Arte e Cultura

“SÃO PAULO! TODA A A. LATINA CONTA COM VOCÊ!”

pedro

(Aprendendo com Pepe Mujica a apreciar o muuuuito diferente!!)

Márcio Amaral

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“O Brasil tem uma burguesia paulista muito forte, custando a entender que é tempo…de juntar aliados para construir empresas transnacionais latino-americanas. Estão muito fechados…Não vamos pedir aos empresários paulistas que sejam socialistas. Mas temos que pedir-lhes que sejam latino-americanos.” (Pepe Mujica, em entrevista a Marli Olmos, Montevideo)

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Embora concorde plenamente com Mujica, há nessas palavras uma reprodução da dicotomia em que vivemos, nós mesmos e aqui no Brasil. Em vez de uma “semente” bem aderida a uma grande fruta—como a do cajá, por exemplo—a “burguesia paulista” é ali tratada como se fosse o conteúdo de uma espécie de “kinderovo”, ovo de páscoa, etc. Balançando um “ovo chamado Brasil” poderíamos “ouvir o chacoalhar de uma ‘prenda’: a Av. Paulista”. Mas, tomando a bandeira de SP como referência (com o mapa do Brasil envolvido ou “fagocitado”), as posições também poderiam ser invertidas: balancem a bandeira e o chacoalhado há de ser o Brasil! Não foi à toa que, um dia, Antônio Ermírio comparou o nosso mapa a um imenso pernil: a ser conquistado e—quem sabe?—devorado! Já Villa-Lobos viu na mesma figura um enorme coração (que seria, diga-se de passagem, o “metrônomo da alma”)! Tanto exagero! Tanta vida e poesia! Há, sem dúvida, um antigo problema na integração paulistana ao seu próprio país. Aos homens e mulheres da Av. Paulista, mas também aos seus operários, outros profissionais e cidadãos em geral, eu diria: “SÃO PAULO…! Toda a América Latina aprecia sua competência e gostaria de aprender com ‘você’ aquilo que tem de melhor a ensinar! Quando vão parar de ficar olhando só para o H. Norte, como se quisessem seguir no rastro humilhante de outros povos?! Tenham mais amor-próprio e independência! O Brasil é o seu destino! Parem de tratá-lo como se fosse sua prisão*!”

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mujica de boinaVoltando para Mujica: isso é que é saber apreciar o diferente! Existiriam antípodas “mais opostos” do que ele (e o que representa) e os engravatados, escravos dos horários e da própria imagem? Mas Mujica sabe que, sem pessoas com aquele perfil e competência, é impossível criar riquezas. Sabe também que o mundo se tornou muito consumista e que não pode exigir que todas as pessoas vivam com a mesma simplicidade que ele. Qualquer líder que desconheça essas imposições do mundo moderno ficará como uma espécie de “profeta Jeremias” sem ninguém a lhe dar ouvidos. O que nos caberia, então? Continuar clamando, mas apenas pela não perda da dimensão humana em todas as coisas; demonstrando que o mais importante na vida nunca tem preço**; aceitar que é absolutamente natural querer mais beleza e mais conforto. O problema passaria, então, a ser: o que eu estou disposto a sacrificar na sua conquista? De minha parte, digo que esse tipo de “progresso” somente deve interessar se for associado ao “levar muita gente junto no processo”… Quanta pretensão! Não quero conduzir ninguém, apenas influenciar o máximo possível todo um processo coletivo, mas sem perder a individualidade.

