a POESIA estava apenas começando. Como preservar o ESPÍRITO POÉTICO, se, de repente, um alto-falante nos faz sentir como figurantes de um acontecimento na TV? Não há ESPÍRITO POÉTICO que resista a um banco (logo um banco!) anunciando seus produtos em um “intervalo comercial” nas areias de Copacabana, e a poucos minutos da “virada”! O que dizer de uma campanha eleitoral propriamente dita, anunciando “os feitos do senhor prefeito”? Foi, como disse Stendhal, UM TIRO EM UM CONCERTO. Até o nome de um Senador foi anunciado (durante a tarde) desejando todos um FELIZ ANO NOVO, etc. Como resistir a um “pot pourri” sem pé nem cabeça, de músicas aos pedaços, durante a exibição dos fogos? (quem sabe, um dia ainda ouviremos na praia a “Música para os Reais Fogos de Artifício” de Haendel?). Para quem estava interessado em um “Show Pirotécnico”, o que se passava nas areias era pouco intere ssante. Para quem sente que a festa vive da reunião de pessoas sorridentes e que essas pessoas são O GRANDE ESPETÁCULO (onde se encontra…a POESIA), ficou um travo na garganta.

Mas a poesia resistiu e ressurgiu na rua F. Magalhães: rostos sorridentes; crianças nos ombros; idosos vendo a multidão, por fim, andar em um passo lento que eles podiam bem acompanhar, sem incomodar os mais apressados…e…uma saborosa sensação de estar participando de algo maior…Quantas vidas se sustentam à espera de um momento como aquele! OS FOGOS!? São apenas a desculpa para que tanta gente saia de casa em busca da graça que sempre vem com o congraçamento!

PS-A manchete de OGLOBO (02/01/12) sobre a festa: “Record de Sujeira“, diz bem que uma das intenções das elites é rebaixar e desmoralizar a gente simples. Adorariam poder falar de violência, mortos…alguma coisa ruim qualquer. A incompetência foi da prefeitura. Não foi vista nas areias uma caçamba grande sequer ou qualquer indicação de onde depositar o lixo. Não estávamos um um cinema! Por iniciativas individuais, havia pequenos ajuntamentos de lixo de modo a facilitar a coleta posterior. LIXO E MAFUÁ FOI O QUE ELES FIZERAM FAVELIZANDO A PRAIA. Tudo o que querem é que o povo seja figuração de um “balneário chamado Rio”. E a “segurança”? Disseram que a segurança foi perfeita e que, por isso, não aconteceram incidentes maiores. Não invertam as coisas? Não diminuam e envergonhem seu próprio povo. O APARATO FOI APENAS INÚTIL.

“…Não pôe corda nem divisa/ pois a gente não precisa/Que “organizem” nosso carnaval…” (J. Nogueira)

Cadê a Caçamba?

Cadê a Caçamba?
Cadê a Caçamba?

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