Arte e Cultura

NEWTON: A “FRACA” GRAVIDADE..POR ELE MESMO-III

(HALKING: uma “penúltima” tentativa de submeter a filosofia à física)

Márcio Amaral, vice-diretor IPUB

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A filosofia está morta! (Hawkings), VIVA A FILOSOFIA! (inspirada em Marx)

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É típico do NARCISO decretar a morte daquilo que não alcança. Se há algo que me deixa à vontade para fazer essas incursões—que podem parecer dirigidas “contra a física”—são essas últimas declarações do físico. A rigor, esses textos seriam não contra a FÍSICA, mas contra algumas crenças dos físicos, que poderiam ser…elas sim,contra a física. Sem querer me comparar ao muito midiático físico, arvorando-me em defensor da filosofia (se ela precisar de um é mau sinal, ainda mais se for eu), diria que há nessa sua bazófia (fanfarronice) apenas um passo adiante em relação ao que o maior de todos os físicos tentou ao delimitar uma nova forma de filisofar: “…que os princípios aqui estabelecidos tragam luz sobre esse ponto ou sobre algum método melhor de filosofar” (Newton “O Peso e Equilíbrio dos Fluidos”). Os ingleses estavam horrorizados com as ideias de B. Espinoza e com o aparente ateísmo que delas parecia emanar. Diante da interpretação de que Deus seria a “alma do mundo”, disse o inglês que Deus* era: “…não a alma do mundo, mas o Senhor de tudo!”. E como encontrou repetidores entre os pensadores ingleses que se seguiram! Berkeleyclassificou Espinoza como “fraco e malévolo”. Depois, caindo em contradição, chamou-o “…o grande chefe dos nossos infiéis modernos”. Logo depois, ecoou o escocês D. Hume sobre “..a hedionda hipótese desse famoso ateu; o universalmente infame Espinoza” (W. Durant, “A Era de Luis XIV”). Convenhamos: essas são reações de fundamentalistas, não de pensadores livres. O “filósofos” ingleses aceitaram o “cercadinho” delimitado por Newton. Aquelas sentenças devem ser suficientes para demonstrar a importância da obra daquele que foi chamado: “judeu sutil” (por Leibniz) e “o mais honesto dos filósofos” (Nietzsche)

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NEWTON DUVIDANDO DA ATRAÇÃO GENERALIZADA

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“…que todos esses fenômenos podem depender de certas forças pelas quais as partículas dos corpos, por causas ainda desconhecidas, ou se impelem mutuamente…ou são repelidas e retrocedem umas em relação às outras…”.

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Gravidade…ainda não designamos a causa desse poder. É certo de que ele deve provir de uma causa que penetra nos centros exatos do sol e planetas..”

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“…até aqui não fui capaz de descobrir a causa dessas propriedades da gravidade a partir de fenômenos e não construo hipóteses…para nós é suficiente que a gravidade realmente exista, aja de acordo com as leis que explicamos…”. 

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“…poderíamos acrescentar algo concernente a um certo espírito mais sutil que penetra e jaz escondido em todos os corpos sólidos (?), um espírito através de cuja força e ação as partículas dos corpos se atraem mutuamente…” (Citações de “Princípios Matemáticos da Filosofia Natural”, I. Newton). Vale a sentença (S. Agostinho): “Credo qui absurdum est” (Creio por ser absurdo: se não o fosse…CRENÇA desnecessária)

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“…o único movimento natural e absoluto da Terra consiste no que faz com que esta tenda a AFASTAR-SE do sol” (“Pesos e Equilíbrio dos Fluidos”, IDEM). Essa me surpreendeu e espero que revejam se não há problema da tradução.

Como se pode ver, ele mesmo não estava tão seguro quanto à capacidade de ATRAIR ser uma propriedade intríseca (generalizada e imanente) da matéria, mas DECRETOU A EXISTÊNCIA DA GRAVIDADE. É óbvia a inconsistência daquela que, por mais que ele não quisesse admitir, não passava (ou passa) de uma hipótese.

