Arte e Cultura

UM FANTÁSTICO E GLOBAL “ESGOTO SEMANAL”!

(…E A “REDE LOBO” SE ENREDOU NA PRÓPRIA REDE!)

Márcio Amaral

A “REDE” cometeu um grande erro! Em vez de atacar apenas algumas pessoas da UFRJ—a partir de muito levianas acusações—não conseguiu esconder sua intenção de atacar a própriaINSTITUIÇÃO UFRJ. Vai perder. As pessoas, individualmente, e especialmente quando honestas, são muito frágeis frente a calúnias: “Calomniez, calomniez, il en resterá toujours quelque chose!” (“Caluniem…Caluniem...qualquer coisa sempre ficará”-Voltaire). Já a Instituição UFRJ é inabalável e muito amada por esse Brasil afora. Quem, que pessoa honesta, não se abalaria com a ameaça de uma calúnia em Rede de TV? Todos conhecem a tendência muito humana a acreditar em acusações desse tipo! A princípio, pelo menos. Desde muito tempo, foi assim que grupos, eles sim, sem qualquer escrúpulo, mantiveram reféns pessoas honestas, explorando-as (ver Dostoiévski “O Adolescente”*).

Em pelo menos duas oportunidades A “REDE” não conseguiu deixar de mostrar suas intenções malévolas para com a UFRJ como Instituição, mas dois fatos o demonstram de maneira cabal:

1-Na manchete do seu jornal (18/11), podia-se ler “UFRJ INVESTIGADA…”. Quem quiser que atribua essas palavras a um “escorregão verbal”, mas elas estão ali para quem as quiser bem entender. Investigadas são pessoas e não instituições, especialmente as públicas. Pode haver, nesses casos, uma investigação NA instituição. Quando uma instituição é investigada, isso implica dizer que são “empresas de fachada”—redes de lavagem de dinheiro, por exemplo—criadas com um fim criminoso. Fomos nivelados a esse tipo de coisa É O QUE ESTÁ ESCRITO, E NÃO SOMENTE IMPLÍCITO, NA MANCHETE INTERNA DO JORNAL. A malícia deles é muito sutil. Precisamos exercitar a nossa sutileza.

2-A “notícia”, evidentemente falsa, de “ofensas racistas”, por parte de uma Professora a uma aluna, veiculada por três dias e sem que fosse ouvida a outra parte: GRANDE JORNALISMO! A nota especial, foi que o “pontapé inicial” (quase literalmente) foi dado na Coluna do Ancelmo, o que implica um “investimento” considerável do jornal: uma espécie de preparação “para uma série semanal”. Quem sabe não desembocaria também em um certo “ESGOTO” DO FINAL DA SEMANA, que atende pelo nome “FANTÁSTICO”? No caso, entretanto, a Rede se enredou completamente. Seu ódio não os deixou ver que a participação de uma instituição portuguesa trazia à discussão uma voz completamente neutra e acima de qualquer suspeita para um esclarecimento indiscutível. Agora, calaram-se completamente. Eles são os irresponsáveis, pois nunca respondem pelo que fazem. Pobre colega! Talvez seu “erro” tenha sido um excesso de generosidade! Quem sabe não se esforçou para investir demais em quem, depois, tentaria apunhalá-la pelas costas?! Antes que me acusem, essa é somente uma reflexão ociosa.

De repente, dei-me conta: o Fantástico é uma espécie de combinação entre: o “esgoto semanal” (moral) das “porcarias” veiculadas por eles durante a semana anterior e um “processador do lixo” (moral) a ser “reaproveitado” na semana entrante. Depois me lembrei, ainda, das “gordurinhas do Ronaldo” e pensei: quem sabe uma “caixa de gordura”? De qualquer maneira, cada uma dessas denominações não estaria muito longe da verdade, no sentido da MORAL**. E assim, vão acuando as pessoas e fazendo com que entrem para o rol das “aduladoras da REDE”. Então, a pessoa passa para a “categoria GENTE BOA“. Dentre esses, os mais famosos ganharão “notinhas” nas colunas sociais; os “menos”, terão seu nome lido pelo Faustão na dedicação das “Videocassetadas”. E a glória estará alcançada! A “REDE” já teve algum bom gosto. Hoje, está cada dia mais “cafona” e ridícula.

