
Nos dias 8 e 9 de novembro, o IPUB sediou o II Congresso Brasileiro sobre Psicodélicos: integração, acesso e regulação, realizado pela Associação Psicodélica do Brasil – APB – em parceria com o IPUB e financiado pelo Conselho Federal de Psicologia – CFP.
O evento promoveu debates sobre temas importantes para subsidiar a construção de conhecimento ético e inovador sobre os possíveis usos das substâncias psicodélicas incluindo o uso terapêutico para o tratamento dos sofrimentos psíquicos que desafiam a saúde coletiva e os usos sociais, que podem ser ritualísticos ou autônomos. O congresso também tratou do acesso e da regulação destas substâncias.
Participaram profissionais e pesquisadores da saúde, das ciências sociais e humanas e de variados campos do conhecimento, estudantes, usuários, representantes dos povos originários, músicos, artistas e comunicadores que constroem, representam e difundem o conhecimento, a ciência e a cultura psicodélica.
Os debates nas mesas redondas
A integração, o acesso e a regulação, eixos norteadores do congresso, orientaram as discussões propostas pelas 14 mesas redondas realizadas nos auditórios Leme Lopes e Icema de Oliveira. Entre os temas abordados destacaram-se “Regulação de psicodélicos no Brasil e no mundo” e o “Renascimento xamânico – Os desafios da globalização da ayahuasca para a medicina e espiritualidade indígena”.

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Na mesa de abertura, que contou com a presença de Fernando Beserra, co-fundador da APB e coordenador do evento, e de Maria Carolina Roseiro, representante do CFP, o diretor do IPUB, professor Pedro Gabriel Delgado, destacou a relevância da parceria entre o IPUB e a APB na realização do congresso para o fortalecimento da relação dialógica entre a universidade e a sociedade civil.
Em sua fala, Pedro Gabriel enfatizou que o IPUB é uma instituição de formação no campo da saúde mental da psiquiatria, de mais de 80 anos, sendo um instituto de formação e de assistência, que atende ao SUS de modo integralmente público. O IPUB possui diversas modalidades de atendimento e busca se coadunar aos princípios da luta antimanicomial e da reforma. Segundo ele, “isso é um esforço também, é um esforço dentro da própria psiquiatria Brasileira de poder se adequar às mudanças que são necessárias para o cuidado em liberdade. A linha geral, digamos assim, a diretriz ética é a diretriz do cuidado em liberdade”.
Para Pedro Gabriel, a questão sobre a política de drogas é uma questão central para a psiquiatria brasileira. Destacou a importância da regulamentação e da regulação dos psicodélicos ao falar que “não significa um combate abstrato ao proibicionismo. Significa um combate estratégico, dialético, onde nós temos que de fato construir elementos para vencer essa política de proibicionismo que está absolutamente na mesa de debates da sociedade brasileira e do estado brasileiro”.

O vice-diretor do IPUB, Marcelo Santos Cruz, participou da mesa “Políticas públicas sobre drogas”. A partir da sua vasta experiência no campo, fez um resgate histórico e uma análise das políticas sobre drogas no Brasil sob a perspectiva da clínica, da política, da pesquisa e da formação em saúde. Destacou a regulação das drogas como imprescindível para que haja avanços no campo do cuidado em saúde a pessoas em sofrimento mental e a pessoas que usam drogas, de forma problemática ou não, a partir da ética da Redução de Danos. Em sua apresentação, Marcelo Santos falou sobre o desafio da construção da rede de assistência criada como alternativa aos hospitais, considerando a complexidade desse problema, que inclui as questões culturais, que envolvem a escolha do uso de drogas de modo particular por cada indivíduo, mas também da relação das drogas em cada cultura. E isso tem uma série de implicações: questões éticas, tem questões legais e, principalmente, tem questões ligadas à subjetividade. “Como é que cada um de nós inclui as drogas na sua história de vida, como a particularidade de cada pessoa é diferente. Cada pessoa tem histórias diferentes e, ao longo da vida, cada um de nós vai mudando e vai se relacionando com o mundo, com a gente mesmo e com as drogas de forma diferente. Então, criar uma rede que atendesse a isso tudo era algo muito complicado”.
Fernando Beserra foi enfático ao abordar a questão dos psicodélicos como política e não somente como uma questão de pesquisa clínica, “A biomedicina arrisca abrir caminho para tratamentos caros, acessíveis só para a elite. Somos vozes da resistência, queremos garantir direitos de pessoas que usam drogas”.
A segunda edição discutiu, entre outros temas, os “Ensaios clínicos com psicodélicos no Brasil: diálogos sobre os caminhos até o SUS”; “Psicodélicos: clínica e pesquisa”; “Musicoterapia e Psicodélicos”; “Iboga e Ibogaína: uso contemporâneo de uma planta ancestral”; “Psicoterapias Psicodélicas no Brasil”.

O evento contou com uma exposição do artista e mestre vegetarista peruano Randy Gonzales. Ele representa, através das pinturas em seus quadros, o espírito das plantas sagradas, inspirado pelas visões que acessa nos rituais que conduz. O hall do Leme Lopes também foi ocupado pelos conviventes do Espaço de Convivência Salette Maria Barros Ferreira, vinculado ao PROJAD (Programa de Estudos e Assistência ao Uso de Drogas), que comercializaram peças e produtos por eles elaborados nas oficinas de mosaico, culinária e artesanato com mulheres.