Arte e Cultura

“BRANQUINHO DA B. FLOR”: SEM NOSTALGIA…NEM ESCRÚPULOS!

(…Foi muito mal! Ele vai tomar “caixote” na “quebra da onda global”!)

Márcio Amaral

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“Neguinho da Beija-Flor” não é propriamente um compositor muito prolífico, mas uma de suas canções (pelo menos) faz parte do cancioneiro popular e deverá ser cantada enquanto nossa cultura existir: “DOMINGO“. Não interessa se seus versos são muito simples e que alguns puristas critiquem sua mistura entre carnaval e futebol. De maneira muito inpirada, conseguiu a proeza de eliminar o tanto que o futebol divide as pessoas, unindo-as sob o espírito do carnaval. Eu, que sempre implico com os hinos de clubes cantados em desfiles de blocos, canto esse samba com o maior prazer. O povo sente que o compositor cantou por ele e que foi a sua voz. Hoje, o povo canta com ele (“Neguinho”) e nas ruas. Por tudo isso, seu compositor deveria tomar mais cuidado com a canção que nem mais lhe pertence (para além dos direitos autorais, é claro).

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Em seu afã de adular a Globo (“Sem Nostalgia” 20/7) e as “autoridades”, internas e “externas”—parece estar adulando “Dona FIFA” tentando ser convidado para cantar na abertura da Copa—resolveu ficar do lado dos agressores do Maracanã e ao espírito de posso povo. Para isso, modificou a letra do seu samba, especialmente para “adequar” (eles mesmos usaram essa palavra, terrível para qualquer arte) os trechos que falam daquilo que foi mais violentado na “reforma/descaracterização” do Maracanã. Agora, em vez de “…Vou levar foguetes e bandeiras…./Não quero cadeira numerada/Vou sentar na arquibancada/Prá sentir mais emoção…”; DEVER-SE-Ä CANTAR: “…Vou levar minha família inteira…./Vou de cadeira numerada/Que fica na arquibancada/Prá sentir mais emoção…”. Lembram-se de que “Os Trapalhöes”, ao se tornarem “politicamente corretos” e mensageiros da UNICEF, perderam toda a graça e interesse? Pois bem….

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Não faz muito tempo, atacando as cotas nas Universidades, a VEJA (sempre ela) mostrou interessante pesquisa genética na qual se demonstrava que a cor da pele estava longe de ser uma marca racial. Muitas pessoas que tinham pele negra compartilhavam mais de 50% de sua carga com os assim chamados caucasianos. “Neguinho” era um deles: teria cerca de 70% de sua genética compartilhada com os brancos. Era…então… um “negro de genética branca” (falar de ALMA caiu em desuso ultimamente); sua cor da pele seria apenas um “acidente”…e que belo acidente! E o “Neguinho”—quem diria?—não mais se satisfez em gostar “da filha da madame”. Resolveu achar que era “filho da Madame…que trata de Sinhá!”. Bem….Considerando que a Globo como que o perfilhou e até foi “madrinha” do seu casamento no Sambódromo (transmitindo-o ao vivo), ele deve ter lá suas razões para chamá-la de Sinhá. A verdade é que ele “acostumou da fantasia” e “branqueou de vez”, desconhecendo que a imensa maioria dos seus outrora “irmãos de cor” perdeu o acesso àquele que, um dia, foi o Maracanã. Quem sabe não faremos coro com o herói troiano Enéias quando, ao deixar sua cidade arrasada e derrotada, disse, olhando para seus escombros: “AQUI FOI TRÓIA!“. É o que penso quando passo perto do estádio que substituiu o Maracanã, pois “O MARACA NÃO HÁ MAIS”!

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Será que não sabem sequer que arquibancada se refere a uma….bancada muito grande e que, por isso mesmo, há uma incompatibilidade entre ela e as cadeiras numeradas; que, contrariamente ao muito brasileiro “se misturar” das massas, agora estarão “cada um no seu quadrado”…e nas cadeiras!? E que não venham nos empulhar falando em “cadeiras na arquibancada”! São incompatíveis. Vejam que não estou dizendo que uma coisa é melhor do que a outra. Mas talvez aquela separação seja a grande questão envolvendo a exigência das cadeiras (“versus”arquibancada, é sempre bom frisar): RETIRAR UMA CERTA EMOÇÃO que a proximidade entre as pessoas pode conferir. Bem….é típico das pessoas que não conseguem experimentar um certo prazer, o esforço para retirar esse prazer dos outros. Os membros da FIFA são apenas uns desgraçados (no sentido de serem desprovidos da Graça Divina) que se esmeram em violentar o que invejam. Aliás, só os deficientes em prazer e congraçamento precisam de um certo tipo de poder e tomam o dinheiro como objetivo máximo de suas vidas. Não os invejemos, mas também não deixemos que destruam os prazeres da gente simples de todo o mundo.

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Mas “Neguinho” se esmerou um pouco demais em demonstrar ter adotado completamente os valores pequeno-burgueses. Substituir “foguetes e bandeiras” por “minha família inteira”, é ser pequeno-burgues demais! Quem não precisa de família? Somente os ressentidos podem negar sua importância. Mas é bom não esquecer que seu nascimento (como a conhecemos hoje) se deu sob o signo da EXCLUSÃO. Talvez não seja mera coincidência que os grupos mafiosos de todos os tipos se denominem “uma família”. Há hoje uma vasta literatura comprovando o que F. Engels demonstrou (baseado em estudos de Morgan com os índios iroqueses) em “A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado”. Do acúmulo de riqueza; da fixação dos povos (a partir principalmente do cultivo dos cereais há cerca de 8000 anos no OMédio) e da apoderação dessa riqueza por alguns poucos, teriam decorrido:

1-direito de herança (de homens para homens, quando antes o que havia era a linhagem feminina/materna). Ver também estudos de Pierre Clastres com índios da Amazônia);

2-escravidão, mendicância e empregados domésticos (a própria palavra FAMÍLIA deriva do latim famulo= empregado doméstico; na casa dos senhores….é claro);

3-prostituição. Quando fazem a afirmação de ser essa a primeira profissão das mulheres, esquecem-se de dizer: a partir da tomada de poder (e das terras) pelos mais agressivos e individualistas.Sua mais recente expressão OFICIALMENTE ACEITA, foi “Le Droit du Seignour”: direito dos senhores feudais à primeira noite com suas servas, depois do seu casamento e antes da “lua de mel”, se é que podemos usar essa expressão para os “serviçais”!? Talvez fosse apenas uma “verificação da virgindade”! A ópera de Mozart “As Bodas de Fígaro” (baseada em obra de Beaumarchais) trata exatamente desse tema.

4-recrutamento, entre as classes oprimidas, dos mais fortes e destituídos de solidariedade de classe para formar os APARATOS DE ESTADO, garantidores dos privilégios de uns poucos.

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“NEGUINHO”! UM DIA, O SAMBA VAI SAIR “PROCURANDO” VOCÊ. QUEM TE VIU, QUEM TE VÊ…! Esqueça a TV! A gente simples do povo está onde sempre esteve.

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