Temas e Controvérsias

LEIBNIZ…TOLSTÓI…NIETZSCHE…FREUD & P. FREIRE-II

(Sim! SÓ O AMOR CONSTRÓI e propicia uma "reconstrução")
Freud
Freud

NOTA: tenho ouvido pessoas da área ampliando o conceito de TRANSFERÊNCIA até o ponto de quase sua destruição. Frases, como por ex: “o paciente fez uma transferência com a psicanálise, mas não a fez com o psicanalista” me parecem totalmente desviadas de foco. Trata-se de um fenômeno totalmente ligado às relações humanas ocorrendo apenas em situações muito especiais dessas mesmas relações (ver também citação no texto anterior). Assim a definiu Freud:“…o paciente vê naquela pessoa uma espécie de reencarnação de alguma pessoa importante de sua infância, de seu passado, TRANSFERINDO para ela, então, os SENTIMENTOS e as reações que corresponderam àquele modelo pretérito…”* (“ESQUEMA DA PSICANÁLISE”). Considerando, aliás, que ela se baseia no reviver sentimentos, falar em “transferência” para um conjunto de ideias ou atividade beira o absurdo. O que dizer, ainda, da sua associação direta à RACIONALIDADE? Logo estaremos dizendo “Tenho uma transferência com o futebol; com a arte ou com um gosto qualquer”. E então, daremos adeus a um belo conceito! Que sejamos os guardiões dos termos e conceitos fundamentais de todos os conjuntos de saber, as assim chamadas TEORIAS!
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A formulação do conceito de TRANSFERÊNCIA representou o ponto de virada na abordagem psicanalítica e de outras formas de intervenção nela baseadas. Deu-se em meio várias situações dramáticas e até mesmo perigosas (para todos os envolvidos) envolvendo o ressurgimento da sensualidade no ambiente da própria intervenção, com os riscos inerentes**. Poucas vezes, no campo da investigação científica, ficou tão clara a diferença entre aquele que se apegou à sua segurança pessoal (em vários sentidos, J. Breuer) e aquele que tudo arriscou abrindo um novo caminho no conhecimento (S. Freud)! Até então, as palavras mais aplicadas entre os dois pesquisadores eram: 1-SUGESTÃO: marcada pela indução à PASSIVIDADE; 2- CATARSE: associada a uma mera liberação ou esgotamento de alguma coisa; 3- RESISTÊNCIA: implicada diretamente com a afirmação de que o terapeuta saberia o “caminho da salvação” e o “melhor destino a alcançar”, enquanto o paciente a ele tentava resistir. Além disso todo o esforço era voltado para funções muito racionais do tipo: a “lembrança do trauma” ou a “tomada de consciência”, além de outras expressões semelhantes.
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TRANSFERÊNCIA…AMOR E RESPEITO! JÁ “COACH”…É PRÁ “COXINHAS”
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Por fim, Freud se deu conta de que a intervenção do EU do paciente: “…estava longe de se limitar à submissão, em passiva obediência, e em aceitar credulamente nossa “tradução” dele mesmo. O que sucede é algo bem distinto e que…nos surpreendeu. O mais estranho é que o paciente não se conforma em ver o analista à luz da realidade: um ajudante ou conselheiro, que reconhece (elogiando) seus esforços, adotando um papel parecido com o de um guia em uma árdua excursão alpina..Este fenômeno da TRANSFERÊNCIA não tarda em se revelar um fator de insuspeitada importância…(mas também) uma fonte de graves perigos….Altera toda a situação analítica…(o paciente) deixa de lado todo propósito racional de chegar a uma cura ou alívio de sofrimento…tudo se voltando a conquistar o amor do analista. Assim, a transferência se converte no verdadeiro motor da colaboração do paciente…Sob esse influxo…abandona seus sintomas…tudo isso por amor ao analista…Por mais que o analista tente se converter em mestre, modelo, ideal; por mais que se seduza por criar seres à sua imagem e semelhança, deverá saber que, com isso, trai seu dever trocando uma dependência por outra”. Ou seja: haveria como que um estado de ENCANTAMENTO, no qual uma certa dureza e rigidez se desfazem, de maneira a que o próprio indivíduo possa seguir o seu caminho sem precisar de outros moldes endurecidos. O “amor de transferência” seria como que o calor que derrete uma cera propiciando novas formas mais flexíveis e…individuais. Aqueles “moldes” eram, aliás, O PROBLEMA. Parece haver neles algo do que foi chamado “superego”.
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P. FREIRE: UMA PLANTA NADA EXÓTICA; DO SERTÃO BRASILEIRO!
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P. freire
P. freire

