Arte e Cultura

SENTIMENTO DE EXCLUSÃO: NA BASE DOS ATENTADOS!

(Paris…E a “Cidade Luz” está sendo tragada pelas trevas que ela mesma criou….!)

Márcio Amaral

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bar parisSe há uma tendência muito natural é a de pensar nos “inimigos”—especialmente quando pertencentes a grupos populacionais com história (religião, cultura…) muito diferentes—como membros de uma outra espécie; seres de outros planetas; “sobre” ou “infra humanos”, insensíveis, sem uma história, sem pontos em comum conosco,  “não abordáveis” e outros qualificativos sempre voltados ao aumentar o AFASTAMENTO. Gostaria de lembrar que ELES TAMBÉM TIVERAM MÃE* (observação de um detento diante do corpo de um morto, em “Recordações da Casa dos Mortos”, Dostoiévski)! Tudo isso reforça o desconhecimento mútuo, principalmente em relação às pessoas INDIVIDUALMENTE, o que é grande alimentador das hostilidades. E então, está formado um CÍRCULO VICIOSO, muito estimulado pela cobertura midiática espetaculosa. Logo, e por uma questão de LÓGICA: há uma retroalimentação do MAL que os governos (e seus serviços secretos) fingem tentar evitar. Mas…voltar-se apenas para a “segurança” a todo custo, é o caminho certo para que o problema apenas se agrave. Infelizmente, TODAS as mais propaladas políticas de segurança têm seguido nesse sentido. Um outro “efeito colateral”—considerado por alguns como o objetivo principal, na verdade—é a perda de direitos por parte das populações nos países ameaçados. Em vez das denúncias de E. Snowden e J. Assange terem causado uma comoção, a tendência tem sido à justificação daquilo que eles denunciaram. A submissão dos seres humanos às piores facetas do ESTADO (órgãos de segurança) é enorme…especialmente quando diante do pavor. Então…”PROVOQUEMOS O PAVOR!”, parecem dizer.

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Sei que vão me acusar de ingenuidade, desconhecimento a respeito de “questões de segurança”, etc. Em resposta, faço uma paródia com o pensador que afirmou: a guerra é algo sério demais para ser entregue a generais. O SENTIMENTO DE SEGURANÇA, HARMONIA E BEM ESTAR—imprescindíveis pelo menos como um projeto de vida, individual e coletiva a alcançar—é importante e sensível demais para ser entregue a pessoas que se preocupam APENAS com a “segurança” do pequeno grupo ao qual estão servindo naquele momento. Esses mesmo, aliás, como não têm PRINCÍPIOS  muito humanos, mudam rapidinho de lado, dependendo do dinheiro oferecido (vide ação a A. Saudita). É tão fácil compreender todo esse processo de agravamento progressivo da situação! Vejam a consequência natural do controle das sociedades por essas “pessoas ligadas à segurança” (já um tanto entortadas nos seus valores, mas têm seu papel, desde que não detenham o poder): 1-TENDEM A VER TODOS OS DE FORA O PEQUENO CÍRCULO COMO UMA AMEAÇA; 2- é isso o que alimenta o seu próprio poder e dinheiro; 3- daí a agirem com INICIATIVAS e PROVOCAÇÕES de hostilidade para com outros grupos, é quase inevitável (mantidas as premissas); 4- como as pessoas tratadas como de “outros grupos e/ou inferiores” também são seres dotados do senso do direito e DIGNIDADE, um mal estar permanente há de ser a consequência quase obrigatória. Assim, decorre um “envenenamento” do mais primitivo de todos os instintos humanos, o GREGÁRIO. Com isso, estará perdido um certo gosto de viver que só aqueles que são solidários para como os semelhantes (em geral e não só para com pequenos grupos) conhecem. 100% DE SEGURANÇA= 100% DE CHATICE, costumo dizer. E se o isolamento, junto a um grupo de “privilegiados” que olham para o “mundo do lado de fora” como quem está “cercado de inimigos por todos os lados”, pudesse funcionar, o APARTHEID da África do Sul teria sido um sucesso e a população israelense estaria vivendo hoje em paz e harmonia, apenas com as preocupações do dia a dia.

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POR QUE PARIS E NÃO BERLIM OU ESTOCOLMO? TUDO TEM UMA HISTÓRIA!

