Arte e Cultura

RIO-LONDRES: UM “SHOW” DIGNO DE CHURRASCARIA!

(NEM VEM QUE NÃO TEM………!)

Márcio Amaral

Tudo o que não houve no “show” de encerramento das Olimpíadas foi Brasil! Muito menos o Rio! Isto é…se estamos falando daquele Brasil…Brasil mesmo, não do que é apresentado para enganar turistas. Não é à toa que os estrangeiros pensam ser o samba um ritmo “alegrinho”! Têm enorme dificuldade para entender que, por aqui, e no samba, “..A tristeza se abraçou com a felicidade/Entoando cantos de alegria e liberdade…”.

Na primeira cena (“Sorriso” X Segurança) uma alusão muito londrina. É o conflito essencial entre Carlito s/Chaplin e os guardas das esquinas; uma louvação à irreverência. Nunca aconteceu nada de parecido com “Sorriso” por aqui. De repente, o ataque de uma excelente bateria! O coração, de imediato, dispara; a atenção vai ao seu maior nível; algo de grande vai acontecer! E, então, entram…as mulatas de Sargentelli! Era a Churrascaria Plataforma! Que decepção! Nem vou falar daquela roda de pavão em neon nos seus traseiros… Com que propósito?! Estético ou simbólico? Deixa prá lá! E, por falar nisso, o que dizer dos índios com capacete de neon? Pobres dos bravos e fortes guerreiros…um capacete luminoso…! Que violência! Devem estar preocupados com a preservação das penas de araras e outros pássaros que adornavam seus belos cocares.

UMA “COLAGEM” DE ESTEREÓTIPOS

De repente….um silêncio! Era o momento lírico. Entra um carro alegórico com uma coisa que tentava parecer com uma onda…a melodia estropiada da bachiana….tão maltratada por uma voz pequenininha e inexpressiva! Um erro grave: a referência folclórica principal da música de Villa é indígena (“o Indio de casaca”) e não o candomblé. É verdade que ele também compôs inspirado na cultura negra (“Ê Macumba bê bê…Ê Macumbê! Ê Macumba bá, Ê Macumbê!”). Há tantos belos, líricos e misteriosos pontos de macumba e sambas de roda! Por que não cantá-los? Seria tão mais verdadeiro!
“…Avistei meu marinheiro/Nos braços de Yemanjá/Construí minha cidade/Todinha em volta do mar/Marinheiro Ê….”Acalanto, T. Cristina

O problema é que queriam reunir todos os estereótipos que os estrangeiros associaram a nós! Nenhuma verdade brasileira desfilou naquele palco. Para associar o nosso grande compositor a uma “Rainha das Águas”, havia de ser a Yara com sua tragédia e seus mistérios. Não! Nada que se referisse a mistério e lirismo cabia naquele ambiente de pressabarulho e mau gosto!

O coroamento dos estereótipos (sem carne nem espírito) foi o surgimento de um “malandro de cartaz”! E não é que era o “Seu Jorge”?!* Aquele mesmo do “Morro do Pau da Bandeira”! Aquele que reafirmou, como ninguém, a cultura do morro contra todos os assédios. É!!! Mas o apelo da fama imediata e mundial é grande demais! O diabo usa de estratagemas quase irresistíveis na sua negociação para arrematar as “almas de escol”. Pior…prestou-se a representar o malandro em sua pior versão. Aquele que foi a maior vítima nessas “negociações um tanto diabólicas”: W. Simonal. Importa pouco se ele foi ou não informante dos órgãos de segurança durante a ditadura. O que interessa é que se aproveitou de uma “onda”; tornou-se um ícone do que havia de pior e, quando a onda quebrou, pagou seu preço. Eu, que era bem jovem, lembro da decepção com aquele bom cantor que tivera um belo início de carreira. Quem se lembra de que o título do seu disco de maior sucesso foi“Quem não Tem Swing, Morre com a Boca cheia de Formigas”?** Eu diria: quem confunde o molejo do malandro carioca com o tal do “swing”, de há muito perdeu sua referência e corre o sério risco de morrer…com a alma cheia de formigas. Pobre Simonal! Foi também, à sua maneira, uma vítima.

Depois de uma cena digna da PRAÇA DA APOTEOSE, só que sem qualquer enredo, surgiu o estereótipo de todos os estereótipos; aquele que consegue ser um estereótipo dele mesmo: PELÉ. Todas essas coisas estão mais “demodé” do que a Rainha da Inglaterra e sua quase nobreza. O mundo não merecia uma festa de tanto mau gosto. O Brasil, muito menos. Parodiando o próprio Simonal, eu diria aos estrangeiros que se interessam por nossa cultura, muito para além dos passei os de turista: Se estão vindo para cá esperando por aquele tipo de coisa e estado de espírito…NEM VEM QUE NÃO TEM!

*É verdade que ele demonstrou uma presença em cena surpreendente. Já a cantorinha!!! Que maldade…Afogou-se nas ondas que tentou surfar!
**Naquele momento, vi que Simonal se tornara um inimigo de nossa cultura. Era dessa maneira que morriam as vítimas do Esquadrão da Morte que, como o BOPE, tinha a caveira como ícone. Depois, dei o desconto. Pobre Simonal! Tem o seu espaço na nossa história e cultura.

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