Arte e Cultura

RIO: A MAIS AFIRMATIVA DE TODAS AS CAMPANHAS ELEITORAIS!

(O desastre do PT como pano de fundo da campanha do PSOL)

Márcio Amaral, vice-diretor IPUB

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Quando milhares de luzes muito individuais se acendem coletivamente, as TREVAS estão com seus dias contados.
Quando milhares de luzes muito individuais se acendem coletivamente, as TREVAS estão com seus dias contados.

O PSOL fez todos os esforços possíveis para ser exatamente o OPOSTO ao que se tornou o PT, especialmente no Rio. Apenas se diferenciar do PT parecia muito pouco. Era preciso agir como quem denuncia TODAS as práticas nas quais o PT se atolou seriamente. Só se esqueceram de um princípio muito simples: quem quer ser o oposto, seja em relação a um movimento ou a uma pessoa (pai ou mãe, por exemplo) está confessando que ainda o tem como referência. Não deixa de ser uma confissão de não liberdade, ainda que a impressão buscada seja outra. Fazer “TÁBULA RASA” em relação ao passado não é expressão de liberdade. Além disso, há o que aprender…desde que se tenha liberdade para discernir aquilo que pode ser aproveitado e o que deve ser descartado. Sem essa crítica, aliás, os fantasmas haverão de assombrar permanentemente. Mas foi muito interessante o que se passou por aqui: em meio à turvação de todas as águas, aconteceu um movimento altamente bem sucedido de AFIRMAÇÃO de valores e princípios pela esquerda democrática.

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Quem julgar o PT ainda como um partido de esquerda, concluirá ter havido um enorme retrocesso das esquerdas nas eleições. Visto como ele efetivamente se tornou: o “POPULISMO”contra o qual também havia que lutar, o quadro muda completamente: conquistar 1,16 milhão de votos em uma campanha que teve como PRINCÍPIO a ORGANIZAÇÃO em torno de VALORES, correspondeu a uma espécie de “MARCO ZERO” nas lutas por um socialismo democrático no Brasil, e esses são pontos de partida, não de chegada. Típico, no caso, foi o abalo sério de quase todas as regras formuladas* há décadas por “especialistas” em eleições**: reprodução de fórmulas que a vida supera e eles mesmos não percebem. Nesse sentido, tivemos a nossa primeira campanha eleitoral “não eleitoreira” e com votação expressiva. Por isso, a entrevista de um certo Pres. do PSOL, dizendo que seu partido está ocupando o lugar que foi do PT foi tão desastrosa. Quanta incompreensão, nessa e em outras afirmações ali contidas!

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FALANDO MAL DO POVO…QUE NÃO SABERIA VOTAR?

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Sim! Pasmem: vi gente, tanto do PT quanto do PSOL, “inculpar o povo” pelo resultado. Quem se lembra de Pelé dizendo que o povo não sabe votar? Pois eu acho que o povo teve fortes razões. Há que respeitar e aprender. Será que só temos a ensinar? Afinal, um certo projeto no qual a gente simples apostou por décadas (PT/LULA) não somente se esgotou, como terminou melancolicamente! Nada mais natural que uma outra “tendência” assuma. E é nesse ponto que as abstenções e nulidades têm a sua importância. A imensa maioria não apoia ativamente esses governos que aí estão. E é bom lembrar de que tudo isso foi fruto da DESORGANIZAÇÃO que o POPULISMO sempre provoca. Em vez de simplesmente se agarrar a poder/cargos, havia que investir na organização das pessoas em torno de projetos e PRINCÍPIOS. Havia tantos instrumentos! E então, todos foram arrastados no aluvião, mesmo aqueles que, há décadas, combatiam os desmandos dos governos do PT. Mas há algo de novo no ar do Rio: a empolgação da juventude que fez concentrações de muitos milhares de pessoas, mesmo depois da derrota. Isso é um PATRIMÔNIO tendente à ampliação e consolidação, caso os passos seguintes sejam cuidadosos e determinados.

