Arte e Cultura

UM ÊXODO PROVOCADO E APROVEITADO PELO OCIDENTE!

(Suécia e acolhimento: uma prática antiga, arraigada e muito respeitadora)

Márcio Amaral

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Em meio ao drama, os suecos inauguraram um monumento em memória da emigração de cerca de 10% seu próprio povo entre 1820 e 1930 para a América do Norte. Tão belo! Tão discreto! Tão lírico
Em meio ao drama, os suecos inauguraram um monumento em memória da emigração de cerca de 10% seu próprio povo entre 1820 e 1930 para a América do Norte. Tão belo! Tão discreto! Tão lírico

POBRE HUMANIDADE! Muitos dos refugiados, quando chegavam à Áustria (a caminho da Alemanha) carregavam fotos de líderes ocidentais e gritavam seus nomes em agradecimento. Esqueciam-se, ou nunca souberam bem, que o caos gerado na Síria, Iraque, mas também Líbia e outros países, teve sua origem na invasão do Iraque pelos EUA, apoiados (até com tropas) por muitos daqueles mesmos líderes. Como os seres humanos são facilmente manipuláveis! Quanto mais descem em direção à desgraça e miséria, mais se eleva sua tendência a se tornarem agradecidos por qualquer coisa que recebem…ainda que da mão de seus algozes…mais ou menos disfarçados. Em todo aquele êxodo (por que não usam essa palavra?) e no acolhimento dos emigrados, HÁ UM FORTE MATIZ DA VELHA CARIDADE OCIDENTAL e isso não é nada edificante. Quase toda CARIDADE humilha os indivíduos que a aceitam, além de destruir as CULTURAS que a ela (à caridade) se submetem, pois sai REFORÇADA A NOÇÃO DE SUPERIORIDADE de algumas culturas e povos sobre outros. Nada mais daninho à humanidade e às relações humanas! Os alemães sabem bem até onde pode levar esse “narcisismo racial” organizado sob a forma de PARTIDOS NACIONALISTAS.

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Em todo o acontecimento (desde 2003), repetiu-se o velho processo aplicado quando da conquista e catequese da maioria dos povos de outros continentes pelos europeus:

1- PÓLVORA, FERRO E FOGO.

2- Destruição de uma cultura e suas formas de organização e funcionamento.

3- “Oferecimento” de uma nova forma de “organização” (“democracia”: a primeira caridade).

4- Recusa à aceitação por parte dos “ingratos que não reconhecem a superioridade” dos valores oferecidos pelos invasores COLONIALISTAS.

5- Deflagração de guerras mais ou menos longas e de maior ou menor potencial destrutivo.

6- Envolvimento nela dos mais aguerridos daquele povo.

7- Fechando o o ciclo: ÊXODO das famílias em busca de sobrevivência e sonhos de melhores condições de vida.

merkel(Logo haverá de se iniciar um novo ciclo para os que forem alocados: sensação de terem se tornado  cidadãos de segunda classe; esforço enorme para criar nichos que reproduzam algo de sua cultura original, etc.). E se há alguma dúvida quanto à natureza perversa que envolve todos os procedimentos, talvez a linguagem possa ajudar. CATEQUESE deriva de CATÁS: movimento de cima para baixo (catarata, catapulta, cataclismo, catástrofe, além do próprio verbo CATAR, sempre de cima para baixo). Ao diabo com essa atitude que os colonialistas europeus não abandonam nunca! “O Satã! Prend pitié de ma grand misère” (Baudelaire)

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SUÉCIA ‘vs’ ALEMANHA: QUANTAS DIFERENÇAS NA ATITUDE!

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Há cerca de 3m, participando de um debate na TV, A. Merkel ouviu (em alemão muito fluente) a pergunta de uma moça palestina de 13 anos, vivendo há quatro na Alemanha: “Por que não posso ficar aqui, ir à Universidade e progredir*?”. Resposta da Chanceler: “Se dissermos que todos vocês (IHR!) podem vir, e que todos vocês (IHRRRR!) da África podem vir…não daremos conta”. Comentário de um jornalista a respeito: “Toda a crueldade da política de imigração em um clipe”. Mas a chanceler não abriu mão de, caridosamente, fazer um carinho na mocinhaE como a linguagem denunciou os sentimentos subjacentes! Eu diria: “VOCÊS QUEM, CARA PÁLIDA?”. Naquela distinção, a origem de todos os horrores. Não demorou muito, porém, para que, em um mundo movido e paralisado por imagens, as mais trágicas se encarregassem de tudo modificar rapidamente. Agora, a mesma Merkel está tentando se tornar a “heroína dos refugiados”; uma espécie de VALQUÍRIA responsável pelo transporte dos guerreiros para o palácio do deus ODIN. E não é que, mesmo assim, e até nessa decisão alemã (pelo acolhimento da massa de gente migrante), a maldade tornou a mostrar sua pior face!! “Para poder ajudar os que estão em situação de emergência, temos que falar para os que não estão (em “situação de emergência”), que não podem mais ficar aqui”. (A. Merkel “Alemanha planeja expulsar imigrantes para acolher refugiados”,  noticiário do “Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdade“). E a “Valquíria” moderna vai sacrificar seus corpos e almas no altar da INDÚSTRIA ALEMÃ.

