Arte e Cultura

U. EUROPÉIA: A SOCIEDADE QUE A GALINHA PROPÔS AO PORCO

Há  cerca de 2 anos, Herr Schäuble, min. das finanças da Alemanha, em seus esforços para aumentar a “competitividade” da indústria alemã, conseguiu convencer os sindicatos a aceitar uma baixa geral de salários. Adivinhem contra quem era voltado esse dramático “esforço competitivo”? Considerando que 80% das exportações alemãs se dão na Europa…! A UE tem funcionado mesmo como a “sociedade” que a galinha ofereceu ao porco. Ficariam ricos vendendo ovos com bacon: ela entraria com os ovos e ele… com o bacon. E ainda chamam aquilo de “União”! “DEUTCHLAND ÜBER ALLES!”.

Sei que estou entrando em área que já tem muitos “especialistas”, e não precisa de mais um “metido a entender de economia”. Não posso, porém, calar diante de uma questão ao largo da qual todos os “especialistas” têm passado. Parecem ter medo de rever conceitos que defenderam por muito tempo. Fogem da constatação: o momento parece ser o de proteger o parque industrial dos diversos países. Entre 1929 e 32, o comércio mundial teve uma queda de 60% (Eric Hobsbawm- “A Era dos Contrastes”). O mundo vai passar por algo parecido, até que as nações líderes aprendam a respeitar as demais.

A indústria alemã—especialmente a pesada—sempre foi uma potência. Por isso, aquele povo conseguiu sustentar guerras por tanto tempo e contra tanta gente. Todo o seu “sucesso”—se é que aquilo pode ser chamado de sucesso—baseou-se no poder da sua indústria. Quando, internamente na UE, foram eliminadas as barreiras alfandegárias, entregaram a horta para ser cuidada pelo bode; ou, quem sabe, o banco de sangue para ser administrado por um vampiro. NOSFERATO VIVE…quer dizer…É alemão e está condenado a não morrer. Não nos enganemos: qualquer boa notícia sobre a UE deve ser aquela mentira que nos contam à beira do abismo ou um último pedido, “satisfeito” antes de uma execução.

A indústria alemã  terminou por quebrar boa parte da indústria dos países à sua volta. Para que fazer guerras explosivas, quando se pode tomar conta da Europa sem dar tiros?! Pior foi o que aconteceu no terreno da batalha ideológica. Dessa vez, eles venceram até nesse quesito. Entre outras coisas, conseguiram “pregar na lapela” de outros povos, não a estrela amarela, mas a pecha de vagabundos; desorganizados; sem planejamento, etc. A muito invejosa formiga da fábula, dessa vez “inventou” a cigarra e a está estrangulando.

Sim, houve muita irresponsabilidade por parte de alguns países, mas o que lhes resta hoje é “juntar os cacos”, “lamber as feridas” e seguir adiante um tanto solitários. Quem tem escapado bem é a  Suécia, cuja riqueza também se baseia em uma indústria pesada muito poderosa. Enquanto isso, a França perdeu quase 20% das suas indústrias nas últimas décadas. Antigamente, para se falar de riqueza das nações, dizia-se: “As Nações Industrializadas”.

O problema, é que o “bacon” da Europa está acabando e, agora, os espertinhos estão correndo o mundo para alertar contra os “perigos do PROTECIONISMO”. O Globo (16/11) assinalava ser o Brasil o país “mais fechado” do G20, enquanto a Alemanha é o “mais aberto”. Em uma luta qualquer, só o muito mais forte pode lutar “mais aberto”. Já imaginaram um lobo guará dizendo para um tatu: “V. anda muito fechado ultimamente!”? Abertura? Só quando o clima for de cooperação. Se o ambiente é de predação, há mesmo que se fechar.

É verdade que o “protecionismo” (em excesso) inibe a criatividade pela eliminação da competição; cria nichos garantidos e pasmaceira geral, além de inflação. Mas a sua falta absoluta mata qualquer indústria. A China, aliás, está exercendo o mesmo papel, só que perante o mundo todo. Nesses casos, tende a haver um “efeito Robin Hood ao contrário”.

Por que os “especialistas” estão fugindo dessa questão? Estamos diante de um TABU? Talvez essa seja uma boa razão para que os “não especialistas” se pronunciem. O Brasil que cuide bem da sua indústria, equilibrando desigualdades, “antes que o aventureiro lance mão”! Nesse ponto, estamos a cavaleiro. Será que vão nos retalhar deixando de comer? Já em relação a nossos vizinhos, o desafio é que não nos tornemos a “Alemanha deles”. Muito tolo foi um ex-min de FHC dizendo, durante a crise com a Bolívia, que “nações não têm amigos, só competidores”. O desastre atual na economia é filho dessa idéia, papagueada por um brasileiro que gostaria mesmo era de ter nascido no hemisfério norte. Por lá, talvez as nações não tenham mesmo “amigos”. Por aqui há de ser um pouco diferente!

PS- Este texto estava escrito, quando “OGLOBO” (30/12/11-“A Economia Alemã se volta para a AL”) apresentou uma entrevista com A. Merkel (eleita “Personalidade do Ano pelos 11 mais prestigiados jornais da AL”). Não tiveram qualquer cuidado em disfarçar que o interesse alemão é quase exclusivamente comercial, através da “redução de barreiras comerciais”. A falta de amor-próprio do editores do jornal é de tal ordem que chegaram a dizer: “O silêncio de Merkel com a imprensa LAmericana durou 6 anos. Mas ela ACEITOU responder POR ESCRITO, a perguntas do Grupo de Diários da América (os que a homenagearam), abrindo, por fim, o DIÁLOGO com a imprensa da região”.

Muito “original” esse uso da palavra DIÁLOGO! E como revela subserviência! Nem depois da adulação os “capachos” conseguiram se encontrar com o “trator alemão”. Aliás, melhor talvez fosse chamar “Panzer”. Somos o mais novo alvo da “Blitzkrieg”: “A Alemanha está muito interessada no avanço rápido desse processo”. Não conseguem disfarçar seus cacoetes de séculos. O que dizer desse tal Grupo de Diários da ALatina? Fez uma “eleição” que separou “duas categorias”: “Os mais votados do mundo” de um lado; e “Os mais votados na AL” (subcategoria). Estão no tempo em que éramos tratados como seres de um subcontinente: submissos e subservientes. É essa a “Grande Imprensa” da região!

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