Arte e Cultura

R. CONSTANTINO: DEFENDENDO OS ESCRAVAGISTAS!

(No fundo de todo privatista radical, há um escravagista…e no original)

Márcio Amaral

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Constantino é um economista a soldo dos grandes banqueiros. Todos o sabem. É também um defensor da transformação de tudo (ou quase) em meio de troca, consequência natural sua apologia da PRIVATIZAÇÃO de tudo. Antes de mais nada, porém, ele é um “pescador de águas turvas”. Onde há uma água um tanto turva (nas relações humanas e profissionais, principalmente), lá está o “anzol” do Constantino, tentando fisgar mais pessoas para sua defesa da privatização de tudo (ou quase). Agora, resolveu se tornar o paladino dos médicos: “Quem serão os próximos Escravos?” (Rev. Época). E como estava convencido de ter uma platéia garantida! Afinal, meus colegas andam mesmo ávidos por encontrar algum “teórico” que lhes apresente uma justificativa aceitável, do ponto de vista moral, para a defesa de interesses principalmente corporativos, como têm feito nossas associações*. No caso discutido, o prolongamento do curso médico em 2 anos, entretanto, estamos de acordo: a proposta não faz qualquer sentido e certamente não será levada à prática (escrito antes da sua suspensão definitiva). Foi apenas mais uma trapalhada dos “articuladores” do governo.

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Nesse seu artigo, entretanto, os mais desavisados poderiam até vislumbrar algum cuidado e interesse na saúde da população e com os diretos democráticos, etc. Nossa sorte, entretanto, é que a linguagem por ele utilizada acabou por trair suas tendências predominantes. Além disso, essas pesssoas acabam sempre falando demais e, com isso, deixando à mostra suas mais profundas intenções:

“Esqueça fazendeiros que não conseguem preencher 252 itens das leis trabalhistas; o verdadeiro trabalho escravo é esse….”.

Vejam que ele está protegendo os escravagistas e inculpando a legislação trabalhista pelos “pequenos desvios” de alguns “pobres” fazendeiros “obrigados, contra sua vontade, a manter pessoas sob regime de semi-escravidão”. O que dizer, então do seu desrespeito a todos aqueles que sofreram com a escravidão em toda a história? A partir daí, nada mais que vier desse senhor há de nos surpreender. E observem que ele está falando de um tipo de crime bem tipificado e que sofre fiscalização séria (a ponto de muitos desses fiscais terem morrido em atentados). Os escravagistas haverão de se valer dos textos do Senhor Constantino. A identificação entre eles parece total.

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Outro argumento muito típico dos “privatistas radicais” é a oposição entre os interesses individuais e os coletivos. Nada mais do que um falso dilema e uma isca que muitos ingênuos ainda mordem:ela (a proposta governamental) é coletivista e autoritária…parte da idéia de que as demandas “sociais” são mais importantes do que as escolhas individuais”. Deixando de lado falsas filosofias de falsos intelectuais, na imensa maioria das vezes esses interesses não são conflitantes. Uma coisa, porém, é indiscutível: É PAPEL DE TODO GOVERNO É ELABORAR POLITICAS PÚBLICAS VISANDO O INTERESSE COLETIVO. Mas o que esse senhor conhece de políticas públicas, se tudo o que defende é a privatização e o ESTADO MÍNIMO? Sem impostos suficientes, como levar a efeito aquelas políticas? Por vezes até aceitam um MÍNIMO de políticas públicas, esperando sempre que a gente simples fique muito agradecida por isso.

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Aproveitando a oportunidade…e as águas turvas, Constantino decretou também o fracasso do SUS, afirmando mais adiante: “…O mercado livre costuma funcionar; o intervencionismo estatal não. Isso vale para alimentos, para remédios, para bebidas, para vestimentas, e sim, para médicos”. Pronto! Agora chegamos ao seu tema favorito: A PRIVATIZAÇÃO DE TUDO E A TRANSFORMAÇÃO ATÉ MESMO DA SAÚDE EM MERCADORIA. Sabemos bem onde acaba o descontrole governamental e a tal “liberdade de mercado”. O mundo nem sequer se levantou da crise provocada por esse tipo de ideologia e os muitos Constantinos por aí voltaram a tocar a mesma modinha de apologia do “Deus-mercado”, e “Com a Flauta que era do Constantino” (canção de autor anônimo)! Nada mais do que a defesa do “direito” do mais forte avançar sobre o mais fraco.

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É, mas dessa vez ele foi longe demais e deixou à mostra toda a perversão a que leva a privatização generalizada: “…E se for o caso de atender, VIA O SISTEMA PÚBLICO, certos locais mais afastados e carentes, que isso seja feito por meio de trocas voluntárias…”. Perceberam a gravidade destas palavras: “E SE FOR O CASO…”?! Enquanto, para muitos, esse atendimento é uma prioridade absoluta e vital, para eles há de ser “um acaso fortuito, eventual e sempre à procura do MÍNIMO”. Para quem só se interessa por dinheiro e mercadoria (aquilo que não se pode vender parece não existir para eles), o atendimento a essas pessoas haveria mesmo de partir do SISTEMA PÚBLICO. Eles, os privatistas, são viciados em “TROCAS VOLUNTARIAS” (algumas não tão voluntärias assim, como vou assinalar adiante).

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Considerando, entretanto, que naqueles “certos locais mais afastados” não há sequer banco, o que as pessoas teriam para trocar, senão seu próprio corpo? O que resultaria dessa “troca”, senão escravidão e prostituição? Quem sabe Constantino não convidaria aqueles mesmos “pobres e injustiçados fazendeiros acusados de explorar escravidão” para administrar essas “trocas” nada voluntárias? E Constantino, de novo, se encontrou com seus amigos preferenciais! Para os escravagistas, as pessoas nada mais eram do que um bem vendável. Mesmo que Constantino não se dê conta, É DISSO QUE ESTÁ FALANDO. Não há como escapar da lógica: os raciocínios totalmente privatistas (eliminando o papel de ESTADO) desembocam, necessariamente, na compra e venda até dos corpos das pessoas. E quem poderia se valer da palavra “VOLUNTÁRIA”, nesses casos?

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Muitos talvez tenham se dado conta de que, ao falar nas “trocas”, Constantino se referia apenas aos proventos necessários para atrair os médicos e outros profissionais de saúde e não para com a gente de “certos locais afastados”. Desculpo-me. Acontece, que a atmosfera por ele mesmo criada é tão cruel para com a humanidade e tão carente de um mínimo de humanidade e grandeza, que faz despertar os piores sentimentos. Em seu modelo, baseado em um “troca-troca” meramente interesseiro, onde ficariam, por exemplo, o amor materno, a amizade, o amor-paixão, a apreciação estética…essas expressöes que fazem a vida maior e que não cabem em números?

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Constantino, em verdade, deve sofrer de uma deficiência muito antiga. Como não consegue superá-la, resolveu tentar transformá-la em um valor. Fiquei me lembrando da fábula de uma assembléia de ratos, na qual um, da tribuna, tentava convencer os demais de que os seus rabos de nada serviam e ainda facilitavam seu aprisionamento pelos gatos, etc. Quando todos já estavam se convencendo, um ratinho, olhando-o por trás da tribuna, falou bem alto “HIII! Ele não tem rabo!”. Quem sou eu para avaliar a importância dos rabos nos ratos, mas essa carência também pode se aplicar a partes bem mais nobres.

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