Arte e Cultura

GMÍDIA: APODERANDO-SE ATÉ DOS ÍCONES ANTICAPITALISTAS!

(GLOBO e “15M”: Metendo a “Mão Grande”; invertendo todos os valores! )

Márcio Amaral

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15/3/2011, Madrid: Movimento dos Indignados
15/3/2011, Madrid: Movimento dos Indignados

Qual não foi minha surpresa em ver estampado em O GLOBO (16/3): “DEMOCRACIA TEM NOVO 15 DE MARÇO”. Voltem o filme, por favor! O 15M (ou “Movimento dos Indignados”) é um movimento especificamente anticapitalista que deu origem ao PODEMOS (novo partido espanhol). Teve origem na descrença no modelo autoproclamado “democrático” que somente serve para facilitar o poder e a exploração do capital sobre a sociedade, sempre através dos partidos tradicionais (PP e PSOE). Agora, os mesmos capitalistas (eles sim, são “internacionais”; têm uma única “pátria”: o lucro) estão lançando mão grande sobre o ícone daquele movimento. Esses caras são mesmo uns engraçadinhos! Eu, que assisto a TV Espanha com frequência e que me surpreendi vendo como as informações sobre o PODEMOS têm sido boicotadas e como o PSOE está ficando cada vez mais parecido com o direitista PP, concluí algo que já suspeitava: OS GOVERNOS DAS “NAÇÕES LÍDERES” ESTÃO ASSUSTADÍSSIMOS COM O QUE PODE SE PASSAR NAS PRÓXIMAS ELEIÇÕES ESPANHOLAS! Perto dos novos riscos, a Grécia vai parecer apenas um aperitivo. Essa é a razão pela qual aquela pessoa totalmente sem graça (um tal de Mariano Rajoi) se tornou o “queridinho” da Merkel. Que casal insosso! Têm feito de tudo para adiantar “projeções favoráveis” à economia espanhola e outras adulações.

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Voltemos à apropriação indébita e global também dos nossos ícones. Até o bom repórter G. Camarotti foi arrastado à prática. Disse ele (12/3, GN): o governo está muito preocupado que as manifestações de domingo se tornem novas “Jornadas de Junho”. Pensei que ele se lembraria dos “caras pintadas” e outros movimentos de tipicamente de classe média. Comparar o que houve em 15/3 com as “Jornadas de Junho” não é digno da inteligência dele. Foi uma orientação a ser cumprida: não havia qualquer tipo de “previsão científica ou sociológica” nisso. Apenas a expressão de uma intenção: apropriação indébita. O próprio UOL/F de SP confessa-o hoje sem se dar conta. Está lá no UOL: “AVÓS, CRIANÇAS E CASAIS dão a diversidade do protesto”. Foi essa, sim, a composição que vi em Copacabana. Em junho de 2013, FORAM OS JOVENS DE TODAS AS CLASSES nas ruas, e ESPONTANEAMENTE. Agora, seus pais, avós…e irmãozinhos. Tudo tão família! Tão pequeno-burguês e comportado! Essa foi a razão pela qual, apesar do susto inicial—pois nunca imaginei ser possível que um movimento de direita expressivo pudesse criar raízes na sociedade brasileira—não temo pelas consequências daquelas concentrações. A decadência estava estampada em tudo (ver abaixo): tudo aquilo com que a juventude quer romper…e antes de que se deixe corromper!

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UMA LÓGICA “MERVÁLICA E PERÉBICA”…COMO DIRIA S. CREYSON!

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realO comentador de política da GNews, Merval Pereira, ficou entusiasmado e mostrou (dessa vez quase sem gaguejar) toda a sua incapacidade para o raciocínio lógico! M. Rosseto dissera que os componentes das manifestações eram somente os eleitores de Aécio. Merval contraditou. Pois bem: OS DOIS ESTAVAM ERRADOS. Rosseto, por tentar menosprezar algo que tinha grande importância. A um homem ligado à política não é perdoável deixar de ver a diferença entre: 1-apenas colocar um voto na urna (nem assim é mais) e; 2-ir para as ruas protestar. Mas bem pior foi a “lógica” do Merval. Disse ele: “não eram somente eleitores do Aécio PORQUE Dilma está com muito baixa aprovação” (7%, segundo seus informantes, talvez da CIA, quem sabe?). Essa foi demais! Alguma lógica nessa afirmação, só se o número de manifestantes ultrapassasse o de eleitores de Aécio….e no primeiro turno (os aecistas convictos), o que dá perto de 30 milhões. Foram perto de 2 milhões, admitamos. Donde se conclui, diria um filósofo da LÓGICA (daqueles bem chatos): a partir dos dados apresentados, é possível mesmo que todos os manifestantes tenham sido eleitores de Aécio. Ademais, e agora vai para o Sr Rosseto: ter votado no Aécio não vira tatuagem em ninguém. As pessoas podem mudar. Mas… Deixemos essas toupeiras de lado. Que discutam a partir dos seus próprios buracos!

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Preocupado com os rumos do movimento, FHC propôs que se procurasse por Lula e Dilma para conversar. Era o que fazia em momentos mais difíceis, nos quais o futuro do próprio país corria riscos. Foi escorraçado e os cães raivosos o silenciaram. A pergunta é: estaria ele reconhecendo o partido que criou? Nem em seus piores pesadelos ele deve ter imaginado que o PSDB se tornaria um partido no qual a perspectiva da direita, até mesmo com matizes fascistas, seria a tônica de suas manifestações. Alguns dos dizeres lá expostos e “cantados” são muito sugestivos:

“Ê DILMA ARRANJA UM NAMORADO”!
“AGRADEÇO À PM O TOTAL APOIO A ESSA MANIFESTAÇÃO”!
(De um político que alugou um carro de som e falava sozinho, Ricardo)
“PAREM COM A SURUBA! O POVO SÓ DÁ O C…”
“PELA FAMÍLIA! PELA VIDA! CONTRA O ABORTO!”
“POR UM BRASIL MAIS AZUL!” (talvez branco e vermelho, com estrelinhas).
Quase todos eram, além de conservadores, golpistas! Todos, menos um:
“EM 2016 E 18, NÃO ELEJA NINGUÉM DO PT”
Bravos! Aquele senhor entendeu o que é Democracia!

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PPPP: PASSEATAS PELA PRESERVAÇÃO DE PRIVILÉGIOS?

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intervencaoLonge dessa grita/Lá onde mais densa/A noite infinita/Verte a sombra imensa….

(“Os Sapos”, M. Bandeira)

Enquanto isso, lá do Posto VI, já há algumas semanas e nos fins de semana, foram retirados os pontos finais dos ônibus que veem do subúrbio. Queriam evitar que o Arpoador continue sendo “invadido” pelos pobres. Na calada da noite, e sem que houvesse qualquer protesto, conseguiram! Antes disso, em estratégia óbvia, começaram a parar os ônibus em frente ao Pinel e assediar os jovens pobres provenientes da praia. A informação também era clara: “Vocês não são bem vindos na ZS maravilha! Vão pro piscinão! Arpoador, Não!” A “cidade/condomínio” marcou um ponto e a cidade-cidade…perdeu. Sem precisar de muros, o prefeito—que não sai de cima do muro, pois apoiou Dilma, mas quer que se esqueçam disso—manteve os pobres à distância. Esse “apartheid branco” (no sentido de não haver sangue nem muros) ainda haverá de trazer muitos problemas para o Rio. Que os pobres sejam invisíveis, é o que se espera. E eu que sempre repetia: a direita não tem espaço como um movimento político no Brasil, hoje estou triste e já não tão convencido disso.

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