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correriaNenhuma outra cidade promete tanto e entrega tão pouco! Se você é daqueles que se satisfazem em viver “de passagem”, certamente não entenderá estas palavras. Se, além disso, não vai além dos pontos turísticos e adora macaquear aquilo que a GMídia e as agências de viagem apresentam como “Paris”, está vivendo uma vida de “folhetim”. E a vida não vai demorar para transformar todo esse “folhetim”, subitamente, na pior das tragédias. Há muita gente que continua repetindo por lá: “Então…deem-lhes brioches!”. Sinto-me completamente ligado à cultura francesa, mas sei também que quase todos os seus artistas, poetas e escritores (os que mais aprecio, pelo menos: Baudelaire, Stendhal, Maupassant e outros) foram perseguidos pelos ascendentes dos que continuam no poder por lá. Minha solidariedade ao povo francês e à sua cultura nunca descamba para louvação a BANDEIRAS, HINOS ou BRASÕES. Por isso, a tal campanha, que canta hinos de guerra e acena com bandeiras tricolores, é totalmente contraproducente: reforça a exclusão. Nada demonstra mais esse SENTIMENTO DE EXCLUSÃO do que o fato de os ataques se terem dado nos típicos locais de diversão e em uma sexta-feira à noite.

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Paris está cheia de pessoas cuja marca é o sentimento de NÃO PERTENCIMENTO A QUALQUER CULTURA. Um dia acreditaram nas belezas que lhes mostraram, para, logo depois, ouvir:“Isso não é para você…um cidadão (?) de segunda classe!”. . Quanto contraste! Quanta humilhação! E tudo resulta no “…Aux armes citoyen…”. Daí ao apocalipse—sim, pois os próprios atacantes se atiraram no abismo—é apenas um passo. Mas tudo podia piorar ainda mais. Havia ainda um TRIPUDIO a ser realizado. Os horrores—para os religiosos, pois para mim eram apenas ridículos—do “Charlie Hebdo” não faziam jus sequer ao tão propalado bom gosto francês. Aquilo era apenas a expressão da pior das decadências: a que se alimenta da desmoralização dos mais fracos. E o povo os macaqueou: “Eu sou Charlie”! Perdemos todos uma grande oportunidade para uma reflexão! Mas o tripudiar podia ser ainda pior: os líderes ocidentais costumam dizer, diante dessas situações: “Não conseguirão destruir o nosso modo de vida!”. E, no entanto, desde as CRUZADAS, é o ocidente que tem feito tudo para violentar o modo de vida de outros povos! Hitler, um europeu, era mestre em atribuir aos inimigos as suas próprias perversões e intenções.
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RESPOSTA: Talvez porque em Berlim e Estocolmo—que têm comunidades muçulmanas quem sabe maiores em proporção—essas comunidades conseguiram criar um ambiente onde as expressões de sua cultura acontecem. Por isso, as pessoas conseguiriam manter o sentimento de “PERTENCIMENTO” a uma cultura. Sem isso, a vida não vale nada. Como “recarregar pilhas”? (ver a fala de um terrorista abaixo). E então, o passo seguinte passa a ser: arranjar “bons motivos” (“elevados” e não mesquinhos e contábeis, como no capitalismo) para morrer. Como não ser tocado pela fala de uma mãe sobre o drama de seu filho prestes explodir como se fosse uma “panela de pressão”?*.
CONTINUA

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bilal*A mãe de Bilal Hadfi, um dos terroristas suicidas…afirmou (em 3 de novembro em entrevista) que tinha medo de que seu filho de 20 anos fosse “explodir de um dia para o outro” (“La Libre Belgique”)….Seu pai faleceu há oito anos e está enterrado no Marrocos…De nacionalidade francesa, Hadfi vivia com sua família na Bélgica…O jovem viajou subitamente (Síria) fingindo ter ido ao Marrocos para “recarregar as baterias” e visitar o túmulo de seu pai...A mãe relatou que, na última visita, seu filho não se comportou como sempre. Tinha “os olhos vermelhos e me abraçou“… Fátima está convicta de que ele “sabia que era uma viagem sem volta”…deixou “de fumar e jejuou nas segundas e quintas para pedir perdão a Deus”…Mas a mãe via como positivo que ele se arrependesse e deixasse o álcool e a drogas. Uma ex-professora..afirmou à rede de TV que depois do ataque à “Charlie Hebdo”, Hadfi defendeu o atentado, argumentou que os “insultos à religião” deveriam parar…Já na Síria…teria dito…que na Bélgica “não tinha um lugar”… pediu a sua mãe que se unisse a ele…Queria que ela rompesse todos os laços com o “país dos infiéis”.

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