Arte e Cultura

VANGUARDAS-II: COMO INFLUENCIAR OS DESTINOS DE UM POVO E CULTURA?

(Eliminando Ilusões…Respeitando o Movimento Peculiar a cada Sociedade)

Márcio Amaral

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O martírio de Sócrates
O martírio de Sócrates

Quais seriam, então, os princípios a nortear e fornecer as bases para o exercício do que chamei—certamente de maneira imprópria e movido a velhos vícios—VANGUARDA DE UMA SOCIEDADE?

1-O mundo não segue, nem há de seguir, através de qualquer trilha pré-determinada. Além disso, Deus (independentemente de existir ou não) e a natureza, não têm qualquer projeto para os seres humanos. Não sabemos para onde vamos, nem temos um ponto de chegada. Como disse um certo filósofo, se a humanidade tivesse algum destino, ou ponto de chegada, ele já teria sido alcançado,

2-Eliminemos, de vez, qualquer expectativa em “determinismos históricos”, como: A-o acalentado pelos marxistas (como os que conheci e já fui), que acreditavam estar a humanidade sempre caminhando no sentido e se aproximando do socialismo/comunismo; B-o dos racistas em geral, e de “arianos” em particular, que alimentam a mentira de que existem raças ou culturas superiores a serem seguidas e imitadas pelas demais; C- o dos “darwinistas sociais” com sua funesta crença na predominância dos mais fortes. Os ingleses, sempre oportunistas, depois de atacar Darwin de todas as maneiras, deram-se conta de que suas idéias poderiam ser aproveitadas para justificar a morte por fome de cerca de 20 milhões de indus, no final do séc. XIX, depois da substituição de suas culturas de subsistência pelo algodão. “Seria bom para o futuro da India uma seleção…nada natural”.

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3-Cultivemos uma difícil e dolorosa individualidade respeitadora das convicções alheias, mantendo intensa interação com o mundo circundante e com as coisas dos homens (à maneira de Sócrates, razão pela qual foi supliciado). Eliminemos, de vez, a vontade de “ganhar as discussões” que travamos com outras pessoas, pois o melhor é que as idéias se renovem, arejem e aprimorem no contato com as idéias dos demais. Tenhamos claro que aquele que manda, e quer seguidores, acaba escravo desses mesmos seguidores, deixando-se envolver e limitar por uma personagem que foi sobre ele como que projetada.

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4-Lembremos sempre de que aquilo que foi denominado “massas” é, por definição, conservadora e tendente a “inventar” e seguir líderes mais ou menos caricaturais, de maneira a ter algo o que seguir. Eliminar ou toldar individualidades é sempre um empobrecimento. Há que ajudar as pessoas a não se deixarem transformar exatamente em “massas”. Nesse ponto, temos uma grande vantagem no Brasil: a enorme diversidade de nosso povo. Mesmo nas nossas grandes festas populares e nas maiores multidões, sempre identificamos rostos muito particulares e expressivos. E que sorrisos! Há que provocar o surgimento de grandes individualidades e nunca aceitar obediências sem crítica ou oposição: tentar ajudar as pessoas a abandonar o “espírito de rebanho”. Como? Atiçando e ferindo seu amor próprio e, antes de tudo, atacando o “POLITICAMENTE CORRETO“. Ter a coragem de dizer coisas contrárias às crenças das maiorias, desconfiando sempre delas e criticando a forma como foram alcançadas. Não há pior forma de aprisionamento do que o medo de expressar verdades particulares e a submissão a falsas verdades impostas por um falso consenso.

Em algum lugar, disse Lenin que nenhum povo entra em uma Revolução por capricho ou coisa parecida, mas apenas quando suas condições para sobrevivência estão fortemente ameaçadas. Enquanto esse nível de opressão (pelas próprias condições de vida) não é atingido, as pessoas vão tentando se enganar e desfrutar do pão e do circo que se lhes apresentam. É nessa tendência muito humana que se deve buscar a sustentação dos governos que são, na sua imensa maioria, contrários aos interesses das maiorias. As pessoas, em geral, aceitam e (quase) se satisfazem apenas com uma leve melhora na sua situação (a princípio, pelo menos). Por isso, deixemos (por ora, pelo menos) de acreditar em Revoluções e passemos a praticar e estudar novas formas de organização de um número cada vez maior de pessoas e de como influenciar mais diretamente os governos e os parlamentos. Haverá de ser no sul da Europa, especialmente na Espanha, e (quem sabe?) no Brasil, que esse tipo de exercício deverá ser levado a maiores extremos. Cada vez mais, as pessoas percebem: onde houver “wallstreets”, a exploração cruel e sádica estará garantida.

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Outro instrumento para a perpetuação do poder despótico é a provocação de medo—especialmente nas tão faladas “maiorias silenciosas”—em relação aos movimentos populares em geral. Por isso e antes de tudo, há que evitar atos de violência física. Nunca fomos muito bons nesse quesito e esse tipo de de ação tendeu a ser contra-producente. Resistir e obrigar as próprias “forças da ordem” à violência, funciona muito mais. É no pavor provocado na tal “maioria silenciosa” que as grandes corporações jogam todas as suas fichas como instrumento de controle sobre as sociedades. Por essa razão, qualquer um daqueles mascarados que quebram lojas, bancos, etc.–durante os movimentos populares–deve ser considerado um infiltrado a serviço dos inimigos.

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COMO SE AVALIA A CAPACIDADE DE INFLUENCIAR UMA SOCIEDADE?

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Leão Tolstói
Leão Tolstói

Quem sabe esse não querer um poder formal não vai resultar no maior de todos os poderes? Poderíamos nos perguntar, então, como se mediria as diversas formas de expressão de poder, de maneira a permitir quantificá-lo (sei que estou exagerando)? Há que usar alguns critérios e ter a história sempre como parâmetro. Eu nunca valorizaria o aspecto do poder individual e momentâneo. Nesse quesito, Ramsés II, Alexandre, César e Napoleão seriam imbatíveis, mas isso não nos deve interessar. Se tivesse morrido em 1804—em uma das suas muitas batalhas e antes de começar a destruir seu próprio legado—Napoleão teria influenciado a posteridade muito mais do que influenciou. Tomando o interesse social como critério (pois é o que importa) e a expansão e desenvolvimento de valores muito humanos—de compreensão mútua entre as pessoas, de maneira a estimular a crítica individual (o que faz gerar maior resistência a abusos de governos, igrejas e outros)—L. Tolstói foi (e continua sendo) muito mais influente do que todos os “Alexandres, Ivans, Stalins e Putins” que infernizaram a vida do povo russo (e de seus vizinhos).

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CONTINUA

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