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Mas não estou sozinho nesse esforço de tentar convencer os empresários—que não se cansam de tentar “capturar” os países e torná-los um “País SA”—de que a solidariedade é bem melhor, até para eles mesmos! Vejamos: quase todos, ao menos no ocidente, declaram-se cristãos, mas não vivem muito de acordo com essa inspiração, não é mesmo? Talvez pudessem se inspirar no trecho bíblico (trecho da preleção de um padre a homens de negócios no conto “Graça”, dos “Dublinenses” de J. Joyce):

“Porque os filhos deste mundo são mais sábios na condução de seus interesses do que os filhos da luz. Por isso, empregai as riquezas da iniquidade para ganhar amigos entre eles…a fim de que, quando morrerdes, eles possam vos receber nas moradas celestes (Lucas 16:8)“. Esse versículo (continua J. Joyce): “…era…para aqueles cuja missão é dirigir os assuntos materiais… Jesus compreendera que nem todos os homens são chamados para a vida religiosa…! (O Padre)…não estava ali com nenhum propósito extravagante…mas como um homem do mundo falando aos seus iguais. Viera conversar com homens de negócio e na linguagem costumeira…”. Ou seja: se não há uma outra linguagem acessível a essas pessoas, até mesmo do ponto de vista da troca, eles haveriam de se beneficiar com a melhora nas condições de vida de TODOS OS SERES HUMANOS. E nem é obrigatório acreditar em um céu para chegar a essa conclusão. O mundo, e sua economia, estão se “arrastando” em função da enorme e generalizada desigualdade. Olhando o papel de Francisco no Vaticano, ficamos um pouco mais esperançosos de que ideias como aquelas povoem mais e mais as mentes!

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j joyceDesçamos agora aos mais mesquinhos dos movimentos autointitulados “separatistas do Sul”, afinal, vivemos no mundo! Eles não encontram qualquer repercussão para além da irresponsabilidade da publicação de frases ofensivas às pessoas mais simples do povo. Um certo Celso Deucher (faltando um T…”Deu chero”), apresenta-se como herdeiro daquilo que chamaram “Rep. Federativa do Pampas” na qual se falaria o alemão. Eu preferiria uma “República dos BAMBAS”, com desfile cívico anual na Sapucaí. Antes de mais nada, porém, ele tem que corrigir seu nome que trai um analfabeto hereditário em alemão. Um alemão de “terceira classe”, quem sabe? Certamente um não ariano! Ele tem vergonha de ser brasileiro? Há de ser humilhado até pelos próprios alemães! É quase um destino, pois se tem “VERGONHA DE SUA PRÓPRIA HISTÓRIA E ORIGEM”! É um “filho de chocadeira”? Um outro, também com sérios conflitos de identidade: Rafael Sardá 17 anos (Sta Catarina), escreveu um hino chamado: “GRITO DO SUL DO MUNDO“, dirigido contra o restante do Brasil, mas se esqueceu de que o sul do mundo (Antártida) já é internacional: não lhe cabem hinos. Sugiro algumas “traduções” para o título: “Grito do surdo-mudo” (moral); “Grito do Sugismundo”; “Grito do Sul Imundo” (daquela parcela de pessoas somente) e paremos de gastar tempo com essa gente.

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E de onde vem essa unidade brasileira que não parece nem um pouco ameaçada? O que teria determinado esse contraste em relação à América Espanhola, cuja independência se deu aos “pedaços”? Primeiro, tivemos reis que o povo amava de verdade. Segundo, os nordestinos se encarregaram de se espalhar por todo o país, “costurando-o” mais um pouco***. Terceiro, e para falar de um sentimento muito verdadeiro: não eram muitos os brasileiros que queriam perder o Rio como sua Capital e centro cultural! Durante muito tempo, quem falava em Brasil na Europa, estava falando na região em torno da baía da Guanabara : “….o que vemos praticarem esses povos ultrapassa as magníficas descrições que nos deu a poesia da idade do ouro (grega) e tudo o que se imaginou possível em termos de felicidade sobre  Terra…não existe hierarquia política…nem ricos nem pobres…o respeito que dedicam aos parentes é o mesmo que dedicam a todos…O clima é temperado, a ponto de…raramente se encontrar um enfermo…nunca viram um epilético, remeloso, desdentado ou curvado pela idade. A região se estende à beira-mar e é limitada, do lado da terra, por altas montanhas a cerca de 100 léguas… Passam o dia a dançar…Todas as manhãs, um ancião percorre o barracão…e prega sem cessar as mesmas coisas: valentia diante do inimigo e amizade às suas mulheres…”. “Os Canibais”, ensaio de M. de Montaigne (1533-96) sobre relato de pessoas que tinham vivido na “França Antártica”, Rio de Janeiro, Brasil.
FINAL

