Arte e Cultura

SAPUCAÍ: DA GUINÉ À SUÍÇA, ROUBO, MENTIRA E COBIÇA- I

(Do Beija-Flor ao “Rola Bosta”, um “Lixão Moral” muito colorido e em neon!)

Márcio Amaral

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NOTA: havia escrito um texto criticando as manipulações e  manobras “globais” para controlar e tirar proveito de um desfile que já foi orgulho dos cariocas e brasileiros em geral. Para quem o assistiu, tudo parecia “organizado” em função de uma eventual vitória da Portela. Havia 3 grandes grupos de interesse disputando o butim—sim, pois o que vai resultar dali há de ser uma espécie de espólio, pois estão matando o desfile—: 1-GLOBO/PREFEITURA/ PORTELA; 2-SUÍÇA/GRANDES BANCOS/UNIDOS DA TIJUCA; 3-GANA/BICHEIROS/BEIJA-FLOR. Este último “consórcio” corria por fora e, ao lado das “doações quase oficiais”, deve ter havido muitas outras que movimentaram canetas para que carimbassem na “Beija”: “DEZ…NOTA DEZ!”. Estragou a festa Global. Foi tudo muito direto: uma linha reta ligando a “BEIJA-FLOR ao ROLA BOSTA”! Não sei na Guiné há elefantes, mas a Beija-Flor há de rolar essa B… por muito tempo.

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Se há um caminho direto para matar uma manifestação cultural, é sua submissão a interesses fora dela mesma. Afinal, a CULTURA deve ser um fim em si mesma! Sem ela, os seres humanos nem podem ser considerados propriamente assim. E que a Mídia seja apenas…mídia. Não é o que tem acontecido! Assim, por sua tentativa de tudo controlar diretamente, aGRANDE MÍDIA se transformou numa espécie de GRANDE MIDAS: tudo em que coloca a mão se transforma (em um primeiro momento) em OURO, para logo virar M….. mesmo. Mas, dessa vez, a GLOBO exagerou! RESULTADO: a transformação do OURO em M…foi imediata. Tudo submetido a interesses publicitários.

1- mudou o horário de início do desfile para 21/22:00 (antes às 20:00);

2- não transmitiu as primeiras (Viradouro e S. Clemente) e nem permitiu que outras emissoras o fizessem: suprema violência à cultura e à informação! O “prêmio de consolação”: apresentá-las em vídeo na madrugada só serviu para as humilhar mais ainda.

3- programou suas “queridinhas”: Mangueira e Portela (muito aduladas recentemente em esforço “global” de parecer ligada à tradição do samba) para o “horário nobre” de carnaval, por volta das 23:00. E outras mais que assinalarei no curso deste texto.

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portelaQue a PORTELA era a sua aposta, não havia dúvidas! O mesmo azul e até um trecho do samba cuja melodia lembrava o “No carnaval, no meio desse povo/A gente vai se ver na Globo”. Mas, se era mesmo assim, não deixava de haver ali algum talento especial. É muito difícil fazer referências e variações em torno de um tema sem meramente o repetir. E as expressões usadas pelos apresentadores para a elogiar o desfile! Aí foi tudo um pouquinho exagerado, para não dizer ridículo: “suntuoso, grandioso, opulento, majestoso, imponente…”! Faltavam qualificativos, mas eu só pensava: “enfatuado, pesado, opressivo: tudo tão distante do espírito carnavalesco!”. O “rio que passou na nossa vida”, por ali, afogou todo mundo, tornando totalmente impessoal aquele “mar de plumas”. Parecia haver um ambiente no qual não havia espaço para uma ressalva sequer. Todos tinham que dizer que estava linda e ninguém disse: “O REI ESTÁ NU”…quer dizer, com roupa demais! Poucas vezes, as “super-alegorias” passaram “escondendo gente bamba (Que covardia!)…” como na segunda de carnaval! Era raro se poder ver um rosto sequer. E se há algo que caracteriza as manifestações de massas no Brasil, é que as pessoas nunca se transformam em…massa propriamente dita. As individualidades estão sempre por ali, com seus sorrisos arrebatados e arrebatadores. E os abraços de Eduardo, C. Brown e Pezão! Tudo pesado como PEZÃO/PESÃO! Vai acabar em cima de papéis e sobre a mesa. Depois, ainda disseram que o carnavalesco ganhara a medalha Tiradentes pela escolha do tema! (450 anos do Rio)! Foi tudo arranjado e ainda veem com essa história. Acham mesmo que somos tolos! Pobre Tiradentes! Pobre comunidade portelense! E as baianas?! Coitadas! Quanto mau gosto na sua transformação em bolos de aniversário com velas e tudo! Foi demais! Talvez por isso quase não sorrissem, cantassem ou rodassem.