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TERIAM OS SEGUIDORES DE NEWTON LIDO SUAS OBRAS?

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Há, naquelas e em outras de suas obras, tantas afirmações que se mostraram tão ERRADAS (ver textos anteriores), que só um estranho medo pode explicar que ainda o fiquem cultuando como a um quase deus. Afinal, criticar é um ato de respeito, como disse LEIBNIZ a Locke: levar mais adiante sua obra reconhecendo sua importância até para além dos ERROS. Deve-se assinalar, ainda, que a maior parte dos escritos de Newton é de natureza bem próxima ao esoterismo. E como desdenha a filosofia! São inúmeras suas falas do tipo: “generalidades em que parece fundar-se a filosofia”em conformidade com o sentir filosófico”“não definir à maneira dos filósofos”. Hawkings teve um inspirador. Alguém já disse que a guerra é assunto sério demais para ser entregue a generais; pois faço um paralelo: o COSMO é complexo demais para ser apreendido por físicos…exceto aqueles que têm espírito filosófico, sabedoria—sempre a partir da consciência da limitação da razão humana—e não tentam REDUZIR o objeto de estudo de maneira a caber na estreiteza da sua mente. Há até os que chamam a filosofia “uma LINHA de pensamento“. E dizer que, sem o saber, Hawkings está também filosofando! Até mesmo quando diz: … importantes questões do universo não podem mais ser resolvidas sem a ajuda da física e da tecnologia.”. E quem disse que a filosofia abre mão de tudo isso? Ela apenas tenta dar uma visão mais ampla e HUMILDE aos achados que os “experimentadores”vão fazendo. Perdão pela malícia na palavra, mas é proporcional ao ataque recebido. Todo o meu respeito aos FÍSICOS que têm a humildade/sabedoria de reconhecer: é através de HIPÓTESES que vamos nos aproximando de algo que, à maneira de Tântalo, teima sempre em se afastar de nossas mãos
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“PRINCÍPIOS MATEMÁTICOS DA FILOSOFIA NATURAL” (I. NEWTON)

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O primeiro problema dessa obra, aliás, encontra-se no seu próprio título. A matemática está longe de ser uma “camisa de força” para a filosofia ou de poder “oferecer” PRINCÍPIOS à natureza. Afinal, ela nada mais é do que um estudo das RELAÇÕES (grandezas, proporções e movimento) existentes na natureza que sempre lhe escapa. Admito ser ela, juntamente com a PALAVRA, os maiores instrumentos do “TÂNTALO moderno”**: aqueles que mais se aproximaram da “coisa em si” (Kant). Quanto à mistificação que se formou em torno da matemática, lembro das muito prosaicas e infinitas DÍZIMAS PERIÓDICAS…Elas DIZIMAM qualquer esperança na redução da natureza a algum instrumento da razão humana. E o que faz Newton diante do que teima em lhe escapar? Todos os esforços para encaixá-la na sua mente mecânica. Enquanto Leibniz afirma não haver nada propriamente EXATO na natureza (círculo perfeito só na cabeça do geômetra, uma vez que há SEMPRE variações ainda que ínfimas e modificações permanentes) Newton faz afirmações dignas de um Cons. Acácio: “…os erros não são da arte (mecânica),mas dos artífices (seres humanos). Quem trabalha com menos rigor é um mecânico imperfeito, se alguém pudesse trabalhar com rigor perfeito, seria o mais perfeito mecânico de todos…”. Quem pode negar haver aqui uma defesa da possibilidade da EXATIDÃO (palavra repetida inúmeras vezes no texto) absoluta e “congelada”. A celeuma poderia ser reduzida a uma questão: enquanto os filósofos (dignos do nome) estão sempre conscientes da incapacidade  de tudo apreender, os físicos mecanicistas acalentam a esperança de tudo controlar. Tudo como d’antes…

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ESPAÇO/TEMPO: AFIRMAÇÕES PEREMPTÓRIAS…E ERRADAS!