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*Diante dessa “febrícula separatista”, foi revivida uma canção jocosa que falava em um “Nordeste Independente”. Essa própria expressão alude à opressão secular sofrida pela região. Já o atual “movimento amebóide” de filhos desnaturados do sul tem sua origem no sentimento: “Só quero continuar jogando se for prá eu continuar mandando e fazendo as regras”. São tão infantis!

**Não aprecio, em geral, as propagandas. Buscam vender atingindo os piores preconceitos e sentimentos humanos. De vez em quando, entretanto, elas acertam. Foi o caso de um cartão de crédito: “Camisa do seu time, XR$; Bola oficial, YR%…Assistir ao jogo do seu time junto com seu pai….Não tem preço!”. Pois, se os fenômenos mais importantes da vida não podem ser sequer reduzidos a números: amor, amizade, cuidado materno…! Curiosamente, até uma propaganda se torna eterna quando atinge, dessa forma, o lirismo e a poesia. Só não sei se atingiu o objetivo de vender.

***Li, em uma das cartas de M. de Andrade (foram tantas e tantos os seus missivistas!), que os nordestinos radicados em SP se tornaram fator determinante para o fracasso daquela aventura comemorada até hoje em SP. Na questão acreana, quando o governo brasileiro já aceitara sua posse pela Bolívia, foram os seringueiros nordestinos (cearenses em especial) que se revoltaram e lutaram pela sua manutenção. Dirão alguns ser essa uma prova de expansionismo brasileiro, imperialismo, etc., mas a verdade é que a Bolívia já arrendara a região aos ingleses para extração de borracha…“and other little things” (para não dizer “otras cositas más”). Tudo poderia ter evoluído para a presença de uma “cunha inglesa” (um estado-fantoche, fazendo parte da “Commonwealth”) bem no centro da ASul. Há muitas situações semelhantes pelo mundo afora: Irlanda do Norte, Gibraltar, Paquistão, Malvinas… “dividir para reinar”. São restos podres de um Imperialismo de triste memória. Vejam o que se dá na assim denominada “República Cooperativa da Guiana”, também membro do “Commonwealth”: agora digam se é possível uma República ser OFICIALMENTE denominada “Cooperativa”? Essa foi demais!
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No seguimento, uma CIRANDA em homenagem aos nordestinos. Como não dispunha de percussão…..

COZIDO NORDESTINO (Ciranda)

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Quando mamãe vai preparar um bom cozido

Deve pensar, “Terei os tolinhos reunidos

Mamaram todos com aflição aqui no peito

E até me olhavam como a um ser mais que perfeito”

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É ela quem compra tudo o que entra na panela

E quanto amor percebo em todo ato dela

Cada legume é o preferido de cada um dos filhos

Como brigamos por uma espiga de milho

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As carnes são boas e não tá aí todo o mistério

Foi seu tempero que tirou papai do sério

Aos elogios sorri discreta sem espalhafato,

SIM…PODE O PARAÍSO SE ESPALHAR POR SOBRE UM PRATO

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Em um instante eu me transformo em um menino

Naquelas mãos tá quase todo o meu destino

Você quer ver como um pirão quase derrete um coração

Pois vem provar dum bom cozido nordestino

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Sempre há nordeste em todo canto onde há Brasil

Quem sabe foi esse amor de mãe que nos uniu?

Um quase nada…recebe e aceita toda gente

AH! Só os infelizes tratam mal o diferente

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Os muçulmanos quando rezam voltam-se a Meca

Tudo é solene e nesse instante ninguém peca

Com a gente não, seremos sempre uns bons Cabras da Peste

Mas…os olhos mareiam quando lembram do nordeste.

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