Arte e Cultura

LONDRES 2012: FALTARAM O PODER NAVAL E O IMPERIALISMO

(ALIÁS, QUAL É MESMO O ANIMAL INGLÊS E SEU MASCOTE?)

Os grandes ausentes da festa de abertura das Olimpíadas de 2012 foram: o poder naval e o imperialismo inglês. Impossível pensar na Inglaterra sem considerar sua grande esquadra, artífice, aliás, de uma outra marca muito inglesa: o Império onde o sol nunca se põe! É verdade que teve em sua base a Revolução Industrial (muito bem representada na festa). Toda aquela riqueza, entretanto, teria sido derrotada, não fosse o poder naval e a batalha de Trafalgar na qual a Esquadra de Napoleão foi destroçada. Em sua obsessão por derrotar os inglese s, o auto-consagrado Imperador tentou estrangulá-los fechando os mercados de todos os países aos seus produtos. Aquela história da abertura dos portos por D. João VI deve-se a isso.

Falar no poderio naval inglês, entretanto, obrigaria a falar em tantas coisas que eles querem esconder!!! Por exemplo: que tudo começou com seus piratas, Alguns até condecorados por reis e rainhas a eles muito gratos. Enquanto os portugueses e espanhóis (apesar de tudo) tinham alguma motivação elevada (religião e cultura), os ingleses e franceses foram sempre, e antes de tudo, apenas piratas. Que, em 1807 destruíram Copenhagen por sua aproximação com Napoleão. Que até o nosso Rio quase foi bombardeado durante a “Questão Christie”, somente porque alguns marinheiros ingleses arruaceiros tinham sido presos, e tantas outras situações.

Voltando à R. Industrial, pensam que a indústria inglesa, fonte maior do poder inglês, impôs-se ao mundo somente pelo barateamento da produção e maior competência? Seu instrumento direto de imposição foi o poder naval. Pobre Índia!

Entre 1815 e 1832, o valor de suas exportações de produtos de algodão caiu de 1,3 milhões de libras para menos de 100mil, enquanto a importação de produtos de algodão ingleses aumentou em 16 vezes. Ela era um país manufatureiro. Nunca outra nação pode competir com elas quando o jogo era limpo…” (Eric Hobsbawn: A Era das Revoluções). Ou seja: para dominar mercados, o método mais efetivo (e muito inglês) era destruir a produção local.

Mais aguda e violenta foi a ação do poder Industrial/Naval inglês no Egito. Quem sabe quem foi Mohamed Ali? Cem por cento das pessoas responderão que foi um boxer norte-americano convertido ao islã. Nada disso! Foi o primeiro grande nacionalista modernizador do oriente; um déspota esclarecido que, entre 1820-40, fez desenvolver a indústria, ameaçando os mercados e o poder inglês. Aliados à Turquia e com apoio das demais potências européias (sem falar na força das canhoneiras), os ingleses destruiram o projeto egípcio, reduzindo-o novamente à dependência (IDEM). Cerca de 170 depois, disse Mitt Romney, em Jerusalém que a submissão palestina (quis dizer árabe, em geral) se devia a uma inferioridade cultural.

Já fui muito anti-americano e anti-inglês, até me dar conta de que as primeiras vítimas, nesse doloroso processo, foram os próprios ingleses e americanos. Triste é ver como os explorados de ontem se aliam tão facilmente aos exploradores, também tirando vantagens da exploração de outros povos! Em 1834, na mesma Inglaterra:

“Uma Lei dos Pobres foi projetada para tornar a vida intolerável aos camponeses, de maneira a que se vissem forçados a abandonar a terra em busca de qualquer emprego que lhes fosse oferecido…De fato, na década de 1840, vários condados estavam à beira da perda total da população” (IDEM). Bem…a indústria precisava de mão de obra…e a mais barata possível!

A mesma LEI, “…um estatuto de insensibilidade incomum, dava ao trabalhadores auxílio-pobreza, mas somente dentro das workhouses onde eram separados das mulheres e filhos, para desestimular o hábito sentimental de procriação impensada…verdadeiras casas de detenção, onde eram abrigados os desempregados e pobres aptos ao trabalho, resultado das leis contra a vagabundagem” (IDEM).

Gostei muito de ver as caras sujas e o olhar duro dos atores que representaram os operários ingleses! Havia muita verdade naquilo e eles a captaram bem! Impossível foi aceitar a “glamourização” dos homens de preto e cartola que, representando os financistas e contabilistas, comandavam as ações em cena. Foram eles que infernizaram a vida das pessoas simples do povo; que encarceraram os devedores, numa demonstração clara daquilo que consideravam sagrado: o lucro. São eles os tataravós dos “homens de wall street”; os mesmos que expulsaram de suas casas, nos EUA, as pessoas que não conseguiram pagar hipotecas, muitas vezes forjadas.

E o mascote inglês, quem diria, foi um número!!! Só que um número mesmo: a estilização de 2012. Ficou um aleijão semelhante a um Frankenstein. Será que não sobrou um animal sequer ou referência à natureza que tenha sobrevivido à R. Industrial? Com alguma imaginação, porém, o problema teria sido resolvido. Que tal:

1-A borboleta cinza de Darwin. Aquela que passou a ter vantagem sobre as de outras cores, uma vez que tudo ficou cinza por lá.

2-O monstro de Lock Ness. O problema é que, até hoje, ninguém o viu. Além disso, é escocês.

3-Um Hooligan. Esse é bem inglês.

4-Um animal do livro “Alice…”. Talvez até mesmo a Rainha de Copas—uma representação da R. Vitória— gritando “cortem-lhes as cabeças”!

(CONTINUA)

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