Não sendo alguém da área específica devo tomar certos cuidados nas minhas afirmações, mas quer me parecer não haver no mundo um corpo teórico, com bases tão sólidas e resultados tão estimulantes de renovação da pedagogia aplicada às populações (adultos e crianças) mais pobres dos diversos países. Até pelo nível do ataque frontal que P. Freire vem sofrendo por parte das “autoridades de ocasião”— defensoras de interesses de classe contra classe—podemos supor haver mesmo ali algo de muito novo e ameaçador para a continuidade da exploração. Considerando as medidas adotadas recentemente por esses mesmos, em relação à nossa educação, podemos quase ter certeza: aqueles métodos ameaçam o poder constituído. E se o ameaça, é por funcionar bem…deve ser mesmo bom! Se os europeus muito teorizaram a respeito (vide os autores aqui discutidos, nenhum deles um educador propriamente dito), parece não ter ocorrido uma aplicação de algo parecido a tanta gente e com bons resultados em algum outro lugar. A rigor, e no mundo moderno, o que temos visto é a predominância exatamente dos modelos opostos: aqueles voltados à transformação de pessoas em peça de engrenagem de uma máquina toda voltada à elevação do PIB, cujo melhor exemplo é encontrado no sistema educacional da Coreia do Sul, associado diretamente à explosão das taxas de suicídio entre jovens (mas não somente) naquele país.
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PROBLEMA NÃO É SÓ DE CLASSE… OPRESSÃO É GENERALIZADA!
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“Não se trata de transformar a figura do orientador num terapeuta, mas…que ele tenha sensibilidade às características de cada aluno” (F. DE SP 28/10, de um aluno sobre o suicídio de colega, pós-graduação-USP). Tudo parece tão simples quando se mantém o referencial da VIDA!
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Onde pode haver uma limitação na abordagem do problema—segundo o que tenho ouvido por parte dos seguidores de P. Freire—é no possível desconhecimento de que as primeiras vítimas desse sistema “educacional” foram exatamente os “filhos das elites”; a gente de ‘ESCOL”, de onde deriva….escola. E quem melhor assinalou isso foi M. MONTAIGNE (1533-1596) ao se referir aos “LETTREFERITS”, jovens que voltavam das escolas “feridos pelas letras”: “Observai-o de volta após 15 ou 16 anos: não serve mais para nada; o que trouxe a mais são o grego e o latim, que o fizeram mais tolo e presunçoso do que quando deixou a casa paterna. Devia voltar com o espírito pleno e voltou balofo. Incharam-no, mas continua vazio” (ENSAIOS, I-XXV “Do Pedantismo”)**. Acalento, aliás, uma tese que ainda vou desenvolver, válida também para a atualidade: esses jovens, intuem profundamente o mal que sofreram ao se deixarem deformar. Apesar disso, e em sua maioria, identificam-se com aqueles que os “torturaram”, fazendo do conhecimento adquirido um instrumento de vingança contra as pessoas mais simples (que não sofreram o mesmo processo). Assim, tiram as únicas vantagens possíveis nessa situação: ostentação, consumismo e ataque aos direitos das pessoas mais simples…ingênuas, tolerantes e boas. Aquele TOURO (deriva “Bullying) à porta de “Wallstreet” grita aos meus ouvidos: “Os que comandam essa casa de horrores estão se vingando do mundo, da humanidade e da vida em geral pelos abusos que sofreram!”. Só infelizes podem viver daquela forma….São tão ricos que só têm dinheiro.
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TÍTULO DE PATRONO…NOBEL…FAZEM MUITA DIFERENÇA?
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*Talvez tenha faltado concluir: propiciando, assim, um REVIVER de situações em novas bases, mais próximas da possibilidade de novas elaborações essenciais à tomada de mais poder sobre si mesmo (evitando as palavras “crescimento”, “cura” e outras habitualmente usadas nessas situações)
**Seu pai, com um sabedoria rara, tinha-o feito viver junto às famílias de seus camponeses por anos durante a infância e a juventude . Certamente não era um costume entre os nobres comuns.

Vice- Diretor do Instituto de Psiquiatria da UFRJ