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TERIA A VIOLÊNCIA FEITO OUTRA “VÍTIMA”?

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Se há algo generalizado na sociedade brasileira é a abominação à violência em geral. Assim, quando, nas semanas seguintes ao primeiro turno, vi as tristes cenas dos “Black Blocks” (2013) e a entrevista no local com o candidato, senti profundamente que as coisas não avançariam como ele esperava. Dizer “Não sou juiz”; “São movimentos sociais”; “Estou nessa luta há muito tempo” só seria aceitável se precedido por uma declaração firme de condenação à violência, em geral. Todos sabemos como os órgãos ditos de “inteligência” não somente aplicam violência direta, como a provocam, infiltrando falsos manifestantes nos movimentos. MAIS UM MOTIVO PARA SUA CONDENAÇÃO antecipadamente. A violência tem efeitos contrários aos buscados por aqueles conhecidos por lutar contra ela. Quem é preparado e alimentado pela violência são os grupos de DIREITA, as FAs e os infiltrados. Nós não. O fato de a História registrar revoluções populares violentas não nos deve fazer perder de vista que se deram em situações muito mais extremas, produzidas pelo próprio CAPITALISMO: fome generalizada e falta de perspectivas. E aquele partido tem correntes constituídas que fazem a defesa da violência, o que torna as coisas mais difíceis. Afinal, QUEM FALA POR ELE? Todos estão fugindo da questão.

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Mas há outro tipo de VIOLÊNCIA muito contraproducente, cujos efeitos ainda não foram bem estudados: aquela que acontece nos debates. Quem se lembra da disputa LULA X ALCKMIN? No primeiro debate, o paulista entrou de sola desde o primeiro instante, ofendendo e abalando Lula profundamente. Era óbvio o seu acuamento. Afinal, havia o “mensalão” pesando sobre sua cabeça. Para todos os efeitos, Alckmin “ganhara” o debate. Quando os votos foram contados, havia perdido votos obtidos no primeiro turno. Felizmente, o estilo Lacerda não tem mais passagem entre nós. E eu devo dizer que sintonizei com a situação nos debates de agora, antevendo o que aconteceria: um sentimento de proteger quem estava sendo acuado e “injustiçado”. Sim! São os sentimentos que ganham eleições. Se eles estiverem umbilicalmente ligados a ideias que lhes deem mais sentido e consistência, ótimo. SOLUÇÃO para o problema? Certamente não será fazer teatro, mas se aperceber dos próprios sentimentos durante os debates e não se deixar levar por raiva e ressentimento. Mas a vitória pode ter sido “DE PIRRO” para o “bispado”. Nunca suas sujeiras e suas intenções malévolas ficaram tão a nu. E essa ficha vai cair. É só esperar um pouco***.

……………..FIM

*Uma vice-prefeita do mesmo grupo, não acrescentando votos ou correntes; uma ausência total de procura por apoios oficiais entre os derrotados no primeiro turno; uma não mudança no discurso nas duas fases e tantas outras. Tudo ficou em um excessivo “VENHA A NÓS! Nós somos a luz e a esperança!”. O povo pode ter visto nisso ARROGÂNCIA. Mas que foi bonito, foi. Há hoje, no Brasil um ANTES e um DEPOIS dessas eleições do RIO. Que os responsáveis por esse novo patamar estejam à sua altura!

**Se há uma palavra execrável é “maqueteiro”: como que OFICIALIZA o mau uso das eleições, tornadas meros campos de manipulação e “venda” ainda que de imagem.
***Frases com as que Crivella disse aos muito ricos em jantar na V. Souto: “Vou vacinar as pessoas da periferia!” fizeram-me lembrar do “GRANDE INQUISIDOR” (“Os Irmãos Karamazov”) do qual vou preparar um resumo e discussão. “Vacinar” contra o quê? A LUTA DE CLASSES é claro! A outra faceta da ação é exatamente o “CUIDAR DAS PESSOAS”. Tudo isso está no capítulo da grande obra do mestre russo.

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