De minha parte, estou convencido de que há duas intenções específicas norteando esses ataques:

1-eliminar a única força crítica (ativa e insubmissa) da sociedade contra os seus desmandos, veladamente acordados com o prefeito do RIO.

2-Associar-se–e ser a porta-voz—das grandes corporações que lançam “olho grande” sobre nossos campi. Por uma feliz coincidência, estamos fundeados e a postos nas áreas mais valorizadas da cidade, vistas sempre como “áreas vazias e não aproveitadas”. É como pensam e agem em relação a todas as áreas DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL e/ou DE USO PÚBLICO E HUMANO…. Aliás, quando ouvem essa palavra, devem ter um impulso semelhante ao de Goebbels, ao ouvir a palavra CULTURA: “Ponho a mão na minha pistola”. Informando-me melhor sobre o desrespeito aos pescadores de Magé (documentário exibido na Band), a partir da invasão das sua áreas ancestrais de pesca pela indústria petroleira, pensei “Quem sabe não seremos os próximos?”. Há muitas maneiras, mais ou menos sutis, de achacar pessoas e instituições.

Por muito tempo, vários de nossos administradores acharam que seria interessante uma “parceria” com a Petrobrás; que nossas duas grandes Instituições, muito brasileiras, entender-se-iam bem e que engrander-se-iam mutuamente (entendam essa sintaxe como deboche à solenidade que aplicam nas solenidades de assinaturas de acordos). Ledo engano! Diz ditado chinês: “Se você tentar montar no dorso de um tigre, certamente vai acabar no seu estômago”. Corremos o risco de expulsão (ou expurgo, segundo o olhar deles) de nossa própria casa…mas lenta e sutilmente. Quando o ovo do CUCO eclode, o nascituro derruba os ovos originais do ninho. Quem se lembra de que, em um terreno nosso, deixamos edificar um restaurante, o “Couve Flor”, que, por um bom tempo, fez um acordo com a Petrobrás implicando o privilégio de seus funcionários não entrarem em filas (dizem que no estacionamento também)? A situação humilhante que resultou foi: enquanto os funcionários da UFRJ enfrentavam uma fila enorme, os da Petrobrás passavam direto com seu cartão “quase VIP”. Por mera aplicação de lógica: se há os VIP, há também os “nada VIP”. Um dia, um colega levou um estrangeiro para lá e ficou com “cara de tacho” ao ser indagado quanto ao porquê da discriminação. Isso foi sanado, mas alguns dizem que somente por “problemas operacionais”. Que tenhamos aceito, ainda que por um tempo, essa situação, é de envergonhar.

Mas a maior expressão de alienação e ingenuidade, em todo esse “imbroglio”, foi a fala de alguns colegas do HUCFF: “com a EBSERH seremos elevados a um ‘status’ semelhante ao da Petrobrás; nossos funcionários terão direito às mesmas regalias dos funcionários da Estatal” (não é o que eles mesmos dizem dessa relação). Esquecem-se de que, enquanto uma investe para retirar de baixo do solo a maior de todas as riquezas materiais, nosso papel é “apenas” (do ponto de vista da economia) manter a mão de obra em condições de produzir (antes de ir para debaixo do solo). Para eles, as pessoas são apenas descartáveis (mão de obra, consumidor, contribuinte…). Para nós, um fim em si: um INVESTIMENTO sem qualquer expectativa de “retorno financeiro”. Como, nesse jogo, as pessoas “valem pouco”, quem com elas trabalha e trata também não é valorizado. Essa é a equação perversa contra a qual temos que lutar.

DO QUE PRECISAMOS? DE UM NEGOCIADOR QUE CONHEÇA O JOGO DO PETRÓLEO NO MUNDO E POR DENTRO DE SUAS ENTRANHAS!