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refugiadosNão faz muito tempo, os economistas dos “países centrais” deram-se conta de que a entrada de imigrantes é essencial para a retomada do “sacrossanto” crescimento econômico. Por isso, Merkel está tentando TROCAR os imigrantes irregulares e “desadaptados” às em suas indústrias, por uma “nova leva” de mão de obra, tratados como apenas isso. Como são famílias, e não “aventureiros isolados” (Wanderers), essa massa tende a ser de pessoas mais “estáveis e capazes para o trabalho”. E não é que até a sociologia parece estar sendo usada como instrumento da “sacrossanta” economia. Seu “sacerdote mor”? Um certo Wolfgang Shäuble, que nunca foi lá muito humano e conseguiu ficar ainda pior (contrariamente ao que se deu com Roosevelt) depois que foi “aprisionado” à cadeira de rodas. Quem tem um Schäuble no comando não pode estar muito interessado em fazer avançar a perspectiva humana de coisa alguma. É o homem do “ARBEIT MACHT FREI” (“O Trabalho Liberta”, do portal de Auchwitz). A questão humana continua sendo de muito difícil apreensão pelos alemães. Sua indústria pesada—talvez pesada demais—desumanizou tanto suas relações, que um certo fundamento humano lhes parece inalcançável. Assim, tudo o que querem parece ser comprimir um pouco mais os salários…dos próprios alemães. Não esqueçamos de que, no primeiro momento da crise de 2008, Shäuble conseguiu convencer os sindicatos a aceitar um rebaixamento dos salários para elevar a “competitividade”** da Alemanha (“Deutsche über Alles”). Com isso, e segundo um outro alemão de ascendência judaica, apenas ELEVARAM A PARCELA QUE O GRANDE CAPITAL RETIRA DA PRODUÇÃO TOTAL DE RIQUEZAS (“Salário, Preço e Lucro”, K. Marx, Os Pensadores). Agora, com tanta gente disposta a vender sua mão de obra por qualquer valor, até os alemães vão sofrer uma baixa de salários.

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EM QUE A SUÉCIA É TOTALMENTE DIFERENTE DOS DEMAIS PAÍSES EUROPEUS?

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Quando a crise estava ainda no seu início, e quando os ingleses e franceses submetiam os imigrantes aos vexames muito filmados na travessia, escrevi no FACEBOOK que aquilo era um jogo de cena: como bons ingleses, eles sabiam que precisavam daquela “mão de obra”, mas somente depois de uma boa dose de HUMILHAÇÃO. Era um recurso para que AS PESSOAS (sim, são pessoas) não lutassem por direitos, aceitando qualquer coisa. Nesse mesmo momento, o PMin. sueco fez uma declaração pública de que a SUÉCIA precisava do imigrantes; que as taxas de natalidade na Europa são muito baixas (na Alemanha menores ainda) e que não poderiam perder aquela oportunidade de juntar dois interesses. Sim! Eles não são hipócritas! Por isso, falaram em INTERESSE e isso teve a sua beleza. Estava eliminado, de pronto, QUALQUER MATIZ DE CARIDADE associado. O acolhimento oferecido foi apenas aquele que deve ser dado a todos os seres humanos. Já escrevi aqui mesmo (ver texto sobre Strindberg e sua novela “Gente de Hemsö”): o CAPITALISMO nunca conseguiu exercer plenamente seu poder naquele país. A desumanização e a transformação das pessoas em coisas não avançou muito por lá. Essa é a razão pela qual a GMidia (e os interesses que ela representa) não fala muito no que se passa na Suécia. Todo foco na Alemanha! Sabem que é na Suécia que se encontra um modelo ameaçador para o seu poder ilimitado, pois combina humanidade com desenvolvimento. Os ideólogos dos interesses dos “DONOS DO MUNDO” inventaram até um verbo que gostariam de aplicar à Suécia. Ela precisaria se “DESSUECIZAR”. Pois bem: nessa situação, ela anda mais SUÉCIA do que nunca. E eu diria: CHEGOU A HORA DE SE TENTAR “SUECIZAR” O MUNDO.

CONTINUA (com um resumo dos acontecimentos desde a invasão do Iraque)

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*A pobre moça também está aprisionada à ideia de que a região de onde vem é um caso perdido. Com essa drenagem das pessoas mais preparadas daquelas regiões, como poderão mesmo progredir? O OCIDENTE continua a agir como uma espécie de “Robin Wood” ao contrário. Em vez de uma referência, os “PAÍSES CENTRAIS” se tornaram um perigo para o desenvolvimento e a liberdade dos povos.

**Vejam que essa tal “competitividade” voltava-se CONTRA os outros membros de uma certa organização que leva o irônico nome de UNIÃO…EUROPEIA. Pois se mais de 70% da exportações alemães dirigiam-se à própria Europa! E foi assim que quase mataram a indústria europeia, para além das fronteiras alemães.

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SVERIGE! SIM, VERO É.
Canção em homenagem à Suécia. Em sueco soa: “SVERIE” (Clique na barra)

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SVERIGE ééé
Onde passeia o pensamento (e)
Sempre que posso eu ponho o pé.
Sim! Vero ééé!
Como aprecio esse povo
Lagos, florestas e o frio até.
…………………………SIM! VERO É!
Por lá tenho duas filhas
Só Deus sabe o que sofri
Mas por honra da família
Por aqui sobrevivi
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Quer ver só como combina
Aquele Norte com esse Sul…
Olhem bem prás ‘nhas meninas
E verão um céu azul.
(opcional: “Um verão em céu azul”)
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SVERIGE ééé
Prá onde vão os perseguidos
Por convicção, luta ou fé
Sim!  Vero é!
Seu acolhimento muito humano
De Patrimone a Maomé
SIM, VERO É!
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Agora me veio um neto
Que traz consigo a Turquia
O que ele vai fazer tanto afeto
E tanto amor de tanta tia? (Tant, tante, aunt)
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E com essa adição de Meca
Deu uma “receita” bem maneira:
Organização muito sueca
E alegria muito brasileira 

SIM, VERO É!

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