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E então, veio o máximo do artifício e mistificação: “E como está o ponteirinho da animação?”, alguém fez a pergunta. E apareceu um ponteiro nervoso, batendo na extremidade assinalada como incêndio (ou coisa parecida): “Está pegando fogo! A Portela incendiou a avenida! Desde ontem, é a primeira vez que isso acontece!”. Triste confissão! Curiosamente, NÃO MOSTRARAM UMA CENA SEQUER DAS ARQUIBANCADAS. A “animação” era toda virtual e apenas via internet! E eu, que não vi muito do desfile de domingo, pude imaginar que foichocho como ovo choco! E então, ficaram culpando a chuva pela desanimação do dia anterior*. Essa gente não sabe nada mesmo de carnaval! Desde quando a chuva acaba com a verdadeira animação em um desfile carnavalesco? Não faz tanto tempo assim, a Beija-flor conquistou um bicampeonato (2003) com o enredo “Manoa, Manaus, Amazônia, Terra Santa: Alimenta o Corpo, Equilibra a Alma e Transmite a Paz”, sob uma uma chuva danada….de boa! Dizia o samba: “Água que lava minh’alma ao matar a sede da população”.

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Baiana-bolo" gosta de samba, mas está cada dia mais difícil de rodar. Prestando bem atenção pode-se ver um rostinho perdido ali no meio. As baianas precisam de um grupo em sua defesa. Só na S. Clemente, 3 passaram mal e tiveram que sair do desfile
Baiana-bolo” gosta de samba, mas está cada dia mais difícil de rodar. Prestando bem atenção pode-se ver um rostinho perdido ali no meio. As baianas precisam de um grupo em sua defesa. Só na S. Clemente, 3 passaram mal e tiveram que sair do desfile

Mas no carnaval do artifício, a falsa animação não resiste a uma aguinha qualquer. Quem o definiu muito bem foi Eri Johnson em sua fala final: “Tem que conseguir fazer as pessoas cantarem nas arquibancadas e nos camarotes! Não pode só os figurantes (!) cantarem. É HORRÍVEL!”. Foi essa palavra que ele usou de verdade e eu fiquei imaginando o seu mal estar e os palavrões proferidos longe das câmeras. Sagrados palavrões, caso levasse a mudanças! QUE AMBIENTE, MEU DEUS! O ser humano pode ser obrigado a muitas coisas. Dostoiévski o definiu como aquele que se adapta a tudo (Recordações da Casa dos Mortor”), mas ninguém ainda conseguiu obrigar as pessoas à animação carnavalesca. Considerando que as pessoas na arquibancada estavam ali para servir de pura figuração (como em festas de Oscar), como esperar delas uma animação como aquela que vimos em tantos momentos nas ruas? Em alguns momentos, descia um tubo amarelo (na TV) que atirava um a gosma sobre a cabeça da assistência (a palavra é boa); dali a pouco, um carro passava numa rampa imaginária e em alta velocidade. Era tanta poluição que mais se parecia com um macacão de piloto da F1. Dirão uns: “Mas isso só era visto na TV!”. Já eu penso que a mão que “balançava o berço”, lá como cá, era a mesma. E seu efeito…desastroso. (CONTINUA)

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*Na “rodinha” final entre os apresentadores, um deles, um tanto dessintonizado com a época e falando do que esperava para outros desfiles, disse “Mas chuva nunca mais!”. Ao que respondeu Thiago Leifert, em uma frase um tanto estranha: “Que chova por aí afora, mas deixa a Sapucaí prá lá!”. Não precisa pedir! Já tem muita gente brasileira deixando a Sapucaí prá lá.

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O NOSSO SAMBA CONTINUA ISSO AÍ

(os versos entre parêntesis devem ser suprimidos em eventual nova gravação)

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O meu coração

Segue enfeitado

De confete e serpentina,

De um um sorriso que ilumina,

Herança dos grandes desfiles do passado.

E assim…

Bebendo na beleza que fascina,

Conquista, arrebata e dissemina

Alegria e emoção prá todo lado. E a imaginação!!?

E a imaginação

(Descolou prum velho estado)

Se refrescou fez-se menina

Resgatando sua pureza virginal

E por ser humana e divina

(Sem ter intrusão que contamina)

Vai sempre renovando o carnaval.

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Bum Bum Paticumbum Prugurumdum

O nosso samba continua isso aí.

BumBum…Paticumbum…Prugurumdum

Mas não quer saber do que vai na Sapucaí!

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O Esquindô lá lá, O Esquindô Lê Lê

O que ‘tão fazendo lá é só prá inglês ver

O Esquindô Lê Lê O Esquindô lá lá

Pode mandar rezar por alma, nunca mais vão me ver lá.

O Esquindô lá lá, O Esquindô Lê Lê

Agora é só poluição e artifício prá TV

O Esquindô Lê Lê O Esquindô lá lá

Se a Grande Mídia toma posse, é só prá espoliar.

 

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