Seria tolo achar que poderíamos expulsar essas empresas que, lenta e, inevitavelmente, tentarão nos “estrangular”. Aquilo de que precisamos, é de um negociador muito agressivo; que conheça os valores que se praticam nesse tipo de mercado; que conheça bem as artimanhas que costumam aplicar; que tenha participado das coisas terríveis que essa indústria pratica pelo mundo afora e se decepcionado, como alguns dos promotores das piores chacinas de animais em safaris na África que se tornaram seus grandes defensores. Somente assim, receberíamos o que nos é devido há tanto tempo.

Essa pessoa existe? Não sei, mas esse seria o perfil que eu consideraria o ideal. De uma coisa estou certo: nós, pessoas ligadas à vida intelectual; que saboreamos prazeres muito mais verdadeiros e intensos do que essa perversão de só pensar em numerário e expansão; que somos generosos e tendentes a abrir mão de aparentes caprichos; que nos acostumamos ao papel de “primos pobres” e temos aceitado uma remuneração aviltante, não somos as melhores pessoas para esse tipo de negociação. Os valores aplicados passam muito para além das nossas medidas habituais. Posso até imaginar como os executivos dessa área riem de nossa ingenuidade! Não nos interessa trocar de lugar. Só uma deficiência grave, e em muito setores da vida, pode levar alguém a buscar esse tipo de poder, mas há que exigir deles os valores que costumam pagar em contratos semelhantes e em outras terras.

Por ora, e em toda essa situação, estou absolutamente certo de que é na solidariedade aos pescadores de Magé que haveremos de nos reencontrar com os nossos maiores valores. É assim, também, que as sociedades exercitam uma espécie de “saúde social”: através da solidariedade para com seus entes mais frageis, os doentes mentais, as crianças, os deficientes e outros. Fazendo com que parem as agressões cometidas contra aqueles brasileiros, e participando da garantia dos seus direitos, estaremos exercitando nossos “músculos” para lutar por nós mesmos. Demonstraremos, ainda, que nosso entorno não é um quintal onde, valendo-se da força, as Companhias Petrolíferas, e outras, podem repetir o que fazem na Nigéria, por exemplo. Lembram-se da tese do domínio do fato***? Pois bem, se, para a condenação penal, sua aplicação é extremamente perigosa, em relação aos interesses empresariais, é totalmente aplicável, especialmente quando uma empresa se beneficia da perpetração de crimes continuados, ainda que por pessoas com as quais não tenha ligação direta.  

*”Lambert pertencia a um desses ignóbeis bandos que se associam para execução de chantagem…seu traço mais característico consistia em descobrir segredos de homens e mulheres, por vezes muito honestos e altamente colocados;…ameaçavam publicar certos documentos, exigindo dinheiro em troca do silêncio. Sua preferência era por segredos de família…”

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**Quando, em 2008, promoveram a “convergência das Mídias na produção e divulgação de notícias”, cunhando a expressão “Muito além do papel de um jornal”, estavam dando mais um passo no esforço para controlar toda sociedade. Afinal, que “para além” há de ser esse senão Poder e Dinheiro? Ou alguém acha que haveria de ser: enriquecimento cultural da população; fornecimento de material isento às pessoas, de maneira a permitir a formação de um juízo crítico mais profundo e individualizado; promoção de grandes debates…? Um jornal isento é algo tão elevado, que qualquer “acréscimo” (para além) ao seu papel implica violência contra os princípios que o deveria reger.

***A Petrobras tem dado motivos para que nos orgulhemos dela, mas não consegue deixar de ser uma petroleira. E as petroleiras são de uma agressividade impressionante! Sua expansão da Baía da Guanabara tem gerado pressão insuportável sobre pessoas—cujos ancestrais por ali vivem há séculos—levando até a tortura e assassinatos de pescadores e seus líderes.

1 Comment

  1. Excelente , Márcio ! Sua análise do papel da Rede Globo está perfeita . Pena que muuuita gente não entenda a necessidade de uma Lei de regulamentação da Mídia .

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