Arte e Cultura

CARNAVAL: UM “CORPO ESTRANHO” NA CADEIRA DE PREFEITO!

(A BATALHA CULTURAL está lançada! “Afirmação ou morte”!)

Márcio Amaral, vice-diretor IPUB-UFRJ

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Todo ano, um trio elétrico de igrejas fica por ali com som na maior das alturas tentando atrapalhar a concentração do bloco. Esquecem-se do primeiro milagre de Cristo nas “BODAS DE CANÁ”: transformação da água em vinho para alegrar as pessoas e a festa. Por falar em cultura: lá foi o vinho…quem sabe aqui CANÁ teria também uma CANINHA…sempre com moderação, é claro!

NOTA: diante das medidas de ataque direto à cultura da cidade pelo prefeito: corte de apoios culturais; manobras junto a moradores de “bairros elegantes” contra blocos de carnaval, ruptura abrupta de contrato com um Bar Gay “00” (somente por essa condição) e outras tantas, concluí que a expressão “CORPO ESTRANHO” não é suficiente. Trata-se de uma CUNHA visando DIVIDIR a cidade em DOIS, e atiçar um dos lados contra o outro. Pensam que, nesse caso, o divisor de águas seria CONTA BANCÁRIA? Até que, nesse caso e apesar dos riscos, não seria de todo mau. NÃO! Seria uma união (entre ricos e pobres) contra a CULTURA, a alegria e a sensualidade. Crivella o prometeu a ricaços em jantar na V. Souto. E qual o “cimento” a juntar interesses tão diferentes e até antagônicos na origem? O MORALISMO das IGREJAS; aquele mesmo que está fazendo com que boa parte da nossa gente simples se envergonhe de sua própria origem; pense na pobreza como sinal de inferioridade, incorporando totalmente os valores daqueles que os exploram*. Essas “sombras de gente” sim seriam MASSAS! Já a CULTURA…engendra pessoas plenas.

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Usando aquela expressão com uma amiga: “um corpo estranho (à cidade) sentado na cadeira de prefeito”, ouvi de volta “Não sei não…por vezes acho que nós somos o corpo estranho”. Era um diálogo um tanto desfocado: eu falava pela expressão cultural máxima de nossa cidade e de como o prefeito se recusara a exercer suas funções; enquanto ela pensava nas eleições e outras manifestações que implicam especificamente NÚMEROS. É uma boa discussão, mas uma coisa é certa: o decisivo, em termos de expressão de uma cidade, não se reduz a números. O que fica, o que aparece e caracteriza uma cidade, no final das contas, é SEMPRE sua CULTURA. O resto, é uma “mancha cinza” e indiferenciada (infelizmente); aquilo em que os amigos do prefeito parecem quer transformar seus seguidores. Voltando ao “corpo estranho”: Quem duvida de que essa cidade respira carnaval praticamente o ano todo? Assim, quem briga com o carnaval briga contra toda a sua cultura.

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Sem desmerecer os números: como tinha gente se divertindo no carnaval!…Mais do que nunca e por mais que os responsáveis pela cidade façam tudo para atrapalhar a festa! E quantos blocos com suas características bem demarcadas; todos tão acolhedores! Uma coisa é certa e o carnaval não deixou margem para dúvidas: o prefeito entrou em guerra surda (com forte tendência a se tornar SUJA) contra a cultura típica da cidade que dirige. Não adiantam discursos de negação: sua CONDUTA foi explícita. Diante do DILEMA (inventado por ele mesmo e seus orientadores): ficar com sua igreja ou com sua cidade (no seu momento maior de expressão e congraçamento), ficou com a IGREJA. Eles inventaram essa OPOSIÇÃO, com isso reafirmando: “estou aqui para evangelizar, catequizar e livrar essa cidade da perdição”. Esse “CRI-CRI não VELA” pela alegria de sua gente e da sua cidade; pelo contrário! Vamos ver quem vencerá!

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…E NÃO FOI SÓ PELO FORA TEMER! BRASILEIRO NÃO É MASSA!

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Poucas vezes a relação entre CULTURA e POLÍTICA esteve tão na ordem do dia como nesse carnaval (2017)! Nunca aquele velho e carcomido discurso acusando o carnaval de ser expressão de alienação popular foi tão desmoralizado! O que o brasileiro não quer é se deixar conduzir por ninguém: à direita ou à esquerda. O governo ilegítimo e imposto tinha mesmo muitas razões para temer o carnaval. A autonomia (individual e coletiva) é mortal para qualquer despotismo; e são as pessoas mais autônomas aquelas que mais se envolvem com o carnaval. Mas há muita gente que se considera progressista e “de esquerda” que ainda não entendeu bem que a CULTURA precisa ter proeminência até mesmo em relação à luta POLÍTICA… e SEMPRE. A política oscila, balança e muda; a cultura cresce, permanece e ramifica…lentamente.

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Sim! Os progressistas “descobriram o carnaval e seu potencial para a organização das massas“, mas se esqueceram de que o primeiro “quesito a ser preenchido” (no carnaval e na CULTURA, em geral), é que não existam “MASSAS”…sempre amorfas, por definição; contrariamente ao que acontece com as pessoas nas suas manifestações culturais. Aproximaram-se e foram bem vindos, mas ainda dão “escorregadas” que sugerem uma abordagem muito parcial do acontecimento. Por exemplo: a triste expressão “OCUPA CARNAVAL”! Também por definição, quem ocupa é quem vem de fora, havendo nisso talvez uma confissão. Deixa a impressão de que vão tentar dar um “novíssimo” significado à festa, o que seria péssimo. O carnaval não precisa disso. Ele é, na sua própria ORIGEM, uma expressão de REBELDIA contra os poderes constituídos; TODOS os poderes constituídos, inclusive alguns que eventualmente sejam identificados como “de esquerda”. Tão Brasil! Quem anda OCUPANDO O CARNAVAL é a AMBEV que tudo invade, a partir de relações promíscuas com as prefeituras.

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*OS “ONANISTAS MORAIS” (F. Nietzsche: “Genealogia da Moral”): “Há nesses homens rancorosos, nesses degenerados, uma sede de vingança subterrânea insaciável… engenhosa em máscaras e pretextos. Quando alcançarão o triunfo definitivo nessa vingança? Quando conseguirem infundir nas mentes dos infelizes a sua própria MISÉRIA; quando conseguirem que se envergonhem da sua felicidade, dizendo uns aos outros: ‘Que vergonha sermos felizes em meio a tanta MISÉRIA!’. Que funesto erro seria o dos felizes e robustos se, algum dia, duvidassem do seu DIREITO À FELICIDADE e à ALEGRIA! Para trás com esse mundo às avessas!”.“Miséria”, no caso, refere-se à vida miserável dos próprios, do ponto de vista da alegria e do prazer.

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