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O mínimo que se espera de um pensador é que até nos erros seja coerente, no sentido da aplicação de algum PRINCÍPIO. Não é o que acontece com Newton. Todos hoje reconhecem quetempo/espaço não têm uma existência absoluta e para além dos fenômenos. Mas, na defesa da sua EXISTÊNCIA, esperava-se que ele aplicasse critérios semelhantes na afirmação dos 2 que fez em separado. Dizer que “o espaço pode ser distinguido em partes” é um erro evidente, mas poderia passar. PERGUNTA: por que ele não aplicou o mesmo critério ao TEMPO? Certamente porque sua tese desabaria completamente…já naquela época: pedaço de TEMPO seria demais. São os argumentos de Leibniz: 1- como afirmar a existência absoluta de algo que não tem partes (Tempo)?; 2- como aceitar a existência de pedaços de ESPAÇO que caberiam em outro espaço e assim por diante? Nesse sentido, e aplicando os PRINCÍPIOS de Leibniz, a única possibilidade de explicação para uma suposta EXPANSÃO do Universo seria imaginar que, à maneira dos muitos “sistemas solares” e das muitas galáxias existentes, haveria outros “Universos” (precisariam mudar o nome) que estariam sendo invadidos pelo nosso universo. Sempre tento pensar a partir de PRINCÍPIOS.

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CERTEZAS TEMERÁRIAS… E ERRADAS!

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Vejam as citações de Newton a respeito: 

I- O tempo absoluto, verdadeiro e matemático (pobre matemática) flui sempre igual por si mesmo e por sua natureza, sem relação com qualquer coisa externa…o tempo relativo, aparente e vulgar é certa medida sensível..a qual se usa em vez do tempo VERDADEIRO

“II- O espaço absoluto, por sua natureza, sem nenhuma relação com algo externo, permanece sempre semelhante e IMÓVEL; já o relativo é certa medida ou dimensão móvel desse espaço..que a plebe emprega em vez do espaço IMÓVEL” (P. Matemáticos)

Existem em toda parte toda espécie de figuras…: esferas, cubos, triângulos, linhas retas..Cremos firmemente que o espaço era esférico antes que a esfera o ocupasse, de maneira que ele podia conter a esfera (Peso e Equilíbrio dos Fluidos)

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E A MAÇÃ!? PREFIRO AS “DO AMOR”!

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Por fim, à espera de que o conhecimento avance e que algumas das hipóteses aqui levantadas (independentemente da reafirmação ou queda em desgraça da própria GRAVIDADE), há que lamentar a maneira ACRÍTICA com que a comunidade científica tratou uma afirmação sem qualquer lastro teórico, baseada apenas na observação de que as coisas…caem…sobre suas cabeças. Eu poderia até debochar dizendo que a MAÇÃ traz em si o simbolismo daquela atração platônica que Newton teria atribuído aos astros depois de tê-la perdido completamente nas suas relações. Infelizmente, caiu-lhe na cabeça e não no coração. Brincadeiras à parte, é muita pretensão DECRETAR e tentar impor ao UNIVERSO uma “lei” sem nenhum paralelo na natureza (não associada à polarização magnética), baseada em uma observação empírica verificada em um jardim inglês…provavelmente em um escritório. Já o estudo psicológico/antropológico/sociológico pelo qual um “ÍDOLO DA TRIBO” continua a ser reverenciado, até mesmo pelos cientistas (independentemente do resultado, repito) ainda está por ser realizado.

…………CONTINUA

*Em edição anterior da obra, Newton chamara Deus de “Sensório do Universo” o que amesquinhava, isso sim, o seu eventual papel. Era apenas uma projeção do seu próprio EMPIRISMO. Diante da crítica de Leibniz, corrigiu-se.
**Definir deriva do LATINO “finire”. Implica dar um fim, eliminar um problema intelectual reduzindo-o às palavras. O mesmo se pode dizer do GREGO “matain”, do qual deriva “matemática”: matar um problema. O risco nesses casos, é que à maneira dos anatomistas, matem-se os próprios objetos de estudo. No mito, Tântalo estava condenado a morrer de fome em um bosque cheio de frutas. Sempre que esticava o braço os galhos se afastavam.

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